São Paulo, Quarta-feira, 22 de Dezembro de 1999


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MINISTÉRIO
Em discurso de despedida, brigadeiro criticou pasta da Defesa
Bräuer critica "promessas pálidas" de governo FHC

Ichiro Guerra/Folha Imagem
O brigadeiro Walter Brauer, demitido na sexta-feira


WILLIAM FRANÇA
AUGUSTO GAZIR
da Sucursal de Brasília

O brigadeiro Walter Bräuer se despediu ontem do comando da Aeronáutica com um discurso marcado pelo tom de desabafo e críticas ao governo por "postergar" soluções e remediar a situação da Força com "modestas promessas e pálidas iniciativas".
O ex-comandante disse que há no governo uma "avultada incompreensão dos problemas militares" e tocou em todas as divergências que puseram os brigadeiros do Alto Comando em rota de colisão com o presidente Fernando Henrique Cardoso. Demonstrou, por exemplo, não considerar uma evolução a criação do Ministério da Defesa.
"O sofrer modificações", disse, referindo-se indiretamente à "subordinação" da Aeronáutica à pasta da Defesa, "nem sempre conduz para o Norte" -imagem que tem como referência a bússola dos aviadores.
As críticas de Bräuer foram feitas na solenidade de troca de comando, na Base Aérea de Brasília. Demitido na sexta, foi substituído pelo brigadeiro e ex-presidente do STM (Superior Tribunal Militar), Carlos de Almeida Baptista.
Bräuer caiu depois de uma entrevista em que fez criticas indiretas ao ministro e a sua assessora especial, Solange Resende. O ex-comandante colocou em dúvida a probidade de ambos e suas palavras foram interpretadas como quebra de hierarquia -o superior dele é o ministro da Defesa.
Ontem, Bräuer fez questão de dizer que a imprensa não omitiu ou distorceu suas declarações. "Acompanhei o copioso noticiário e constatei não haver sido incluída nenhuma vírgula às poucas palavras que declarei."
Ao comentar as suspeitas, até o momento sem provas, levantadas pela CPI do Narcotráfico contra Alvares e Solange Resende, Bräuer disse que "toda a pessoa que tem um cargo público está sujeita a ataques e até elogios. De maneira que a vida pública tem de ser uma vida bastante ilibada, bastante transparente".
A seguir, os principais pontos do discurso de Bräuer, 67:

Modestas promessas

"O salto qualitativo de nossa frota de aeronaves não pode continuar sendo postergado nem remediado por modestas promessas e pálidas iniciativas." Apesar dos problemas, disse, a Aeronáutica tem mantido um desempenho em patamares "minimamente aceitáveis".

Aviação civil e modernidade

Afirmou que concorda com a criação de uma agência para cuidar da aviação civil, hoje nas mãos do DAC (Departamento da Aviação Civil), sob controle da Aeronáutica, mas que atenda os interesses dos usuários. "(E não) os interesses de grupos alienígenas que buscam garantir seus obtusos e particulares objetivos."

Privatização dos aeroportos

Bräuer disse que a Aeronáutica não é contrária à participação da iniciativa privada na gerência dos aeroportos. Apesar disso, reluta em discutir o assunto porque "é notório que as propostas só cobiçam aqueles aeroportos que auferem lucro, desconhecendo a maior parte pelo todo".

Silêncio dos outros

Para o ex-comandante, a Aeronáutica "professa as suas crenças, com a garantia de que servem a uma Força Armada de um país livre". Por isso, acrescentou, "não me cabe interpretar o silêncio das demais instituições nacionais. Para a Aeronáutica, o fato de não se acomodar não pode ser confundido com o de exigir demais".

Democrata

Afirmou que encarava a saída "sem mágoa". Na sua opinião, a demissão estava "há muito concebida" -uma alusão indireta ao fato de que FHC pensou em demiti-lo, apurou a Folha, quando a Força começou a vazar (março/abril) os relatórios com as viagens a serviço e de férias dos ministros, em jatinhos da Aeronáutica.
Fechou o discurso assim: "Isso é da democracia. Eu sou um democrata, apenas um democrata."


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