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ELEIÇÕES 2008 / CAPITAIS
Mais tempo de TV alavanca candidatos nas pesquisas
Em 18 capitais brasileiras, líderes possuem o maior espaço no horário eleitoral
Em duas capitais, São Paulo e Salvador, os candidatos com maior tempo na TV não chegaram ao 1º lugar, mas disputam vaga no 2º turno
THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA
Em apenas um mês de horário eleitoral, a TV já pode ser
apontada como fundamental
para a mudança do cenário político nas capitais do país. Em
18 das 26 cidades, o líder nas
pesquisas às prefeituras é o que
possui o maior tempo nos
meios de comunicação.
Levantamento nas 20 cidades onde foi possível comparar
a mais recente pesquisa de intenção de voto (Ibope ou Datafolha) com aquela feita dias antes do início do horário eleitoral revela ainda mais o poder de
exposição dos candidatos.
Em dez cidades, aqueles com
tempo de TV maior ou igual aos
adversários se mantiveram na
frente, boa parte alargando a
vantagem. Em outros cinco
municípios, onde os candidatos
com maior tempo de TV estavam atrás, eles viraram o jogo e
agora são líderes.
Em duas capitais, candidatos
com maior tempo de TV não
chegaram a primeiro, mas subiram: Gilberto Kassab (DEM),
em São Paulo, e João Henrique
(PMDB), em Salvador, diminuíram a distância para os líderes. Amparado por uma coligação que inclui o PMDB, Kassab
é dono do maior tempo de TV e
rádio em São Paulo (39% do total destinado aos quatro principais candidatos). Sua propaganda também recebe boa avaliação. Segundo pesquisa Datafolha da semana passada, o prefeito democrata tem o segundo
programa mais bem avaliado
entre os que acompanham o
horário eleitoral -32%, contra
35% de Marta Suplicy (PT).
Em Manaus, Omar Aziz
(PMN), com maior exposição
que Amazonino Mendes (PTB),
conseguiu diminuir a diferença
entre os dois, de 42 pontos para
27. Em Vitória, João Coser
(PT), com um minuto a menos
de TV, manteve a distância de
Luciano Resende (PPS), e o cenário ficou inalterado.
A única exceção à regra ocorreu em Macapá, onde Camilo
Capiberibe (PSB) conseguiu
passar à frente de Roberto Góes
(PDT), que tem tempo de TV
maior e apoio do primo do governador, Waldez Góes (PDT).
Para o cientista político Vitor
Ferraz, da PUC-SP, a campanha na televisão é fundamental
na escolha do eleitor e o impacto é sentido nas sondagens. "O
candidato que tem mais tempo
passa a sensação de que tem
mais força política, ainda que o
eleitor não saiba como é composta essa divisão."
O professor do Instituto de
Ciência Política da UnB Luis
Felipe Miguel concorda. Ele diz
que, se o candidato tem um
tempo bom de TV, significa que
está sendo apoiado por partidos grandes. "E o início do horário eleitoral coincide com a
mobilização desses partidos
nas ruas, colocando suas estruturas para funcionar."
De acordo com Miguel, com
um tempo maior, o candidato
pode expor as propostas, fazer
críticas aos adversários e apresentar as lideranças que o
apóiam. "Com menos tempo, o
adversário é obrigado a abrir
mão de uma ou mais linhas discursivas, o que o prejudica."
Os dois dizem, no entanto,
que só a TV não é decisiva em
uma campanha. "O papel do
marqueteiro, de criar uma imagem, de tentar superar uma
margem de rejeição, também é
crucial. Por isso, a TV influencia dependendo da maneira como é usada e do que se tem para
mostrar. No caso de Belo Horizonte, o apoio expresso dado a
Marcio Lacerda [PSB] foi fundamental", afirma Ferraz.
Lacerda tem como padrinhos
o governador Aécio Neves
(PSDB) e o prefeito Fernando
Pimentel (PT). Na primeira
quinzena de agosto, antes do
rádio e da TV, ele tinha 9%, segundo o Ibope. Agora, tem 42%.
Dinheiro
Além do maior tempo de TV,
Lacerda e os outros quatro candidatos que ultrapassaram os
oponentes também arrecadaram mais que eles. O candidato
do PSB já recebeu quatro vezes
o valor doado a Leonardo Quintão (PMDB). No Rio de Janeiro,
Eduardo Paes (PMDB) diz ter
arrecadado R$ 2,6 milhões a
mais que Marcelo Crivella
(PRB), que ficou para trás nas
pesquisas.
Para os cientistas políticos,
isso mostra o quanto o dinheiro
é importante em uma eleição
numa capital. "Conseguir dinheiro mostra a capacidade de
um candidato se articular politicamente e isso pode refletir
em votos", diz Ferraz.
Miguel diz que o candidato
com poucos recursos não se
torna competitivo, pois o eleitorado, em grande medida, é
desinteressado. "É importante
se fazer presente. Para isso, é
preciso material de campanha,
estar nas ruas." Para ele, na década de 80, havia mais diferenças entre as campanhas eleitorais, dada a criatividade dos publicitários mesmo com tempos
de TV e rádio mais restritos.
"Hoje, as campanhas dos
partidos que disputam de verdade uma eleição são parecidas,
com o mesmo profissionalismo, marqueteiros experientes
e usando as mesmas formas de
pesquisa. Ter mais dinheiro e
mais tempo para passar uma
mensagem tem muito mais peso", diz Miguel.
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