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SOCORRO A BANCOS
Marco Aurélio de Mello critica o fato de o presidente do Supremo ter restabelecido a prisão do dono do Marka
Soltura de Cacciola causa conflito no STF
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O vice-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Marco
Aurélio de Mello, afirmou ontem
estar "convencido do acerto" da
sua decisão de determinar a libertação do dono do banco Marka,
Salvatore Cacciola, e criticou o fato de o presidente do STF, Carlos
Velloso, ter restabelecido a ordem
de prisão cinco dias depois.
"A autofagia que acabou sendo
praticada no seio no Supremo,
com uma pseudo-retratação (da
decisão dele, por parte de Carlos
Velloso), implicou um desgaste
desnecessário ao tribunal", disse
Marco Aurélio.
Marco Aurélio cassou a ordem
de prisão preventiva de Cacciola
no último dia 14, após ele ficar 37
dias detido em presídio no Rio de
Janeiro. Na última quarta-feira,
Velloso acolheu pedido de reconsideração dessa decisão, apresentado pelo procurador-geral da
República, Geraldo Brindeiro.
Para Marco Aurélio, essa situação "gera descrédito na instituição (o Judiciário)". Na opinião do
ministro, as pessoas em geral desconhecem que os despachos do
STF são de diferentes ministros.
Segundo ele, Velloso não deveria ter reconsiderado uma decisão
que não era de sua autoria, porque não está "hierarquicamente"
superior. Marco Aurélio lembrou
que ambos examinaram o caso
em nome do Supremo, durante o
recesso da Justiça. Ele considerou
que Velloso deveria ter aguardado o retorno dos outros ministros
para submeter o caso ao plenário.
O presidente do STF, Carlos Velloso, informou, por meio de sua
assessoria de imprensa, que não
comentaria as declarações.
Tanto Marco Aurélio de Mello
como Carlos Velloso foram nomeados para o Supremo em 1990
pelo então presidente Fernando
Collor de Mello. Marco Aurélio é
primo de Fernando Collor.
Fuga
O vice-presidente do Supremo
disse que, ainda que soubesse da
possibilidade de Cacciola viajar
para o exterior imediatamente
após a libertação, concederia a liminar suspendendo a prisão até o
julgamento de um habeas corpus
movido por seus advogados no
TRF (Tribunal Regional Federal)
da 2ª região, no Rio de Janeiro.
"Continuo convencido do acerto da minha decisão. Mesmo se tivesse sido alertado na época sobre
aspectos como a viagem, não deixaria de dar a decisão", declarou o
ministro. Ele disse que, naquele
momento, considerou remota a
possibilidade de fuga.
No despacho concedendo o habeas corpus, ele afirmou: "De início, qualquer acusado pode evadir-se... É certo que o paciente é de
nacionalidade italiana, sendo naturalizado brasileiro. Todavia
possui raízes no país, para aqui
tendo vindo em tenra idade e se
estabelecido, constituindo família
e se projetando no campo profissional escolhido".
Marco Aurélio disse que o risco
de "viagem sem volta ao exterior"
poderia ser neutralizado por outros meios, como a atuação da polícia de portos.
Ontem, ao explicar a decisão, ele
disse que a prisão preventiva é
uma medida "excepcionalíssima", que não deve ser usada como aplicação antecipada da pena
de condenação, porque a Constituição estabelece que ninguém será considerado culpado antes de
sentença definitiva.
Segundo o ministro do STF, se a
Justiça fosse considerar o risco
maior de fuga de estrangeiros, teria que decretar a prisão preventiva de todas as pessoas nascidas
em outro país e processadas criminalmente no Brasil.
Marco Aurélio afirmou que a
prisão preventiva é um instrumento previsto para ser utilizado
em casos excepcionais, quando
há, por exemplo, alta periculosidade do acusado ou indícios de
que ele estaria obstruindo a investigação judicial.
O ministro disse que acredita no
retorno de Cacciola, mas afirmou
que o restabelecimento da ordem
de prisão poderá atrasar a volta.
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