São Paulo, quinta-feira, 22 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO" /ALÉM DO "MENSALINHO"

Governo avalia que petista não terá chance na sucessão de Severino Cavalcanti e pressiona por acordo com candidato do PMDB

PT lança Chinaglia; Planalto apóia Temer

KENNEDY ALENCAR
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo desencadeou ontem articulações a favor da candidatura do peemedebista Michel Temer (SP) a presidente da Câmara, apesar de o PT ter lançado no final da noite o líder do governo na Casa, Arlindo Chinaglia (SP), à sucessão de Severino Cavalcanti.
Logo após Severino ter renunciado ontem, partidos se reuniram e fizeram lançamentos em série de candidatos. O Palácio do Planalto avalia que, passado esse primeiro momento em que há profusão de nomes, alguns saiam de cena. Deverá haver reunião de partidos aliados para que discutam uma candidatura da base, da qual participará o PMDB.
A articulação do governo pró-Temer era apresentá-lo como nome de união da base de apoio no Congresso. O sucesso dessa operação dependerá de o PT se convencer de que Arlindo terá dificuldade para se eleger.
Em fevereiro, Lula interveio para tentar impedir o PT de ter dois candidatos e fracassou. Ontem mesmo começaram conversas para tentar levar o PT e o PMDB a fechar um acordo. O governo tem pressa, pois o novo presidente será escolhido até a quinta-feira da próxima semana. Políticos de todos os partidos dizem que será difícil eleger um petista em meio à crise do mensalão, pois a base do governo está mais frágil do que em fevereiro, quando Severino derrotou dois petistas.
Traumatizado com a divisão na bancada da última vez que escolheu candidato, o PT ontem aclamou Chinaglia por unanimidade. Abriram mão da indicação Paulo Delgado (MG), Sigmaringa Seixas (DF) e José Eduardo Cardozo (SP), por avaliar que a candidatura de um petista é aventura.
Chinaglia afirmou que a ligação estreita com o Planalto não será problema: "Todos os deputados têm suas posições políticas. Se for para encontrar um que não tenha, é bom que não se encontre".
Em tese, o PT admite a possibilidade de abrir mão da candidatura a favor de outro nome da base governista. "Se houver um candidato que possa aglutinar com mais eficiência os partidos que compõem a base aliada, nós vamos patrocinar essa candidatura. As conversas com outros partidos começam imediatamente", declarou Chinaglia.

Impeachment
O governo está preocupado com o crescimento da candidatura do atual vice-presidente da Casa, o pefelista José Thomaz Nonô (AL). O PSDB sinalizou que apoiará Nonô, atuando como bloco. Mais: Temer ameaçou não concorrer caso haja clima de disputa muito forte.
O ministro Wagner conversou com petistas e peemedebistas ontem à tarde, entre os quais Geddel Vieira Lima (PMDB-BA). Articulador da candidatura Temer, Geddel afirmou que "o governo está ciente de que um nome do PT terá muita dificuldade para ser eleito no plenário da Câmara".
O Planalto avalia que Temer seria menos arriscado que Nonô na condução da Casa, em especial porque o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), defende publicamente que já há motivo para abertura de processo de impeachment contra Lula -algo que depende do presidente da Câmara. Nonô tem dito, porém, que será neutro.
A fim de demonstrar unidade em torno de Temer, membros das alas governista e oposicionista do PMDB almoçaram ontem. À noite, a bancada do PMDB, que ontem estava com 87 deputados e que deve crescer mais, selou apoio unânime a Temer.

Sucessão presidencial
Como há um ingrediente da sucessão presidencial de 2006 nas articulações entre PFL e PSDB, Lula considera que, se recuperar cacife para se reeleger, terá de governar com o PMDB. A hora de tentar aproximação com a ala oposicionista dessa sigla, à qual Temer pertence, seria a atual.
Em jantar anteontem em Brasília com a presença dos governadores tucanos Aécio Neves (MG) e Geraldo Alckmin (SP) e as bancadas do PSDB e do PFL, ficou claro nas conversas que Nonô era o preferido. Setores do PSDB e do PFL avaliaram que o governo está tão fraco que seria possível até eleger um nome claramente oposicionista. "Nossa tendência é reforçar a aliança com o PFL", disse o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP).


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