São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 2008

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ELEIÇÕES 2008 / CAPITAIS

Mais tempo de TV alavanca candidatos nas pesquisas

Em 18 capitais brasileiras, líderes possuem o maior espaço no horário eleitoral

Em duas capitais, São Paulo e Salvador, os candidatos com maior tempo na TV não chegaram ao 1º lugar, mas disputam vaga no 2º turno


THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA

Em apenas um mês de horário eleitoral, a TV já pode ser apontada como fundamental para a mudança do cenário político nas capitais do país. Em 18 das 26 cidades, o líder nas pesquisas às prefeituras é o que possui o maior tempo nos meios de comunicação.
Levantamento nas 20 cidades onde foi possível comparar a mais recente pesquisa de intenção de voto (Ibope ou Datafolha) com aquela feita dias antes do início do horário eleitoral revela ainda mais o poder de exposição dos candidatos.
Em dez cidades, aqueles com tempo de TV maior ou igual aos adversários se mantiveram na frente, boa parte alargando a vantagem. Em outros cinco municípios, onde os candidatos com maior tempo de TV estavam atrás, eles viraram o jogo e agora são líderes.
Em duas capitais, candidatos com maior tempo de TV não chegaram a primeiro, mas subiram: Gilberto Kassab (DEM), em São Paulo, e João Henrique (PMDB), em Salvador, diminuíram a distância para os líderes. Amparado por uma coligação que inclui o PMDB, Kassab é dono do maior tempo de TV e rádio em São Paulo (39% do total destinado aos quatro principais candidatos). Sua propaganda também recebe boa avaliação. Segundo pesquisa Datafolha da semana passada, o prefeito democrata tem o segundo programa mais bem avaliado entre os que acompanham o horário eleitoral -32%, contra 35% de Marta Suplicy (PT).
Em Manaus, Omar Aziz (PMN), com maior exposição que Amazonino Mendes (PTB), conseguiu diminuir a diferença entre os dois, de 42 pontos para 27. Em Vitória, João Coser (PT), com um minuto a menos de TV, manteve a distância de Luciano Resende (PPS), e o cenário ficou inalterado.
A única exceção à regra ocorreu em Macapá, onde Camilo Capiberibe (PSB) conseguiu passar à frente de Roberto Góes (PDT), que tem tempo de TV maior e apoio do primo do governador, Waldez Góes (PDT).
Para o cientista político Vitor Ferraz, da PUC-SP, a campanha na televisão é fundamental na escolha do eleitor e o impacto é sentido nas sondagens. "O candidato que tem mais tempo passa a sensação de que tem mais força política, ainda que o eleitor não saiba como é composta essa divisão."
O professor do Instituto de Ciência Política da UnB Luis Felipe Miguel concorda. Ele diz que, se o candidato tem um tempo bom de TV, significa que está sendo apoiado por partidos grandes. "E o início do horário eleitoral coincide com a mobilização desses partidos nas ruas, colocando suas estruturas para funcionar."
De acordo com Miguel, com um tempo maior, o candidato pode expor as propostas, fazer críticas aos adversários e apresentar as lideranças que o apóiam. "Com menos tempo, o adversário é obrigado a abrir mão de uma ou mais linhas discursivas, o que o prejudica."
Os dois dizem, no entanto, que só a TV não é decisiva em uma campanha. "O papel do marqueteiro, de criar uma imagem, de tentar superar uma margem de rejeição, também é crucial. Por isso, a TV influencia dependendo da maneira como é usada e do que se tem para mostrar. No caso de Belo Horizonte, o apoio expresso dado a Marcio Lacerda [PSB] foi fundamental", afirma Ferraz.
Lacerda tem como padrinhos o governador Aécio Neves (PSDB) e o prefeito Fernando Pimentel (PT). Na primeira quinzena de agosto, antes do rádio e da TV, ele tinha 9%, segundo o Ibope. Agora, tem 42%.

Dinheiro
Além do maior tempo de TV, Lacerda e os outros quatro candidatos que ultrapassaram os oponentes também arrecadaram mais que eles. O candidato do PSB já recebeu quatro vezes o valor doado a Leonardo Quintão (PMDB). No Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB) diz ter arrecadado R$ 2,6 milhões a mais que Marcelo Crivella (PRB), que ficou para trás nas pesquisas.
Para os cientistas políticos, isso mostra o quanto o dinheiro é importante em uma eleição numa capital. "Conseguir dinheiro mostra a capacidade de um candidato se articular politicamente e isso pode refletir em votos", diz Ferraz.
Miguel diz que o candidato com poucos recursos não se torna competitivo, pois o eleitorado, em grande medida, é desinteressado. "É importante se fazer presente. Para isso, é preciso material de campanha, estar nas ruas." Para ele, na década de 80, havia mais diferenças entre as campanhas eleitorais, dada a criatividade dos publicitários mesmo com tempos de TV e rádio mais restritos.
"Hoje, as campanhas dos partidos que disputam de verdade uma eleição são parecidas, com o mesmo profissionalismo, marqueteiros experientes e usando as mesmas formas de pesquisa. Ter mais dinheiro e mais tempo para passar uma mensagem tem muito mais peso", diz Miguel.


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