São Paulo, quinta-feira, 22 de julho de 2004

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GOVERNO

Presidente foi à reunião de instalação da nova câmara, comandada por Dirceu

Lula teme que recuperação seja "bolha de crescimento"

EDUARDO SCOLESE
JULIA DUAILIBI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pouco mais de um ano depois de prometer "o espetáculo do crescimento", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, diante de 17 ministros, manifestou ontem receio de que sinais de recuperação sejam apenas "bolhas" de crescimento e cobrou "eficiência" e "investimentos corretos".
O presidente compareceu à instalação da Câmara de Política de Desenvolvimento Econômico -gesto de prestígio a José Dirceu (Casa Civil), que ganhou poderes ao ter uma câmara criada para ele presidir, embora Lula tenha deixado claro que ela não irá formular políticas econômicas, a cargo de Antonio Palocci Filho (Fazenda).
Na cerimônia ocorrida no Palácio do Planalto, o presidente aproveitou para dar o recado aos ministros, após a divulgação da baixa execução orçamentária dos programas prioritários do governo no primeiro semestre.
Ontem, aos ministros, Lula repetiu expressão dita por ele em quatro discursos no último um mês e meio: "O crescimento não pode ser uma bolha. Tem de ser um longo período de crescimento". Palocci deu o mesmo recado, enfatizando a importância dos programas ministeriais para o avanço do PIB (Produto Interno Bruto) num longo prazo.
O evento de ontem, na prática, transformou-se numa espécie de reunião ministerial improvisada, uma vez que a previsão inicial era de que a cerimônia contasse com apenas 14 ministros. Acabou durando cerca de três horas e reuniu, além do presidente e dos 17 ministros, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
A preocupação de Lula ocorre num momento em que o volume de gastos mostrou-se abaixo do orçado no primeiro semestre deste ano. Segundo dados do Siafi (sistema de acompanhamento de gastos federais), revelados pela Folha na semana passada, 40% de 340 programas tidos como prioritários tiveram gasto inferior a 10% do total reservado no Orçamento 2004. No período, a execução total atingia 36% da verba disponível.
Na semana passada, Lula chegou a cobrar explicações do ministro do Planejamento, Guido Mantega. Na ocasião, o ministro disse que a realidade é positiva e não se reflete em tais dados. Ontem, Lula enfatizou a necessidade de investimentos em infra-estrutura e na geração de empregos, além de uma maior integração com os vizinhos sul-americanos.
"O objetivo é justamente poder fazer com que os programas de sustentação do crescimento e do desenvolvimento tenham maior eficiência. O objetivo da câmara é este: máxima eficiência nesses programas", disse o porta-voz da Presidência, André Singer.
Na reunião, Lula buscou não incentivar polarização da câmara com a de Política Econômica, que existe desde 2002 e tem na presidência Palocci. Deixou claro para os presentes que o grupo presidido por Dirceu será o responsável apenas pela coordenação dos programas de governo, e não pela elaboração de políticas econômicas.

Estudo
O BNDES anunciou ontem que vai financiar um estudo que deve apresentar em seis meses um planejamento estratégico para ações do governo nas áreas de desenvolvimento tecnológico, infra-estrutura e, principalmente, social.
O projeto traz no nome -Brasil em três tempos: visões do país em 2007, 2015 e 2022- os anos-chave para atingir as metas que serão fixadas no estudo. O primeiro ano do governo eleito em 2006 é o primeiro marco. O segundo, 2015, é o prazo para o cumprimento das Metas do Milênio, da ONU, que tratam de indicadores sociais. O terceiro,é o ano em que a independência do Brasil completará 200 anos.


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