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"O Amante" narra biografia de Duras
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
As 96 páginas de "O Amante",
de Marguerite Duras, fazem deste
romance o menor entre os 30 títulos que a Biblioteca Folha leva às
bancas até dezembro. A magreza
física do livro, que começa a ser
vendido hoje, não faz dele um livro magro.
Escrito em tons frios, como um
relato de quem espia de longe, o
trabalho mais célebre de Duras
esconde por trás dessa casca uma
passionalidade caudalosa.
Publicado originalmente em
1984, quando a escritora já completava 70 anos como uma autora
de boa reputação na França, "O
Amante" revela que Duras teve
uma adolescência bem mais turbulenta do que seu livro de estréia, de 1950, fazia supor.
Nos dois, a autora leva seus leitores para a Indochina, onde ela
nasceu (no hoje Vietnã) e viveu
até o início da vida adulta. Mas só
em "O Amante" Duras entra com
os dois pés nos seus fantasmas: as
grandes dificuldades familiares e
seu polêmico caso com um chinês
uma década mais velho do que
seus "15 anos e meio".
Autora de constante interface
entre o que viveu e seus temas ficcionais, ela narra como sua relação com o amante sem nome, que
a seduziu com sua fortuna (contraposta à miséria por que passava a família de Duras), se aproximava da prostituição. A escritora
externa seu desejo pelo homem
que a apresentou ao sexo, mas
completa: "Digo que o desejo tanto quanto ao seu dinheiro".
Ironicamente, "O Amante"
trouxe o grande dinheiro a Duras.
Dinheiro, fama, prestígio internacional. Venceu o Goncourt, principal prêmio francês, vendeu mais
de 3 milhões de exemplares, deixou o "gueto" de autora experimental para ganhar a massa.
Duras morreu em 96. Deixou de
herança as cicatrizes nada magras
das 96 páginas de "O Amante".
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