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BRASIL PROFUNDO
Fiscais do Ministério do Trabalho que apontaram regime semelhante à escravidão em fazenda receberam ameaça
Mais 57 trabalhadores são libertados no PA
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
Um grupo formado por fiscais
do grupo móvel do Ministério do
Trabalho e agentes da Polícia Federal libertou ontem em uma fazenda na região de Xinguara, no
sul do Pará, 57 trabalhadores
mantidos em regime análogo ao
da escravidão. No final de semana, os fiscais foram ameaçados de
morte em hotel da cidade.
Segundo o coordenador do grupo móvel, Paulo Mendes, a ameaça de morte foi feita por meio de um telefonema anônimo para o
hotel onde os 11 integrantes da
ação estão hospedados.
A ameaça, direcionada ao grupo, foi anotada por um funcionário do hotel e dizia: "Antes dos senhores irem embora, o cemitério
de Xinguara ganhará mais uma
cruz. Aguardem".
O grupo está em Xinguara há
dez dias e é composto por quatro
policiais federais e sete fiscais do
trabalho. "Apesar da ameaça, vamos permanecer no local e cumpriremos nossa obrigação. E retornaremos quando for preciso
para atender todas as denúncias
encaminhadas ao Ministério do
Trabalho", disse Mendes.
A Polícia Federal iniciou ontem
as investigações para rastrear a
origem do telefonema. O funcionário do hotel, que anotou o recado, também será ouvido.
Os trabalhadores foram libertados na Fazenda 21, mas que tem o
nome jurídico de Fazenda São
Paulo. O proprietário da fazenda,
segundo a CPT (Comissão Pastoral da Terra), se chama Romualdo
Alves Coelho. Ele é de Araguaína
(MG) e não foi localizado ontem
pela Agência Folha.
"Esta fazenda já é reincidente,
pois no ano passado, oito trabalhadores foram libertado no local", disse o frade Henri des Roziers, da CPT, no sul do Pará, que
é um dos ameaçados de morte na
região há dois anos.
O proprietário, que responderá
a um processo no Ministério Público do Trabalho, deverá pagar
R$ 41 mil e direitos trabalhistas
para os trabalhadores libertados.
Eles eram mantidos em condições
subumanas, sem água potável.
De acordo com dados da CPT,
pelo menos 30 trabalhadores rurais e lideranças ligadas à questão
agrária figuram em uma lista de
marcados para morrer no sul e no
sudeste do Estado.
Dados da CPT indicam que, de
janeiro a agosto deste ano, foram
denunciados 2.200 trabalhadores
em regime escravo no Pará, sendo
que 1.613 destes foram libertados
pelo grupo móvel. No ano 2000,
foram 537. No ano passado o número saltou para 1.287.
No ano de 2001, a CPT denunciou 14 fazendas pela prática de
trabalho escravo na região, em
2002 já são 65 fazendas denunciadas. No final do mês passado, o
juiz de Xinguara, Cristiano Arantes e Silva, nomeado titular da comarca em abril deste ano, recebeu
uma série de ameaças de morte
anônimas e teve sua casa atingida
por quatro tiros.
"No dia 25 de setembro, às 4h,
quatro tiros foram disparados
contra a residência do doutor
Cristiano, furando o portão de
ferro e batendo nas paredes da casa", disse o frei Henri.
O caso foi denunciado para o
Tribunal de Justiça do Pará e para
a Secretaria de Segurança do Estado, segundo a CPT.
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