São Paulo, domingo, 22 de julho de 2007

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Morte do senador deixa carlistas fragmentados e desorientados

FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

Fez-se muita política ontem em meio ao clima de consternação e tristeza do velório de Antonio Carlos Magalhães. O público do lado de fora do Palácio da Aclamação gritava palavras de ordem louvando o homenageado. Mas uma claque com camisetas com a foto de ACM também não se esquecia de gritar o nome de ACM Neto, um dos herdeiros do carlismo.
Dentro, outros carlistas de primeira grandeza demonstravam pesar pela morte de ACM, mas não tinham os nomes lembrados nas cantorias vindas da rua. Foram esquecidos Paulo Souto, ex-governador da Bahia e presidente estadual do Democratas, o senador Cesar Borges (DEM-BA) e até o agora senador Antônio Carlos Magalhães Júnior, que era suplente e assumirá a cadeira do pai.
A morte de ACM deixou o carlismo fragmentado e desorientado. Em maio, parte dos carlistas -inclusive seu comandante maior- cogitaram migrar para o PDT. Estava em jogo o comando local da legenda. Houve um armistício. Todos ficaram onde estão e Paulo Souto foi eleito presidente.
Mas o amálgama era ACM. Sem ele, as chances de os carlistas ficarem unidos é incerta. A Folha esteve no velório e falou com mais de duas dezenas de membros dessa corrente política. Um parente chegou a desabafar, na condição de não ter o nome citado: "Com a morte de ACM acaba o carlismo. Agora, existe o Democratas da Bahia".
A Bahia tem o quarto maior eleitorado do país. Nas épocas áureas do carlismo, o DEM tinha de 25% a 30% de seus votos em eleições no Brasil vindos do Estado. Paulo Souto, derrotado para o governo em 2006, tenta contemporizar. "O carlismo já há algum tempo teve suas características alteradas. Mas devemos buscar o consenso", diz.
ACM Neto, em seu segundo mandato de deputado federal e aos 28 anos, é o mais operante dos descendentes de ACM na política. Tem no seu encalço Luís Eduardo Magalhães Filho, filho de Luís Eduardo Magalhães -morto em 1998.
Júnior, ficará com a cadeira do pai, nunca teve pretensões eleitorais. Já esteve no Senado de maio de 2001 até 2003, quando ACM renunciou para não ser cassado. Ao deixar o mandato, chegou a dizer à época: "Seria a mesma coisa que se eu estivesse ocupando a vaga". Não foi o que aconteceu. Júnior nunca demonstrou gosto pela política como seu pai.
Há outro componente imbricado com disputa interna no carlismo -a sucessão do espólio de ACM entre seus familiares. Ele comandava os negócios. Agora sua mulher Arlete poderia desempenhar a função -mas há indicações de que as operações passarão para a segunda geração dos Magalhães.


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