São Paulo, segunda-feira, 22 de outubro de 2001

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LOBBY NA SAÚDE
Anotações trazem contas de deputado e de secretária da Anvisa

Agenda de lobista envolve tucano e assessora da Saúde

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As anotações da agenda de Alexandre Paes dos Santos, o maior lobista de Brasília, revelam dois nomes que ele teria usado para defender interesses de seus clientes da indústria farmacêutica.
São eles: Debora (Alves), secretária de Gonzalo Vecina, presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e Sebastião Madeira, deputado federal pelo PSDB do Maranhão.
A Anvisa controla todo o mercado de medicamentos, cosméticos, derivados de tabaco, produtos para saúde em geral, entre outros. É de Gonzalo Vecina a decisão sobre os produtos a serem vendidos e em que condições.
Como sua secretária, Debora sabia com quem Vecina falava e para onde ia. Ela tinha acesso à agenda de Vecina, informação valiosa para quem, como o lobista, precisava antecipar para seus clientes eventuais mudanças nas regras de comercialização.
Na agenda de APS, nome pelo qual o lobista é conhecido em Brasília, o nome de Debora aparece inúmeras vezes, e em várias ocasiões há registro de almoços, como os indicados nos dias 25 de julho e 7 de agosto.
O mais surpreendente é que a agenda de APS também aponta o número da conta de Debora na agência 3413-4 do Banco do Brasil. A Folha apurou que o número está correto. Os telefones pessoais dela também estão entre as anotações: o celular e o da residência, em Taguatinga, cidade-satélite de Brasília. A secretária deve depor hoje na Polícia Federal.
A Anvisa abriu ontem uma sindicância para apurar o envolvimento de Debora no fornecimento de informações ao lobista. A funcionária será afastada de suas atividades no Ministério da Saúde até o final das investigações.

Deputado
Tão frequente quanto o nome de Debora é o do deputado Sebastião Madeira (PSDB-MA). São telefonemas, audiências e até o registro do endereço residencial completo do congressista, na Asa Norte, no dia 16 de agosto.
Mas o que intriga mesmo são dois registros da agenda que associam o nome de Madeira à cifra de R$ 25 mil. As anotações de APS na agenda são as seguintes:
1) Em 22 de agosto: "Madeira/ PSDB - R$ 25.000";
2) Em 2 de setembro (domingo): "Ag. 460-0 - C/C 41.829-3 - S. Madeira";
3) Ainda em 2 de setembro: "LS Distribuidores de Produtos Alimentares - R$ 25.000 OK."
A Folha apurou que a conta pertence de fato a uma distribuidora, cujo nome correto é LF Distribuidora de Produtos Alimentícios Ltda., sediada em Imperatriz (MA), base eleitoral do deputado.
A troca de letras é frequente nas anotações de APS, que costuma escrever reproduzindo os sons exatamente como os ouve. Foi assim que, no dia 14 de agosto, registrou em sua agenda um suposto jantar no restaurante "Trasteveri", pivô de uma denúncia de extorsão que se transformou em inquérito na Polícia Federal. O nome correto é Trastevere, frequentado pelo alto escalão do governo federal em Brasília.
O deputado Sebastião Madeira, que é médico e está em seu segundo mandato parlamentar, fez discursos e concedeu entrevistas defendendo a inclusão, no sistema público de saúde, do medicamento Glivec, utilizado no tratamento da leucemia mielóide -tipo de câncer na medula óssea.
Produzido pelo laboratório Novartis, para o qual APS trabalhava até 2 de outubro, o Glivec se transformou no fio condutor das investigações do Ministério Público e da Polícia Federal depois que a agenda do lobista revelou o conhecimento sobre a realização de reuniões, viagens e toda a tramitação burocrática do medicamento.
Só não registrou a oficialização do contrato, no dia 20 de setembro, que levará o ministro José Serra a investir U$ 8,2 milhões por ano no Glivec.



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