São Paulo, quinta-feira, 22 de julho de 2004

Texto Anterior | Índice

TODA MÍDIA

Sem cerimônia

NELSON DE SÁ

A insistência no tema foi parar nas manchetes do Jornal da Record:
- Planalto nega que José Dirceu, coordenando programa de crescimento, se sobreponha a Antonio Palocci.
Por todo lado, era o que diziam os petistas. Do presidente deles, José Genoino:
- O ministro Antonio Palocci sai fortalecido.
Denunciando sem querer o que acontecia, a Globo News destacou que "Palocci manteve o prestígio".
Em futebol, é o que dizem de um treinador que não vai nada bem de prestígio.
 
No UOL News, Fernando Rodrigues comentava que dois movimentos indicam que a "ala política" avança, em detrimento da "econômica".
O primeiro foi a derrubada do aumento na contribuição previdenciária, que levaria o PT a perder apoio empresarial, com "reflexo já na eleição".
O segundo foi a cerimônia da Câmara de Desenvolvimento, com 17 ministros, discurso de Lula etc. É parte do "retorno gradual de Dirceu ao poder que tinha no governo".
Que o diga a Globo News, que sublinhou publicitariamente, na cobertura da unção do chefe da Casa Civil, ontem:
- Governo quer desenvolvimento e emprego.
Quem não quer?
 
Ainda é nebulosa mais essa câmara, por mais que se esforçasse o porta-voz de Lula, André Singer, ao vivo na Band News e depois nos telejornais:
- As funções estão claras.
"Não há sobreposição", garantia ele, com a Câmara de Política Econômica a ser presidida pelo "prestigiado".
Mas aí perguntaram se haveria cerimônia semelhante, com Lula e suas dezenas de ministros, para a posse de Palocci em sua câmara. O porta-voz disse não ter conhecimento.
E que o ministro seria só oficializado no cargo.

Reprodução
LÁ E CÁ No rastro da ameaça de Lula de elevar impostos, o tucano Geraldo Alckmin lançou comercial dizendo que "reduziu impostos dos calçados, das roupas" etc. Com "menos imposto, mais emprego"

Devastação
Enquanto o petista José Genoino e o pefelista Jorge Bornhausen ainda saudavam a derrubada da elevação na contribuição previdenciária, na CBN, a Federação do Comércio de SP acordava.
E saía criticando, na Globo On Line, o adiamento da desoneração da folha de pagamento, decidido pelo governo no lugar do aumento na contribuição. Do presidente, Abram Szajman, de volta ao tom de apocalipse:
- Os efeitos são devastadores.

Esqueleto
Os tucanos fazem até comercial, dizendo que eles cortam impostos. Mas os petistas lutam para lembrar que as dívidas com os aposentados vieram deles, os tucanos. Do ministro Guido Mantega, nos telejornais:
- Vamos cobrir a diferença com excesso de arrecadação até achar outra solução para o esqueleto do governo anterior.
É um pouco tarde, depois do escândalo da contribuição.

Lembrete
Os elogios ao Brasil na Conferência Mundial de Aids, na Tailândia, podem dar a impressão de que vai tudo bem, aqui.
Mas o site Carta Maior avisa, em texto do Gapa, o Grupo de Apoio e Prevenção à Aids, que o avanço na terapia não pode desviar os olhos da prioridade à prevenção. E cobra levar o debate "ao cotidiano das pessoas".

Caos
O sociólogo Alain Touraine, no "El País", mostra-se preocupado com a América Latina e dá o Brasil como exemplo:
- Em países nos quais se produziu a vitória de um partido ou homem que reclamava mudanças, não acontece nada.
E prenuncia o horror:
- As esperanças frustradas podem se manifestar na forma de rebeliões... Nem tanto o perigo de revolução, mas caos.

Enigma
O economista Jeffrey Sachs, no "La Nación", escreve que "um dos maiores enigmas da economia mundial é o mau desempenho da América Latina" -que liberalizou, privatizou etc.
Então, "como se explica?". Ele não descarta a desigualdade, mas critica mais a desatenção à "revolução tecnológica". E acaba dando alguma esperança:
- A situação não é desesperadora. O Brasil tem se mostrado uma potência exportadora tecnológica, com sucesso em aviões e alimentos não-perecíveis.

Dois editoriais
Diante do vaivém nas negociações comerciais, por todo lado, o Brasil ao menos tem com a simpatia dos editorialistas do "Wall Street Journal" e do "New York Times", que saíram a campo contra o protecionismo americano nos camarões e em outras áreas de exportação nacional.

MAOÍSMO

www.artfcolour.com/Reprodução
Mao por Andy Warhol, na web


Na fina ironia do "Times" de Londres, "pouco se sabia do interesse de Bill Clinton por Mao Tsé-Tung". Mas ele existe, segundo reportagem de ontem, ainda que só na tradução para o mandarim da biografia do ex-presidente americano. No livro, diz o "Times", ele até cita um ensinamento do líder chinês:
- Se você quer conhecer o sabor da pêra, você mesmo deve comê-la.
Pior, Clinton em versão maoísta censura as próprias críticas ao desrespeito da China aos direitos humanos.
 
Por aqui, é o ministro Aldo Rebelo, do PC do B, quem anda citando Mao, segundo o "Painel" da Folha, às vésperas de sua viagem para a China, depois de amanhã. Ensinamento maoísta destacado por Rebelo, em mensagem aos funcionários de seu ministério:
- Mantenha a modéstia e a prudência, evite a arrogância, mantenha a árdua luta.
E trate de agradar a economia que só faz crescer.


Texto Anterior: "Poder": Festa de senador quase vira caso policial no DF
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.