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Datas de depósitos coincidem com diálogos no Maranhão
Dados de pagamento à Gautama confirmam parte das conversas sobre propina
Para secretário, construir pontes antes de rodovia foi uma forma de o governo "forçar a barra" para obter a pavimentação da estrada
Lula Marques/Folha Imagem
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O governador do Maranhão, Jackson Lago (PDT), em Brasília |
ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A SÃO LUÍS
Dados extraídos do Siafem
(Sistema Integrado para Administração Financeira para Estados e Municípios) do Estado do
Maranhão, com valores e datas
de pagamento à Construtora
Gautama, confirmam pelo menos parte dos diálogos envolvendo negociações de propina
captados pela Polícia Federal
na Operação Navalha.
De acordo com o Siafem, o
Estado pagou R$ 25,445 milhões à Gautama no ano passado e R$ 6,12 milhões neste ano,
com base em um contrato para
construção de 119 pontes, assinado em 2004. A Folha revelou
que o contrato teria sido superfaturado em R$ 63 milhões, segundo documento entregue ao
Ministério Público Federal.
Os pagamentos deste ano referem-se a pontes em um trajeto da BR-402 ainda a ser construído. Sem a rodovia, as pontes ligam nada a coisa alguma.
A maior parte da verba saiu
do Tesouro estadual, mas também houve repasse de recursos
federais, oriundos da Cide,
contribuição sobre combustíveis para manutenção de estradas. O uso de verba federal justifica essa investigação da
Polícia Federal.
"Caloi"
No dia 13 de julho de 2006,
Geraldo Magela Fernandes da
Rocha, ex-assessor do então governador José Reinaldo Tavares (PSB), informou ao empresário Zuleido Veras, dono da
Gautama, que sairia naquele
dia a ordem bancária para pagar à empresa e pede para ele se
lembrar da "caloi" -segundo a
PF, "caloi" significava dinheiro.
De fato, no dia 14 de julho, o
governo emitiu a ordem bancária de número 1153, no valor de
R$ 1.639.964,87. O dinheiro foi
creditado na conta da Gautama
na agência do Bradesco do Palácio dos Leões (onde fica o gabinete do governador).
Há coincidência entre várias
datas de depósitos efetuados
em nome da empresa, pelo Estado, com diálogos captados
pela Polícia Federal.
Foram emitidas 12 ordens de
pagamento para a Gautama no
ano passado, sendo três em
abril, duas em julho, uma em
agosto e outra em setembro (as
maiores, cada uma acima de
R$ 5 milhões), uma em outubro
e quatro em dezembro.
Neste ano, foram quatro pagamentos: R$ 2,96 milhões no
dia 9 de março e três pagamentos em abril: R$ 492,85 mil (dia
2), R$ 1,49 milhão (dia 25) e
R$ 1,17 milhão, também no dia
25. Os pagamentos referem-se
também à construção de pontes contratadas em 2004.
Outro lado
O secretário da Casa Civil,
Aderson Lago, confirmou que o
governo atual desembolsou
R$ 6,12 milhões em pagamentos à Gautama, em referência à
construção de pontes no trajeto da BR-402.
O secretário afirmou que
houve uma avaliação do serviço
em dezembro (no valor de
R$ 3,4 milhões) e que depois foi
feita a medição definitiva e o
reajuste do valor.
Indagado sobre a razão de o
governo construir pontes antes
de ser aprovada a construção
da rodovia, Lago disse acreditar
que foi uma forma de o governo
estadual "forçar a barra" para
conseguir a pavimentação da
estrada.
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