São Paulo, terça-feira, 22 de outubro de 2002

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BRASIL PROFUNDO

Fiscais do Ministério do Trabalho que apontaram regime semelhante à escravidão em fazenda receberam ameaça

Mais 57 trabalhadores são libertados no PA

MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

Um grupo formado por fiscais do grupo móvel do Ministério do Trabalho e agentes da Polícia Federal libertou ontem em uma fazenda na região de Xinguara, no sul do Pará, 57 trabalhadores mantidos em regime análogo ao da escravidão. No final de semana, os fiscais foram ameaçados de morte em hotel da cidade.
Segundo o coordenador do grupo móvel, Paulo Mendes, a ameaça de morte foi feita por meio de um telefonema anônimo para o hotel onde os 11 integrantes da ação estão hospedados.
A ameaça, direcionada ao grupo, foi anotada por um funcionário do hotel e dizia: "Antes dos senhores irem embora, o cemitério de Xinguara ganhará mais uma cruz. Aguardem".
O grupo está em Xinguara há dez dias e é composto por quatro policiais federais e sete fiscais do trabalho. "Apesar da ameaça, vamos permanecer no local e cumpriremos nossa obrigação. E retornaremos quando for preciso para atender todas as denúncias encaminhadas ao Ministério do Trabalho", disse Mendes.
A Polícia Federal iniciou ontem as investigações para rastrear a origem do telefonema. O funcionário do hotel, que anotou o recado, também será ouvido.
Os trabalhadores foram libertados na Fazenda 21, mas que tem o nome jurídico de Fazenda São Paulo. O proprietário da fazenda, segundo a CPT (Comissão Pastoral da Terra), se chama Romualdo Alves Coelho. Ele é de Araguaína (MG) e não foi localizado ontem pela Agência Folha.
"Esta fazenda já é reincidente, pois no ano passado, oito trabalhadores foram libertado no local", disse o frade Henri des Roziers, da CPT, no sul do Pará, que é um dos ameaçados de morte na região há dois anos.
O proprietário, que responderá a um processo no Ministério Público do Trabalho, deverá pagar R$ 41 mil e direitos trabalhistas para os trabalhadores libertados. Eles eram mantidos em condições subumanas, sem água potável.
De acordo com dados da CPT, pelo menos 30 trabalhadores rurais e lideranças ligadas à questão agrária figuram em uma lista de marcados para morrer no sul e no sudeste do Estado.
Dados da CPT indicam que, de janeiro a agosto deste ano, foram denunciados 2.200 trabalhadores em regime escravo no Pará, sendo que 1.613 destes foram libertados pelo grupo móvel. No ano 2000, foram 537. No ano passado o número saltou para 1.287.
No ano de 2001, a CPT denunciou 14 fazendas pela prática de trabalho escravo na região, em 2002 já são 65 fazendas denunciadas. No final do mês passado, o juiz de Xinguara, Cristiano Arantes e Silva, nomeado titular da comarca em abril deste ano, recebeu uma série de ameaças de morte anônimas e teve sua casa atingida por quatro tiros.
"No dia 25 de setembro, às 4h, quatro tiros foram disparados contra a residência do doutor Cristiano, furando o portão de ferro e batendo nas paredes da casa", disse o frei Henri.
O caso foi denunciado para o Tribunal de Justiça do Pará e para a Secretaria de Segurança do Estado, segundo a CPT.


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