São Paulo, terça-feira, 22 de maio de 2007

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Datas de depósitos coincidem com diálogos no Maranhão

Dados de pagamento à Gautama confirmam parte das conversas sobre propina

Para secretário, construir pontes antes de rodovia foi uma forma de o governo "forçar a barra" para obter a pavimentação da estrada


Lula Marques/Folha Imagem
O governador do Maranhão, Jackson Lago (PDT), em Brasília


ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A SÃO LUÍS

Dados extraídos do Siafem (Sistema Integrado para Administração Financeira para Estados e Municípios) do Estado do Maranhão, com valores e datas de pagamento à Construtora Gautama, confirmam pelo menos parte dos diálogos envolvendo negociações de propina captados pela Polícia Federal na Operação Navalha.
De acordo com o Siafem, o Estado pagou R$ 25,445 milhões à Gautama no ano passado e R$ 6,12 milhões neste ano, com base em um contrato para construção de 119 pontes, assinado em 2004. A Folha revelou que o contrato teria sido superfaturado em R$ 63 milhões, segundo documento entregue ao Ministério Público Federal.
Os pagamentos deste ano referem-se a pontes em um trajeto da BR-402 ainda a ser construído. Sem a rodovia, as pontes ligam nada a coisa alguma.
A maior parte da verba saiu do Tesouro estadual, mas também houve repasse de recursos federais, oriundos da Cide, contribuição sobre combustíveis para manutenção de estradas. O uso de verba federal justifica essa investigação da Polícia Federal.

"Caloi"
No dia 13 de julho de 2006, Geraldo Magela Fernandes da Rocha, ex-assessor do então governador José Reinaldo Tavares (PSB), informou ao empresário Zuleido Veras, dono da Gautama, que sairia naquele dia a ordem bancária para pagar à empresa e pede para ele se lembrar da "caloi" -segundo a PF, "caloi" significava dinheiro.
De fato, no dia 14 de julho, o governo emitiu a ordem bancária de número 1153, no valor de R$ 1.639.964,87. O dinheiro foi creditado na conta da Gautama na agência do Bradesco do Palácio dos Leões (onde fica o gabinete do governador).
Há coincidência entre várias datas de depósitos efetuados em nome da empresa, pelo Estado, com diálogos captados pela Polícia Federal.
Foram emitidas 12 ordens de pagamento para a Gautama no ano passado, sendo três em abril, duas em julho, uma em agosto e outra em setembro (as maiores, cada uma acima de R$ 5 milhões), uma em outubro e quatro em dezembro.
Neste ano, foram quatro pagamentos: R$ 2,96 milhões no dia 9 de março e três pagamentos em abril: R$ 492,85 mil (dia 2), R$ 1,49 milhão (dia 25) e R$ 1,17 milhão, também no dia 25. Os pagamentos referem-se também à construção de pontes contratadas em 2004.

Outro lado
O secretário da Casa Civil, Aderson Lago, confirmou que o governo atual desembolsou R$ 6,12 milhões em pagamentos à Gautama, em referência à construção de pontes no trajeto da BR-402.
O secretário afirmou que houve uma avaliação do serviço em dezembro (no valor de R$ 3,4 milhões) e que depois foi feita a medição definitiva e o reajuste do valor.
Indagado sobre a razão de o governo construir pontes antes de ser aprovada a construção da rodovia, Lago disse acreditar que foi uma forma de o governo estadual "forçar a barra" para conseguir a pavimentação da estrada.


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