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GOVERNO
Projeto beneficiava mais de cem parlamentares; Congresso poderá derrubar decisão do presidente
FHC veta anistia a multas eleitorais
da Sucursal de Brasília
O presidente Fernando Henrique Cardoso vetou ontem integralmente o projeto de lei que
anistiava as multas aplicadas pela
Justiça Eleitoral nas eleições de
1996 e 1998 e beneficiava, entre
outros, dez governadores e mais
de cem deputados e senadores.
"O presidente assim decidiu pela importância da correção do
processo eleitoral para o Estado
Democrático e para o Estado de
Direito", afirmou o porta-voz da
Presidência, Georges Lamazière,
ao anunciar a decisão.
A Folha apurou que o argumento do presidente para o veto foi
político. Na avaliação de FHC a
anistia contraria o interesse público e estimula a impunidade.
"O intuito é preservar a correção do processo eleitoral, que é
fundamental para a democracia e
que poderia ser fragilizada se não
houvesse a manutenção dos procedimentos normais na matéria",
completou.
A palavra final sobre o polêmico
projeto caberá aos deputados e
senadores. O veto de FHC será
submetido novamente ao Congresso, que poderá mantê-lo ou
não.
O líder do PMDB, deputado
Geddel Vieira Lima (BA), previu
ontem que os parlamentares poderão derrubar a decisão do presidente.
""Não faço disso nenhum drama, só não entendo a diferença
entre o projeto vetado e a anistia
sancionada pelo presidente para
o senador Humberto Lucena",
disse, referindo-se ao perdão concedido ao senador condenado
por crime eleitoral. Isso aconteceu em 1995, no início do primeiro mandato de FHC.
Para o presidente, o Congresso
"saberá entender as razões do veto", disse o porta-voz. Essa é uma
prerrogativa do cargo presidencial. "A opinião dele (FHC) foi diferente da opinião que prevaleceu
no Congresso."
Documento expondo as razões
do presidente para o veto ainda
estava sendo redigido ontem à
noite no Planalto. A consultoria
jurídica do Planalto não havia
considerado o projeto inconstitucional.
Lamazière disse que não tinha
informações se o presidente havia
consultado ou informado previamente lideranças políticas no
Congresso sobre sua decisão. "A
preocupação do presidente foi
com as regras, não só das próximas eleições, mas de todas as seguintes", afirmou.
Sobre a possibilidade de o Congresso derrubar o veto posteriormente, Lamazière disse que "cabe
ao Congresso tomar o seu caminho e não cabe ao presidente avaliar isso". "O presidente já tomou
sua decisão", insistiu.
O que é a anistia
O projeto de lei aprovado pelo
Senado no último dia 7 anistia
multas aplicadas pela Justiça Eleitoral em 16 Estados. O valor da
punição é estimado em R$ 21,2
milhões.
Levantamento feito pela Folha
nos TREs (Tribunais Regionais
Eleitorais) nesses Estados mostra
que chega a R$ 2,2 milhões o total
das multas aplicadas a 69 deputados, 12 senadores e 9 governadores eleitos.
O restante foi aplicado a deputados estaduais, candidatos não
eleitos e veículos de comunicação.
O projeto enfrentou fortes críticas da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que chegou a mandar carta a FHC recomendando o veto. O veto também
foi recomendado pelo ministro
José Carlos Dias (Justiça) e pelo
secretário-geral da Presidência,
Aloysio Nunes Ferreira.
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