São Paulo, Sexta-feira, 22 de Outubro de 1999
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GRAMPO DO BNDES
Relatório final do inquérito dirá que escuta foi institucional
General Cardoso não será apontado como autor

RONALDO SOARES
enviado especial a Campinas (SP)

SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio

O general Alberto Cardoso, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, será isentado pela PF (Polícia Federal) de responsabilidade na autoria dos grampos no prédio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
O relatório final do inquérito, segundo a Folha apurou, dirá que o grampo foi institucional, ou seja, feito pelo próprio governo, mas sem o conhecimento do general Cardoso.
Já o MPF (Ministério Público Federal) não está convencido da inocência de Cardoso. Após receber o relatório da PF, os procuradores designados para o caso estudarão a possibilidade de pedir ao procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, a abertura de processo contra o general.
Por ter status de ministro, Cardoso só pode ser denunciado pelo procurador-geral da República.
De acordo com as investigações da PF, a ordem para o grampo partiu do comando da SSI (Subsecretaria de Inteligência) no Rio. A SSI é órgão vinculado ao Gabinete de Segurança Institucional (ex-Casa Militar).
Os grampos telefônicos na sede do BNDES (no centro do Rio) foram feitos no ano passado, à época da venda pelo governo das estatais de telecomunicações.
A SSI era dirigida até o mês passado pelo coordenador João Guilherme dos Santos Almeida, que já foi indiciado no inquérito, acusado de prestar falso testemunho em depoimento à PF. Ele também deverá ser denunciado pela acusação de autoria dos grampos. Almeida nega ter mentido em depoimento e participado da escuta.

Outros indiciados
Os procuradores não limitarão as denúncias à relação de indiciados pelo delegado Rubens Grandini, presidente do inquérito.
Além de Almeida, o delegado já indiciou Temílson Antônio Barreto de Resende, o Telmo, e Adilson Alcântara de Matos, acusados pela autoria dos grampos. Ambos negaram a acusação.
Também está indiciado, acusado de falso testemunho, Gercy Firmino, coordenador de Operações da SSI, em Brasília.
A Folha apurou que dificilmente a PF fará mais algum indiciamento. As suspeitas iniciais contra o general -teria sido o mandante do grampo, para monitorar a lisura da privatização das teles- não se confirmaram.
Os procuradores da República pretendem incluir pelo menos mais duas pessoas na relação de denunciados: os técnicos em telefonia Walter de Souza Braga e Francisco Carlos da Silva.
Pela apuração da PF, o grampo foi determinado pelo comando da SSI no Rio como medida oficial de um órgão governamental envolvido em investigações reservadas. O escolhido para o serviço teria sido Telmo, analista de informações da SSI no Rio. Ainda de acordo com as investigações, Telmo teria contratado os autônomos Matos, Braga e Silva para instalarem a escuta.
Ao verificarem a importância das conversas flagradas pelo grampo, os envolvidos venderam as fitas para empresários interessados na compra das teles.
A divulgação de parte das conversas resultou na saída do governo, entre outros dirigentes, do então ministro das Telecomunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, e do então presidente do BNDES, André Lara Rezende.


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