São Paulo, sexta-feira, 22 de dezembro de 2000

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CASO TRT

Polícia Federal investiga participação de dois ex-delegados da instituição na fuga do ex-juiz, que durou 227 dias

PF crê em ajuda de ex-agentes a Nicolau



LUCAS FIGUEIREDO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Federal investiga dois ex-delegados da instituição que teriam participado da operação de fuga do ex-juiz Nicolau dos Santos Neto. Os nomes dos policiais são mantidos em sigilo.
Até agora, a PF não tem provas de que os dois ex-delegados tenham ajudado Nicolau. Ambos teriam cumprido tarefas operacionais no esquema, como escolher rotas de fuga seguras no interior do país e fazer o serviço de batedor, checando antecipadamente os locais por onde o ex-juiz iria passar, evitando que ele caísse, por exemplo, em blitze policiais.
Investigadores da PF que atuam no caso acreditam que os dois ex-delegados foram incorporados ao esquema de fuga porque seriam capacitados para pensar nos aspectos de segurança da operação.
Ou seja, ambos têm conhecimento de como funciona a PF e poderiam antecipar possíveis medidas para prender o ex-juiz.
Nicolau presidiu o Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo de 90 a 92. De 92 a 98, ele presidiu a Comissão de Obras do TRT, quando foram liberados os recursos para a obra do Fórum Trabalhista de São Paulo.
O ex-juiz é acusado de ter desviado R$ 169,5 milhões dos R$ 223,7 milhões destinados à obra do fórum. Em abril deste ano, teve a prisão preventiva decretada pela Justiça. Porém Nicolau fugiu antes de ser preso. No último dia 8, ele se entregou após permanecer foragido por 227 dias.
O ex-juiz, que disse ter ficado no sul do país, rendeu-se em uma estrada que liga Dom Pedrito a Bagé, no Rio Grande do Sul.
A descoberta de que dois ex-policiais federais ajudaram Nicolau causou mal-estar na PF. Delegados e agentes já se queixavam do desgaste que a instituição sofreu pelo fato de o ex-juiz não ter sido capturado, mas sim ter se entregado, após fazer um acordo com o Ministério da Justiça.
Para se render, Nicolau exigiu não ser exposto à imprensa e não ser algemado. Oficialmente, a PF e o Ministério da Justiça negam ter havido negociações.
A apresentação à PF foi uma estratégia dos advogados de Nicolau: ao se entregar, o ex-juiz se mostraria disposto a colaborar com investigações sobre o desvio.
A PF ainda não está convencida de que Nicolau esteve somente no Uruguai, como indicavam as primeiras pistas relacionadas ao roteiro de fuga do ex-juiz.
Delegados de Brasília acreditam que Nicolau pode ter se entregado em Bagé, próximo à fronteira com o Uruguai, para despistar outros possíveis esconderijos.
Por essa tese, a Polícia Federal estaria sendo levada a investigar os passos do ex-juiz Nicolau no Uruguai, quando a maior parte do tempo ele teria estado em outro lugar distante dali, como o Caribe, por exemplo.
O primeiro país onde a polícia procurou Nicolau foi o Uruguai. Além de procurá-lo por Montevidéu, capital do país, os agentes também foram ao balneário de Punta del Este.
Com os seus dois passaportes retidos pela Justiça, o ex-juiz poderia entrar no Uruguai usando apenas a carteira de identidade, já que o país integra o Mercosul.
Depois de passar pelo Uruguai, os agentes foram ao Rio Grande do Sul. A busca se concentrou em cidades fronteiriças, por onde o ex-juiz poderia escapar em direção à Argentina ou ao Uruguai.
Depois, dois agentes da Polícia Federal desembarcaram na Europa, onde procuraram Nicolau no norte da Itália -as buscas se concentraram em pequenas cidades nos arredores de Milão- e no sul da Suíça (Lugano e arredores).


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