São Paulo, sábado, 22 de novembro de 1997.




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ELEIÇÕES
Pedetista dá ultimato a petista sobre formação de chapa coligada para disputar a Presidência no ano que vem
Brizola ofusca Lula em 1º ato conjunto

da Agência Folha, em Florianópolis

No primeiro teste público de uma hipotética aliança na disputa presidencial do ano que vem, Leonel Brizola (PDT) ocupou espaço na performance de candidato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para apresentar um ultimato ao petista.
O pedetista aproveitou para dizer que a aliança com o PT ou é com Lula na cabeça da chapa ou seu partido terá candidato próprio em 1998.
Em Florianópolis (SC), a dupla foi o centro da atenção em um seminário de partidos de esquerda no plenário da Assembléia Legislativa do Estado, que estava lotado de militantes.
Foi o primeiro ato político unindo os dois líderes desde o lançamento da proposta de uma frente de esquerda para enfrentar a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso.
O líder pedetista, que aceita ser o vice na chapa, fez o discurso mais longo e aplaudido do seminário, durante o qual deu um ultimato a Lula para que, afinal, se defina por uma candidatura.
"A aliança entre os partidos de esquerda só vai se concretizar se a candidatura de Lula for colocada. Caso contrário, voltaremos à estaca zero", afirmou Brizola.
A dupla entrou no plenário da Assembléia sob os gritos de "a hora é agora, Lula e Brizola".
Apesar disso, Brizola ameaçou lançar uma candidatura própria à Presidência caso o acordo com os petistas fracasse.
Ele também voltou a defender o apoio dos petistas do Rio a uma candidatura do PDT ao governo do Estado, mas negou que isso seja um "entrave" à frente nacional.
Brizola descartou ainda uma possível composição com outros nomes de esquerda.
"Quem quiser nos apoiar será bem-vindo. Mas o PT e o PDT são os maiores partidos da esquerda e devem ter prioridade para indicar os cabeças da chapa", disse.
Ele disse que o ministro do Supremo Tribunal Federal Sepúlveda Pertence, que poderia ser candidato a presidente pelo PSB, é "uma pessoa de valor, mas fica artificial votar em um juiz para presidente".
A candidatura do ex-prefeito de Porto Alegre Tarso Genro, alternativa do PT caso Lula não aceite concorrer, também foi rechaçada.
"O Tarso é uma das esperanças do nosso país, mas ainda precisa de 'cancha' (experiência) para se lançar", declarou Brizola.
Indefinição
Durante todo o ato, a franqueza de Brizola contrastou com a postura diplomática de Lula.
Cuidadoso, o líder petista agradeceu os elogios, mas ainda não revelou se será candidato.
"A militância está dando uma demonstração de simpatia. Mas minha decisão só vai ser anunciada no encontro do partido (em 13 de dezembro)", disse.
Ao contrário de Brizola, que abordou em seu discurso as composições políticas, Lula preferiu criticar o modelo econômico do governo federal.
Pregou a suspensão do processo de privatização e chamou o ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o presidente do Banco Central, Gustavo Franco, de "cínicos".
"Malan e Franco são cínicos e burocratas, porque preocupam-se apenas com estatísticas e não se importam com o agricultor sem terra ou o desempregado que mora debaixo de um viaduto", disse.
Lula disse que acredita no apoio de PSB e PC do B à frente. "Esses são assuntos internos de outros partidos, mas estou confiante."
PSB, PPS, PC do B e PV também participaram do evento, mas sem suas principais lideranças.



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