São Paulo, quinta-feira, 22 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ ALÉM DO "MENSALINHO"

Político diz ser vítima de "cães de guerra" arregimentados na academia e na mídia

Severino atribui sua queda à "elitezinha" e diz que voltará

Alan Marques/Folha Imagem
Severino Cavalcanti faz discurso em que renuncia ao mandato


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA


Severino Cavalcanti atribuiu ontem à "elitezinha" da Câmara, chamada por ele de "os donos do Congresso", a responsabilidade por arregimentar forças "antagônicas, poderosas e destruidoras" e insuflar seus "cães de guerra" para apeá-lo do cargo.
Segundo o presidente da Câmara (ele só deixa o cargo hoje, quando sua renúncia estiverpublicada no "Diário Oficial"), isso aconteceu porque ele deu voz a deputados que eram alijados das decisões da Casa e "desdenhosamente chamados "baixo clero'".
Encerrou seu discurso mostrando que seu principal objetivo com a renúncia era evitar uma quase certa cassação: "Voltarei. O povo me absolverá", indicando que será candidato a deputado em 2006.
Ele iniciou seu discurso citando sua infância pobre em João Alfredo (PE) e dizendo que não precisou de livros para conhecer as "agruras do Nordeste". Apesar disso, abriu a fala fazendo referência a "Os Sertões", de Euclides da Cunha (1866-1909): "O sertanejo é, antes de tudo, um forte".
 

DONOS DO CONGRESSO -
Severino disse que sua queda tem a ver com o fato de ele ter lutado por uma "Câmara sem igrejinhas, sem grupos privilegiados". "[Fui] Eleito para mudar uma Casa cheia de donos, os donos do Congresso, onde pontificava uma elite distanciada da maioria dos deputados, chamada desdenhosamente de baixo clero, e praticamente ignorada em todas as decisões importantes do Parlamento". Segundo ele, a disposição de "acabar com os grupinhos e os privilégios de poucos" desencadeou contra ele "forças antagônicas, poderosas e destruidoras". "A elitezinha, essa que não quer jamais largar o osso, insuflou contra mim seus cães de guerra, arregimentou forças na academia e na mídia e alimentou na opinião pública a versão caluniosa de um empresário, que precisava da mentira para encobrir as dívidas crescentes de seus restaurantes."

IMPRENSA -
Outro alvo foi a imprensa, que fabricou "textos caluniosos" e "manchetes mentirosas" contra ele. "Resistirei. Jamais fui acusado de nada. Nenhuma denúncia. Não vou, portanto, agora, curvar-me à pressão dos poderosos. Não vou me render às necessidades da mídia, que me tem ultrajado com manchetes mentirosas, que me tem alvejado com textos caluniosos, por alguns exemplares a mais". Ele questionou a liberdade de imprensa. "Sempre defendi a liberdade de imprensa. Mas em nosso país, liberdade de imprensa tem sido a porta aberta para suspeitas sem comprovação, para acusações sem provas, para a destruição de reputações. Liberdade de imprensa, sim, mas o rigor da lei para os que enxovalham sem qualquer limite a honra e a dignidade alheias."

BIOGRAFIA -
O ex-deputado também fez diversas menções à sua trajetória, ressaltando que saiu de uma infância miserável em João Alfredo para se tornar um caixeiro-viajante e "próspero comerciante" em São Paulo. "Cresci no meio das durezas dos que são pobres, na terra onde as crianças, desde cedo, são sertanejos fortes, pois já experimentaram tudo: da inclemência implacável da paisagem e da desigualdade social que segrega nossa humanidade", afirmou.

HOMEM POBRE -
Por diversas vezes, Severino sublinhou que está endividado, que a política o empobreceu e "arrastou na correnteza" até o patrimônio da mulher, Catharina Amélia. Ele diz que viverá com a aposentadoria como deputado estadual.

A VOLTA -
"Todos seremos, muito breve, julgados pelo povo. Para quem dedicou sua vida à política, esse é o julgamento que conta, a sentença que importa. Voltarei. O povo me absolverá."


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