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Congresso brasileiro reage a fala de Chávez
Para parlamentares, discurso do venezuelano sobre demora do ingresso de seu país no Mercosul dificulta ainda mais o processo
Chávez vinculou falta de aprovação a interesses dos EUA; oposição no Senado já
defende que a Venezuela seja rejeitada no bloco
RANIER BRAGON
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Deputados e senadores de
vários partidos criticaram ontem as declarações do presidente Hugo Chávez sobre a falta de aprovação, pelo Congresso brasileiro, à entrada da Venezuela no Mercosul, bloco
econômico formado por Brasil,
Argentina, Paraguai e Uruguai.
Em Manaus, Chávez disse
anteontem ter certeza de que o
ingresso da Venezuela não foi
aprovado até agora por causa
"da mão do império, da mão
norte-americana". Embora não
tenha mencionado explicitamente, o alvo da declaração é o
Congresso brasileiro, responsável pela análise neste momento. O venezuelano minimizou a declaração logo depois:
"Não impomos tempo a ninguém, mas tampouco vamos
nos arrastar".
O presidente da Comissão de
Relações Exteriores da Câmara, Vieira da Cunha (PDT-RS),
classificou as declarações como
"extremamente infelizes". A
comissão vota na quarta o acordo de inclusão da Venezuela.
"Tudo se encaminhava para a
aprovação. Agora, com essas
novas declarações, extremamente infelizes, estamos inseguros. Chávez poderia parar de
nos criar dificuldade", disse.
Se passar na comissão, o texto segue para a Comissão de
Constituição e Justiça e, depois, para o plenário. Se aprovado, vai para o Senado.
A líder da bancada do PT no
Senado, Ideli Salvatti (SC), afirmou defender a posição do governo de fortalecer a integração do Brasil com os países da
América Latina, mas também
criticou o venezuelano, dizendo que sua frase foi, "no mínimo, pouco inteligente".
"O Congresso é soberano,
não vai deliberar por meio de
interferência dos Estados Unidos, muito menos por causa de
grito do Chávez. Não vai ser fácil aprovar isso aqui, já que há
parcelas consideráveis do Senado que são contra. Esse tipo
de declaração pode soar muito
bem para ele dentro da Venezuela; para nós, não ajuda em
nada", disse Ideli.
A oposição no Senado defendeu a rejeição do ingresso da
Venezuela no bloco. Em nota
assinada pelo líder da bancada
do PSDB, Arthur Virgílio (AM),
o partido afirmou que "fará o
possível e o impossível para impedir a aprovação do ingresso
da Venezuela no Mercosul"
porque, segundo o texto, aquele
país caminha "em marcha batida rumo a um regime ditatorial" e o Mercosul não pode ser
"palco para as diatribes de Chávez contra os Estados Unidos".
"Diante de tanta fanfarronice, já estou achando melhor
não aceitá-lo para não nos arrependermos dos incômodos da
sua companhia", afirmou o líder da bancada do DEM, José
Agripino Maia (RN).
Na terça-feira, a Comissão de
Relações Exteriores do Senado
se reúne para elaborar nota em
resposta a Chávez. "Lamentamos pela grosseria praticada
pelo presidente venezuelano
em agredir um Poder brasileiro. É uma demonstração de desequilíbrio e de vocação para
atos autoritários", disse Heráclito Fortes (DEM-PI), que
preside a comissão.
No PMDB, lideranças do partido consideram que o ingresso
da Venezuela tem que ser aprovado porque será bom para a
economia nacional. "A Venezuela não é o Hugo Chávez.
Tem que aprovar e se preparar
para o debate com ele depois",
afirmou o senador Pedro Simon (PMDB-RS). "Se for uma
coisa para beneficiar a economia do nosso país, temos que
passar por cima disso", disse o
líder da bancada no Senado,
Valdir Raupp (RO).
O procurador-geral da Câmara, Alexandre Santos
(PMDB-RJ), afirmou que conversaria com o presidente da
Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), para propor a formalização
de um documento cobrando
explicações de Chávez.
"Qualquer pessoa que manda
fechar uma rede de televisão,
como ocorreu, não sabe conviver com um Congresso como o
nosso, com total liberdade",
disse Santos.
Colaborou a Folha Online, em Brasília
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