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MÍDIA
Juiz é o mesmo que condenou assassinos de Chico Mendes
Jornal de Rio Branco recorre ao TSE para evitar censura judicial
MAURO ALBANO
DA AGÊNCIA FOLHA
O jornal ""A Gazeta", de Rio
Branco, enviou advogado ao TSE
(Tribunal Superior Eleitoral) para
tentar reverter a decisão da Justiça
Eleitoral local que vetou o noticiário sobre as eleições em toda a imprensa da capital do Acre.
Acusando os meios de comunicação locais de "baixar o nível" do
noticiário, o juiz Adair José Longuini, 47, da 1ª Vara Civil de Rio
Branco, proibiu os jornais e as
emissoras de rádio e TV locais de
divulgar qualquer notícia sobre as
eleições municipais há um mês.
A Justiça Eleitoral, baseada nas
determinações do juiz, já multou
quatro jornais e duas emissoras
de TV por publicarem entrevistas
ou declarações de candidatos à
prefeitura. Somadas, as multas
chegam a R$ 220 mil.
Longuini justifica sua posição
afirmando que a mídia local é
muito ligada a grupos políticos.
"A imprensa quer plena liberdade
para conquistar a simpatia de algum candidato", disse.
"Estavam sendo divulgadas entrevistas em que certas candidaturas eram atacadas e outras, enaltecidas. Isso não pode no processo
eleitoral. Os jornais estavam fazendo propaganda de graça."
Segundo Longuini, que foi designado juiz da propaganda eleitoral de Rio Branco há um mês, as
eleições municipais devem se restringir a anúncios pagos, ocupando no máximo um oitavo de página, no caso da mídia impressa, e à
propaganda eleitoral gratuita, no
caso de rádios e televisões.
Nos espaços destinados ao noticiário político, os jornais estão
publicando receitas de bolo ou
deixando as páginas em branco.
"Quando se proíbem entrevistas,
propostas de governo e artigos de
opinião, estamos vivendo sob
censura", disse Sílvio Martinello,
50, diretor-geral de "A Gazeta".
Em sua coluna de ontem, ele protestou publicando a receita da "farofa com bunda de tanajura".
A exemplo do que ocorria na
época mais dura da censura militar, na década de 70, jornais locais
vêm publicando receitas no espaço editorial destinado à política.
"Os juízes e promotores daqui
não conhecem o funcionamento
de um jornal. Confundem opinião com notícia e com publicidade." Martinello acredita que candidatos com maior poder econômico acabarão sendo favorecidos.
Até agora, segundo o jornalista,
apenas os candidatos Flaviano
Melo (PMDB) e Raimundo Angelim (PT) publicaram anúncios pagos. José Bestene (PTB) e Antônio
Gouveia (PRTB) teriam desaparecido das páginas por não poderem pagar pela propaganda.
Para o advogado Arnaldo Malheiros, especialista em direito
eleitoral, o juiz Longuini está errado. "Não existe censura de imprensa. Para evitar um abuso, o
juiz está cometendo um abuso
ainda maior", disse.
""Essa postura me surpreendeu
por ter vindo de uma pessoa com
o histórico do juiz Longuini", disse Martinello. Longuini foi responsável, em 1991, pela condenação de Darly Alves e Darci Pereira,
assassinos do sindicalista Chico
Mendes.
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