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Capital externo avança nas empresas
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Os investidores estrangeiros invadiram o país nos anos FHC. O
capital externo aumentou sua
participação nas empresas instaladas no país de 14,8%, em 1991,
para 26,4%, em 1996, e para
36,4%, em 1999.
Considerando apenas o setor
industrial, o salto foi de 36% para
53,5%, em nove anos. Nos serviços, de 9,4% para 26,1%. No setor
bancário, de 8% para 21,3%.
A forte expansão do capital externo no país foi constatada por
estudo feito pelo Instituto de Economia da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ). Para
chegar a esses percentuais, o instituto utilizou amostra de pouco
mais de 300 empresas (nos três
anos), que apresentaram, nos três
períodos, receita média superior a
US$ 35 milhões por ano. Considera estrangeiras as empresas controladas por multinacionais.
O que atraiu esse capital ao Brasil? David Kupfer, professor da
UFRJ e coordenador do trabalho,
cita algumas razões: 1) os ativos
das empresas eram considerados
baratos quando comparados com
os de outros países; 2) o mercado
brasileiro parecia mais atrativo; 3)
as empresas nacionais não tinham condições de bancar investimentos para ganhar competitividade; 4) as condições das multinacionais eram favoráveis; 5) o
governo avançou na privatização.
Pelo levantamento da UFRJ, na
indústria difusora de tecnologia
(aeronáutica, automobilística,
eletroeletrônica, química fina), a
participação do capital estrangeiro pulou de 60,3% para 86,9%. Na
básica (petróleo, siderurgia, petroquímica, papel e celulose e
agribusiness), de 21,2% para
33,1%. Na tradicional (têxtil, vestuário, calçados, alimentos e bebidas), de 36,5% para 48,5%.
O trabalho da UFRJ também
constatou que, apesar do forte
avanço do capital estrangeiro nas
empresas brasileiras, pouco mudou o perfil dos investimentos
nos setores. Em 91, a indústria básica participava com 21,8% da receita das empresas estrangeiras
no país. Em 99, com 20,9%.
A indústria difusora de tecnologia estrangeira, que teria mais a
acrescentar ao Brasil, viu sua participação até cair no período, de
37,5% para 36,8%, sobre a receita
das multinacionais. Quem ganhou participação foram os serviços de infra-estrutura (telecomunicações, energia elétrica e distribuição de petróleo), de 18,7% para 22,4%, e outros serviços (comércio, transportes e comunicação social), de 3,7% para 7,9%.
Quem estuda o capital estrangeiro tem dúvidas se ele trouxe
mais vantagens ou desvantagens
ao país. "As multinacionais aceleraram a difusão de tecnologia,
mas não são grandes exportadoras, remetem lucros, submetem a
empresa no Brasil a movimentos
globais", diz Kupfer.
Balanço do capital
Para ele, hoje, o balanço do
avanço do capital estrangeiro no
país é ruim. "Foram importantes
os investimentos feitos no Brasil
com o processo de privatização.
Só que a solidez do sistema privado deixa a desejar", afirma.
No setor petroquímico, na sua
avaliação, não funcionou porque
a privatização teria de ser precedida de regulamentação, "que não
foi feita. Resultado: os investimentos não deslancham e as linhas de produtos não evoluem".
Na siderurgia, ele vê a privatização com mais sucesso. "A injeção
de capital na pré-fase da privatização permitiu que as empresas se
reestruturassem de forma bem-sucedida. Nos setores de telecomunicações e energia, ainda é difícil avaliar, pois eles estão em plena fase de transição do modelo de
regulação", afirma Kupfer.
Para Mariano Laplane, coordenador do Núcleo de Economia da
Indústria e da Tecnologia da Unicamp, o espaço que o governo
FHC deu aos estrangeiros no processo de privatização das empresas de telecomunicações e no setor bancário, não teve o efeito esperado. No setor financeiro, diz, o
governo favoreceu a vinda de
bancos estrangeiros com a intenção de tornar o setor mais sólido,
resistente a crises externas.
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