São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 2002

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Partido não deve apoiar Ciro Gomes porque PFL já embarcou primeiro na campanha da Frente Trabalhista

CAMPANHA

Se Serra não decolar, PMDB fica com Lula

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao contrário de seções estaduais do PFL e do PPB que ameaçam rever o apoio a José Serra (PSDB) devido à subida de Ciro Gomes (PPS) nas últimas pesquisas, o PMDB continua firme com o tucano. Discretamente, porém, discute o que fazer num eventual segundo turno Lula-Ciro.
A Folha apurou que, hoje, a tendência majoritária na cúpula é pró-PT. Se Ciro demonstrar enorme vantagem sobre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas simulações de segundo turno, a tendência é liberar cada liderança nacional, estadual e municipal a seguir o caminho que desejar. Essa avaliação não será feita publicamente, porque o PMDB jogará pesado para tentar levar Serra ao segundo turno da eleição presidencial.
Mas os dirigentes do partido já têm data para fazer uma análise mais precisa sobre quem deverá estar no segundo turno. Um cacique diz que, passados 20 dias da propaganda de TV, ficará claro se Serra conseguirá chegar lá.
Se o candidato do PPS mantiver o segundo lugar com sete a oito pontos percentuais acima de Serra, ficará difícil segurar prefeitos e candidatos a deputado e a senador, que escolheriam na reta final a canoa de Ciro ou de Lula. Só a cúpula do PMDB, grupo que bancou a aliança com o PSDB, ficaria no barco serrista. Os três principais fatores que tornam mais provável um acerto com o PT são:
1) divergências regionais: a avaliação da cúpula é que adversários políticos de dirigentes peemedebistas, sejam eles do PFL ou do PSDB, chegarão primeiro ao barco de Ciro. É o caso de Antonio Carlos Magalhães, cacique pefelista da Bahia que é inimigo mortal do deputado federal peemedebista Geddel Vieira Lima (BA), um dos mais fiéis serristas.
Outro exemplo é o tucano Tasso Jereissati, um crítico duro da parcela de poder que o PMDB teve nos anos FHC. Tasso era o tucano que poderia ser candidato a presidente em aliança com o PFL. O PMDB sempre preferiu Serra.
Tasso será forte num eventual governo Ciro, uma espécie de fiador da governabilidade e interlocutor empresarial. Na campanha cirista, é lembrado para ministro da Fazenda ou chefe da Casa Civil. O presidente do PFL, Jorge Bornhausen, que rompeu com o governo, é outro nome cotado para o ministério. Também é lembrado para a Casa Civil.
O próprio Ciro é crítico duro do PMDB. Ataca Serra lembrando que o tucano apoiou a eleição de Jader Barbalho para presidente do Senado. Jader renunciou ao posto e ao mandato devido a acusações de envolvimento em irregularidades no caso da extinta Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia);
2) base parlamentar: além da indisposição entre aliados de peso de Ciro e dirigentes do PMDB, há também a avaliação peemedebista do chamado "atacado político". Se o candidato do PPS chegar ao segundo turno e Serra ficar pelo caminho, já que Lula parece ter uma das duas vagas assegurada, parcela expressiva do PSDB e a fatia do PFL que está com o tucano serão candidatas a formar o núcleo de sustentação de Ciro, ao lado das legendas da aliança. Ou seja, um governo Ciro teria PPS, PDT e PTB mais PSDB e PFL como siglas de sustentação. Nesse caso, o PMDB estaria sujeito a ser canibalizado, com Ciro estrangulando o poder dos peemedebistas inimigos de seus aliados;
3) avaliação sobre o PT: a menos que Ciro Gomes se torne uma onda tão forte que mostre que Lula será esmagado no segundo turno, a cúpula vê vantagens em um acordo com o petista.

Reta final
O mais importante a oferecer ao PT é o apoio de dirigentes estaduais na reta final da eleição e a força congressual para dar sustentação a um eventual governo Lula no Legislativo. Assim, o PMDB seria o partido que garantiria ao PT o núcleo de sustentação parlamentar, ajudando os petistas a atrair um setor do PSDB.
Na avaliação da cúpula tucana, a base do eleitorado do PSDB ficaria com Ciro, se Serra não chegar ao segundo turno. Mas FHC e Serra tenderiam a apoiar o PT.
O presidente repetiria o comportamento do ministro Pedro Malan (Fazenda) na eleição para o governo do Distrito Federal em 1998. Malan não assumiu publicamente, mas vazou por assessores e interlocutores que preferia o petista Cristovam Buarque a Joaquim Roriz, peemedebista que acabou eleito governador.
Mais: dirigentes peemedebistas que boicotaram a aliança com Serra têm afinidades com o PT, o que facilitaria um reagrupamento, já que o partido rachou ao apoiar o tucano. Exemplo: Orestes Quércia, candidato ao Senado que fez aliança branca com Lula em São Paulo, poderia se entender com o presidente do partido, o deputado federal Michel Temer, aliado de Serra. Há casos parecidos em outros Estados.


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