São Paulo, sábado, 22 de setembro de 2007

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Congresso brasileiro reage a fala de Chávez

Para parlamentares, discurso do venezuelano sobre demora do ingresso de seu país no Mercosul dificulta ainda mais o processo

Chávez vinculou falta de aprovação a interesses dos EUA; oposição no Senado já defende que a Venezuela seja rejeitada no bloco

RANIER BRAGON
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Deputados e senadores de vários partidos criticaram ontem as declarações do presidente Hugo Chávez sobre a falta de aprovação, pelo Congresso brasileiro, à entrada da Venezuela no Mercosul, bloco econômico formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
Em Manaus, Chávez disse anteontem ter certeza de que o ingresso da Venezuela não foi aprovado até agora por causa "da mão do império, da mão norte-americana". Embora não tenha mencionado explicitamente, o alvo da declaração é o Congresso brasileiro, responsável pela análise neste momento. O venezuelano minimizou a declaração logo depois: "Não impomos tempo a ninguém, mas tampouco vamos nos arrastar".
O presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, Vieira da Cunha (PDT-RS), classificou as declarações como "extremamente infelizes". A comissão vota na quarta o acordo de inclusão da Venezuela.
"Tudo se encaminhava para a aprovação. Agora, com essas novas declarações, extremamente infelizes, estamos inseguros. Chávez poderia parar de nos criar dificuldade", disse.
Se passar na comissão, o texto segue para a Comissão de Constituição e Justiça e, depois, para o plenário. Se aprovado, vai para o Senado.
A líder da bancada do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), afirmou defender a posição do governo de fortalecer a integração do Brasil com os países da América Latina, mas também criticou o venezuelano, dizendo que sua frase foi, "no mínimo, pouco inteligente".
"O Congresso é soberano, não vai deliberar por meio de interferência dos Estados Unidos, muito menos por causa de grito do Chávez. Não vai ser fácil aprovar isso aqui, já que há parcelas consideráveis do Senado que são contra. Esse tipo de declaração pode soar muito bem para ele dentro da Venezuela; para nós, não ajuda em nada", disse Ideli.
A oposição no Senado defendeu a rejeição do ingresso da Venezuela no bloco. Em nota assinada pelo líder da bancada do PSDB, Arthur Virgílio (AM), o partido afirmou que "fará o possível e o impossível para impedir a aprovação do ingresso da Venezuela no Mercosul" porque, segundo o texto, aquele país caminha "em marcha batida rumo a um regime ditatorial" e o Mercosul não pode ser "palco para as diatribes de Chávez contra os Estados Unidos".
"Diante de tanta fanfarronice, já estou achando melhor não aceitá-lo para não nos arrependermos dos incômodos da sua companhia", afirmou o líder da bancada do DEM, José Agripino Maia (RN).
Na terça-feira, a Comissão de Relações Exteriores do Senado se reúne para elaborar nota em resposta a Chávez. "Lamentamos pela grosseria praticada pelo presidente venezuelano em agredir um Poder brasileiro. É uma demonstração de desequilíbrio e de vocação para atos autoritários", disse Heráclito Fortes (DEM-PI), que preside a comissão.
No PMDB, lideranças do partido consideram que o ingresso da Venezuela tem que ser aprovado porque será bom para a economia nacional. "A Venezuela não é o Hugo Chávez. Tem que aprovar e se preparar para o debate com ele depois", afirmou o senador Pedro Simon (PMDB-RS). "Se for uma coisa para beneficiar a economia do nosso país, temos que passar por cima disso", disse o líder da bancada no Senado, Valdir Raupp (RO).
O procurador-geral da Câmara, Alexandre Santos (PMDB-RJ), afirmou que conversaria com o presidente da Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), para propor a formalização de um documento cobrando explicações de Chávez.
"Qualquer pessoa que manda fechar uma rede de televisão, como ocorreu, não sabe conviver com um Congresso como o nosso, com total liberdade", disse Santos.


Colaborou a Folha Online, em Brasília


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