|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LOBBY NA SAÚDE
Anotações trazem contas de deputado e de secretária da Anvisa
Agenda de lobista envolve
tucano e assessora da Saúde
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As anotações da agenda de Alexandre Paes dos Santos, o maior
lobista de Brasília, revelam dois
nomes que ele teria usado para
defender interesses de seus clientes da indústria farmacêutica.
São eles: Debora (Alves), secretária de Gonzalo Vecina, presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e Sebastião Madeira, deputado federal pelo PSDB do Maranhão.
A Anvisa controla todo o mercado de medicamentos, cosméticos, derivados de tabaco, produtos para saúde em geral, entre outros. É de Gonzalo Vecina a decisão sobre os produtos a serem
vendidos e em que condições.
Como sua secretária, Debora sabia com quem Vecina falava e para onde ia. Ela tinha acesso à
agenda de Vecina, informação valiosa para quem, como o lobista,
precisava antecipar para seus
clientes eventuais mudanças nas
regras de comercialização.
Na agenda de APS, nome pelo
qual o lobista é conhecido em
Brasília, o nome de Debora aparece inúmeras vezes, e em várias
ocasiões há registro de almoços,
como os indicados nos dias 25 de
julho e 7 de agosto.
O mais surpreendente é que a
agenda de APS também aponta o
número da conta de Debora na
agência 3413-4 do Banco do Brasil. A Folha apurou que o número
está correto. Os telefones pessoais
dela também estão entre as anotações: o celular e o da residência,
em Taguatinga, cidade-satélite de
Brasília. A secretária deve depor
hoje na Polícia Federal.
A Anvisa abriu ontem uma sindicância para apurar o envolvimento de Debora no fornecimento de informações ao lobista. A
funcionária será afastada de suas
atividades no Ministério da Saúde
até o final das investigações.
Deputado
Tão frequente quanto o nome
de Debora é o do deputado Sebastião Madeira (PSDB-MA). São telefonemas, audiências e até o registro do endereço residencial
completo do congressista, na Asa
Norte, no dia 16 de agosto.
Mas o que intriga mesmo são
dois registros da agenda que associam o nome de Madeira à cifra de
R$ 25 mil. As anotações de APS na
agenda são as seguintes:
1) Em 22 de agosto: "Madeira/
PSDB - R$ 25.000";
2) Em 2 de setembro (domingo): "Ag. 460-0 - C/C 41.829-3 - S.
Madeira";
3) Ainda em 2 de setembro: "LS
Distribuidores de Produtos Alimentares - R$ 25.000 OK."
A Folha apurou que a conta
pertence de fato a uma distribuidora, cujo nome correto é LF Distribuidora de Produtos Alimentícios Ltda., sediada em Imperatriz
(MA), base eleitoral do deputado.
A troca de letras é frequente nas
anotações de APS, que costuma
escrever reproduzindo os sons
exatamente como os ouve. Foi assim que, no dia 14 de agosto, registrou em sua agenda um suposto jantar no restaurante "Trasteveri", pivô de uma denúncia de
extorsão que se transformou em
inquérito na Polícia Federal. O
nome correto é Trastevere, frequentado pelo alto escalão do governo federal em Brasília.
O deputado Sebastião Madeira,
que é médico e está em seu segundo mandato parlamentar, fez discursos e concedeu entrevistas defendendo a inclusão, no sistema
público de saúde, do medicamento Glivec, utilizado no tratamento
da leucemia mielóide -tipo de
câncer na medula óssea.
Produzido pelo laboratório Novartis, para o qual APS trabalhava
até 2 de outubro, o Glivec se transformou no fio condutor das investigações do Ministério Público
e da Polícia Federal depois que a
agenda do lobista revelou o conhecimento sobre a realização de
reuniões, viagens e toda a tramitação burocrática do medicamento.
Só não registrou a oficialização
do contrato, no dia 20 de setembro, que levará o ministro José
Serra a investir U$ 8,2 milhões por
ano no Glivec.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Outro lado: Funcionária e deputado negam as acusações Índice
|