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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ ALÉM DO "MENSALINHO"
Político diz ser vítima de "cães de guerra" arregimentados na academia e na mídia
Severino atribui sua queda à "elitezinha" e diz que voltará
Alan Marques/Folha Imagem
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Severino Cavalcanti faz discurso em que renuncia ao mandato |
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Severino Cavalcanti atribuiu
ontem à "elitezinha" da Câmara,
chamada por ele de "os donos do
Congresso", a responsabilidade
por arregimentar forças "antagônicas, poderosas e destruidoras" e
insuflar seus "cães de guerra" para apeá-lo do cargo.
Segundo o presidente da Câmara (ele só deixa o cargo hoje,
quando sua renúncia estiverpublicada no "Diário Oficial"), isso
aconteceu porque ele deu voz a
deputados que eram alijados das
decisões da Casa e "desdenhosamente chamados "baixo clero'".
Encerrou seu discurso mostrando que seu principal objetivo com
a renúncia era evitar uma quase
certa cassação: "Voltarei. O povo
me absolverá", indicando que será candidato a deputado em 2006.
Ele iniciou seu discurso citando
sua infância pobre em João Alfredo (PE) e dizendo que não precisou de livros para conhecer as
"agruras do Nordeste". Apesar
disso, abriu a fala fazendo referência a "Os Sertões", de Euclides
da Cunha (1866-1909): "O sertanejo é, antes de tudo, um forte".
DONOS DO CONGRESSO -
Severino disse que sua queda
tem a ver com o fato de ele ter lutado por uma "Câmara sem igrejinhas, sem grupos privilegiados".
"[Fui] Eleito para mudar uma Casa cheia de donos, os donos do
Congresso, onde pontificava uma
elite distanciada da maioria dos
deputados, chamada desdenhosamente de baixo clero, e praticamente ignorada em todas as decisões importantes do Parlamento". Segundo ele, a disposição de
"acabar com os grupinhos e os
privilégios de poucos" desencadeou contra ele "forças antagônicas, poderosas e destruidoras". "A
elitezinha, essa que não quer jamais largar o osso, insuflou contra mim seus cães de guerra, arregimentou forças na academia e na
mídia e alimentou na opinião pública a versão caluniosa de um
empresário, que precisava da
mentira para encobrir as dívidas
crescentes de seus restaurantes."
IMPRENSA -
Outro alvo foi a imprensa, que
fabricou "textos caluniosos" e
"manchetes mentirosas" contra
ele. "Resistirei. Jamais fui acusado
de nada. Nenhuma denúncia.
Não vou, portanto, agora, curvar-me à pressão dos poderosos. Não
vou me render às necessidades da
mídia, que me tem ultrajado com
manchetes mentirosas, que me
tem alvejado com textos caluniosos, por alguns exemplares a
mais". Ele questionou a liberdade
de imprensa. "Sempre defendi a
liberdade de imprensa. Mas em
nosso país, liberdade de imprensa
tem sido a porta aberta para suspeitas sem comprovação, para
acusações sem provas, para a destruição de reputações. Liberdade
de imprensa, sim, mas o rigor da
lei para os que enxovalham sem
qualquer limite a honra e a dignidade alheias."
BIOGRAFIA -
O ex-deputado também fez diversas menções à sua trajetória,
ressaltando que saiu de uma infância miserável em João Alfredo
para se tornar um caixeiro-viajante e "próspero comerciante" em
São Paulo. "Cresci no meio das
durezas dos que são pobres, na
terra onde as crianças, desde cedo, são sertanejos fortes, pois já
experimentaram tudo: da inclemência implacável da paisagem e
da desigualdade social que segrega nossa humanidade", afirmou.
HOMEM POBRE -
Por diversas vezes, Severino sublinhou que está endividado, que
a política o empobreceu e "arrastou na correnteza" até o patrimônio da mulher, Catharina Amélia.
Ele diz que viverá com a aposentadoria como deputado estadual.
A VOLTA -
"Todos seremos, muito breve,
julgados pelo povo. Para quem
dedicou sua vida à política, esse é
o julgamento que conta, a sentença que importa. Voltarei. O povo
me absolverá."
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