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São Paulo, sexta-feira, 22 de agosto de 2003

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RETÓRICA TEMPERADA

No Pará, presidente diz que apressados correm o risco de já ter o "bucho cheio" na hora da "coisa nobre"

Lula compara críticos a freguês de rodízio

DOS ENVIADOS ESPECIAIS A BELÉM

Ao defender o projeto de reforma previdenciária que foi aprovado em primeiro turno na Câmara dos Deputados, em discurso ontem, no Pará, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou os setores que ainda resistem à proposta e disse que não pretende agradar a todos porque "nem Cristo conseguiu".
Em resposta às cobranças por mudanças e resultados após mais de sete meses de governo, Lula comparou seus críticos aos clientes apressados de churrascarias rodízio, que acabam enchendo o "bucho" de maionese e não conseguem comer as carnes nobres, como a picanha.
"Óbvio que tem gente que não gostou [da reforma da Previdência], mas eu também não nasci para agradar a todo mundo -nem Cristo conseguiu. Eu quero apenas ser justo com o meu povo e com a minha consciência", disse Lula, em discurso no ato de lançamento e ampliação da cooperativa de fruticultura Nova Amafrutas, em Benevides (PA).
À tarde, após almoço oferecido pelo governador do Estado, Simão Jatene (PSDB), Lula participou do ato de recriação da Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia), órgão extinto pelo governo Fernando Henrique Cardoso devido a escândalos de corrupção.

Reforma
Ao defender que a reforma previdenciária foi "um bem para este país", o presidente questionou quem não estaria satisfeito com as mudanças.
E respondeu: "Quem ganhava R$ 40 mil ou R$ 50 mil e que agora está limitado a um salário de R$ 17 mil deve estar com ódio do governo", disse, sob aplausos de cerca de mil pessoas, a grande parte funcionários da cooperativa.
"Quem é que não gostou? Pessoas extraordinárias das quais o Brasil precisa", insistiu.
"Grandes intelectuais, grandes advogados, grandes procuradores e grandes mestres, pessoas de que a nação precisa e que se aposentam com 53 anos, ou 48 anos, no caso das mulheres. Enquanto isso, o plantador de maracujá tem que esperar 60 anos para se aposentar", declarou o presidente Lula, fazendo referência aos agricultores presentes.
O governo tem comemorado a aprovação, nesta etapa da tramitação no Congresso, do subteto salarial do Judiciário estadual, que ficaria limitado a 90,25% do salário de ministro do Supremo Tribunal Federal.
Originalmente, o governo pretendia fixar esse limite em 75%, mas o Congresso acabou cedendo à pressão do Judiciário, que ameaçou greve.
Para começar a vigorar, a reforma da Previdência ainda precisa enfrentar mais uma votação na Câmara e outras duas no plenário do Senado.
"Quero poder toda noite deitar a cabeça no travesseiro e ver que estou fazendo o que a maioria do povo brasileiro deseja que seja feito neste país", afirmou, ainda se referindo à reforma.
Em seu discurso, Lula disse estar agora "muito mais tranquilo", por saber a dimensão de suas responsabilidades.
"Ando mais tranquilo porque estou muito mais consciente das minhas responsabilidades e tenho muito mais certeza de que vamos fazer tudo aquilo que prometemos na campanha", afirmou o presidente.

Churrasco
Lula reconheceu que ainda falta muito a ser feito no país e que não se pode fazer mágica para retomar o crescimento econômico. Ao pedir paciência, comparou os apressados aos fregueses de churrascarias rodízio.
"Tem aquele apressado, que tudo quanto é maionese que vem ele come, tudo quanto é linguiça que vem ele come. Aí, quando chega a hora da coisa nobre, ele já está com o bucho cheio. Ele não quer mais a picanha, a costela, as chamadas carnes nobres. Ele já não consegue comer. Pagou por elas e não comeu porque foi apressado", disse Lula.
"Então, a gente tem que ter um certo controle das nossas ânsias e da nossa angústia de querer fazer as coisas com a rapidez de que o povo necessita", concluiu.
Além de Jatene, estavam presentes os governadores do Amazonas, Eduardo Braga (PPS), e do Acre, Jorge Viana (PT), e os ministros Ciro Gomes (Integração Nacional), Luiz Dulci (Secretaria Geral), Roberto Rodrigues (Agricultura) e Marina Silva (Meio Ambiente).
(LEILA SUWWAN e RAYMUNDO COSTA)


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