São Paulo, terça-feira, 22 de outubro de 2002

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Capital externo avança nas empresas

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Os investidores estrangeiros invadiram o país nos anos FHC. O capital externo aumentou sua participação nas empresas instaladas no país de 14,8%, em 1991, para 26,4%, em 1996, e para 36,4%, em 1999.
Considerando apenas o setor industrial, o salto foi de 36% para 53,5%, em nove anos. Nos serviços, de 9,4% para 26,1%. No setor bancário, de 8% para 21,3%.
A forte expansão do capital externo no país foi constatada por estudo feito pelo Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Para chegar a esses percentuais, o instituto utilizou amostra de pouco mais de 300 empresas (nos três anos), que apresentaram, nos três períodos, receita média superior a US$ 35 milhões por ano. Considera estrangeiras as empresas controladas por multinacionais.
O que atraiu esse capital ao Brasil? David Kupfer, professor da UFRJ e coordenador do trabalho, cita algumas razões: 1) os ativos das empresas eram considerados baratos quando comparados com os de outros países; 2) o mercado brasileiro parecia mais atrativo; 3) as empresas nacionais não tinham condições de bancar investimentos para ganhar competitividade; 4) as condições das multinacionais eram favoráveis; 5) o governo avançou na privatização.
Pelo levantamento da UFRJ, na indústria difusora de tecnologia (aeronáutica, automobilística, eletroeletrônica, química fina), a participação do capital estrangeiro pulou de 60,3% para 86,9%. Na básica (petróleo, siderurgia, petroquímica, papel e celulose e agribusiness), de 21,2% para 33,1%. Na tradicional (têxtil, vestuário, calçados, alimentos e bebidas), de 36,5% para 48,5%.
O trabalho da UFRJ também constatou que, apesar do forte avanço do capital estrangeiro nas empresas brasileiras, pouco mudou o perfil dos investimentos nos setores. Em 91, a indústria básica participava com 21,8% da receita das empresas estrangeiras no país. Em 99, com 20,9%.
A indústria difusora de tecnologia estrangeira, que teria mais a acrescentar ao Brasil, viu sua participação até cair no período, de 37,5% para 36,8%, sobre a receita das multinacionais. Quem ganhou participação foram os serviços de infra-estrutura (telecomunicações, energia elétrica e distribuição de petróleo), de 18,7% para 22,4%, e outros serviços (comércio, transportes e comunicação social), de 3,7% para 7,9%.
Quem estuda o capital estrangeiro tem dúvidas se ele trouxe mais vantagens ou desvantagens ao país. "As multinacionais aceleraram a difusão de tecnologia, mas não são grandes exportadoras, remetem lucros, submetem a empresa no Brasil a movimentos globais", diz Kupfer.

Balanço do capital
Para ele, hoje, o balanço do avanço do capital estrangeiro no país é ruim. "Foram importantes os investimentos feitos no Brasil com o processo de privatização. Só que a solidez do sistema privado deixa a desejar", afirma.
No setor petroquímico, na sua avaliação, não funcionou porque a privatização teria de ser precedida de regulamentação, "que não foi feita. Resultado: os investimentos não deslancham e as linhas de produtos não evoluem".
Na siderurgia, ele vê a privatização com mais sucesso. "A injeção de capital na pré-fase da privatização permitiu que as empresas se reestruturassem de forma bem-sucedida. Nos setores de telecomunicações e energia, ainda é difícil avaliar, pois eles estão em plena fase de transição do modelo de regulação", afirma Kupfer.
Para Mariano Laplane, coordenador do Núcleo de Economia da Indústria e da Tecnologia da Unicamp, o espaço que o governo FHC deu aos estrangeiros no processo de privatização das empresas de telecomunicações e no setor bancário, não teve o efeito esperado. No setor financeiro, diz, o governo favoreceu a vinda de bancos estrangeiros com a intenção de tornar o setor mais sólido, resistente a crises externas.



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