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Sem-terra morre em ação da polícia no RS
Elton Brum da Silva foi morto com um tiro de escopeta quando Brigada Militar chegou a uma fazenda ocupada, em São Gabriel
MST afirma que os sem-terra estavam desarmados e culpa governadora pela violência dos policiais; Yeda diz que haverá investigação rigorosa
GRACILIANO ROCHA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
Uma operação de despejo de
sem-terra executada pela Brigada Militar do Rio Grande do
Sul terminou com a morte de
um trabalhador rural e pelo
menos 13 pessoas feridas ontem no município de São Gabriel (321 km de Porto Alegre).
O sem-terra Elton Brum da
Silva, 44, foi morto com um tiro
de escopeta quando a Brigada
Militar chegou à fazenda Southall, invadida desde o dia 12,
para cumprir um mandado de
reintegração de posse.
Cerca de 300 policiais participaram da operação de despejo de 550 integrantes do MST
(Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
As circunstâncias da morte
ainda não estão esclarecidas. O
MST afirma que os sem-terra
estavam desarmados e que os
policiais chegaram ao acampamento atirando e lançando
bombas. Segundo o movimento, não houve resistência.
"Eles cercaram o acampamento e dispararam os tiros.
Um dos tiros acertou o companheiro. Eles usaram cachorros
e cavalos e bateram em todo
mundo", disse a acampada Luciana da Rosa, pelo telefone.
Após ser atingido, Brum foi
levado pelos policiais para a
Santa Casa de São Gabriel, a 18
km do local do confronto, mas
morreu no caminho.
Conforme o médico Ricardo
Coirolo, estilhaços de chumbo
foram encontrados no tórax e
na região lombar de Brum, que
foi atingido pelas costas.
A Brigada Militar afirma que
os policiais foram atacados com
bombas caseiras e pedradas.
"Foi tentada uma negociação. Eles [sem-terra] usaram
barricadas. Usamos granadas
de luz e som e munição não letal. Munição letal também é
usada como último recurso,
mas a circunstância [da morte]
vai ser determinada pelo inquérito policial", disse o coronel Hildebrando Sanfelice, chefe do estado-maior da Brigada.
Segundo ele, ainda não foi
identificado o autor do disparo.
Quinze escopetas calibre 12
usadas pelos policiais na operação serão submetidas a exames
de balística. O inquérito será
conduzido pela Polícia Civil de
São Gabriel.
Tensão
A morte do sem-terra tornou
mais agudo o clima de tensão
existente entre o governo da
tucana Yeda Crusius e os movimentos de sem-terra. Em nota,
o MST responsabilizou ontem
a governadora pela violência.
"O uso de armas de fogo no
tratamento dos movimentos
sociais revela que a violência é
parte da política deste Estado",
diz trecho da nota.
Em viagem a Santa Maria, no
centro do Estado, Yeda disse
que haverá uma investigação
rigorosa. "Lamento muito o
acontecimento de uma morte,
ela é desnecessária." O MST
marcou para hoje protestos
contra a morte de Brum em São
Gabriel e Canguçu, cidade onde
ele será sepultado.
A fazenda Southall é palco de
conflitos desde os anos 1990.
No ano passado, o governo federal desapropriou 5.000 dos
13,2 mil hectares para assentar
agricultores. O MST, que estava
acampado na área não desapropriada, reivindica a desapropriação do restante das terras.
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