|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MINISTÉRIO
Em discurso de despedida, brigadeiro criticou pasta da Defesa
Bräuer critica "promessas pálidas" de governo FHC
Ichiro Guerra/Folha Imagem
|
O brigadeiro Walter Brauer, demitido na sexta-feira |
WILLIAM FRANÇA
AUGUSTO GAZIR
da Sucursal de Brasília
O brigadeiro Walter Bräuer se
despediu ontem do comando da
Aeronáutica com um discurso
marcado pelo tom de desabafo e
críticas ao governo por "postergar" soluções e remediar a situação da Força com "modestas promessas e pálidas iniciativas".
O ex-comandante disse que há
no governo uma "avultada incompreensão dos problemas militares" e tocou em todas as divergências que puseram os brigadeiros do Alto Comando em rota de
colisão com o presidente Fernando Henrique Cardoso. Demonstrou, por exemplo, não considerar uma evolução a criação do Ministério da Defesa.
"O sofrer modificações", disse,
referindo-se indiretamente à "subordinação" da Aeronáutica à
pasta da Defesa, "nem sempre
conduz para o Norte" -imagem
que tem como referência a bússola dos aviadores.
As críticas de Bräuer foram feitas na solenidade de troca de comando, na Base Aérea de Brasília.
Demitido na sexta, foi substituído
pelo brigadeiro e ex-presidente
do STM (Superior Tribunal Militar), Carlos de Almeida Baptista.
Bräuer caiu depois de uma entrevista em que fez criticas indiretas ao ministro e a sua assessora
especial, Solange Resende. O ex-comandante colocou em dúvida a
probidade de ambos e suas palavras foram interpretadas como
quebra de hierarquia -o superior dele é o ministro da Defesa.
Ontem, Bräuer fez questão de
dizer que a imprensa não omitiu
ou distorceu suas declarações.
"Acompanhei o copioso noticiário e constatei não haver sido incluída nenhuma vírgula às poucas
palavras que declarei."
Ao comentar as suspeitas, até o
momento sem provas, levantadas
pela CPI do Narcotráfico contra
Alvares e Solange Resende,
Bräuer disse que "toda a pessoa
que tem um cargo público está sujeita a ataques e até elogios. De
maneira que a vida pública tem de
ser uma vida bastante ilibada,
bastante transparente".
A seguir, os principais pontos
do discurso de Bräuer, 67:
Modestas promessas
"O salto qualitativo de nossa
frota de aeronaves não pode continuar sendo postergado nem remediado por modestas promessas e pálidas iniciativas." Apesar
dos problemas, disse, a Aeronáutica tem mantido um desempenho em patamares "minimamente aceitáveis".
Aviação civil e modernidade
Afirmou que concorda com a
criação de uma agência para cuidar da aviação civil, hoje nas
mãos do DAC (Departamento da
Aviação Civil), sob controle da
Aeronáutica, mas que atenda os
interesses dos usuários. "(E não)
os interesses de grupos alienígenas que buscam garantir seus obtusos e particulares objetivos."
Privatização dos aeroportos
Bräuer disse que a Aeronáutica
não é contrária à participação da
iniciativa privada na gerência dos
aeroportos. Apesar disso, reluta
em discutir o assunto porque "é
notório que as propostas só cobiçam aqueles aeroportos que auferem lucro, desconhecendo a
maior parte pelo todo".
Silêncio dos outros
Para o ex-comandante, a Aeronáutica "professa as suas crenças,
com a garantia de que servem a
uma Força Armada de um país livre". Por isso, acrescentou, "não
me cabe interpretar o silêncio das
demais instituições nacionais.
Para a Aeronáutica, o fato de não
se acomodar não pode ser confundido com o de exigir demais".
Democrata
Afirmou que encarava a saída
"sem mágoa". Na sua opinião, a
demissão estava "há muito concebida" -uma alusão indireta ao
fato de que FHC pensou em demiti-lo, apurou a Folha, quando a
Força começou a vazar (março/abril) os relatórios com as viagens
a serviço e de férias dos ministros,
em jatinhos da Aeronáutica.
Fechou o discurso assim: "Isso
é da democracia. Eu sou um democrata, apenas um democrata."
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Militares levam Boeing que sofreu pane para a festa Índice
|