São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Segundo Palocci, que comandará a economia, bastaria fazer "as mesmas coisas" que o futuro chefe da área política

"Seria fácil brigar com Dirceu", diz petista

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Antonio Palocci Filho diz que seria "facílimo" brigar com José Dirceu, futuro ministro-chefe da Casa Civil, articulador político e, como ele, homem forte do futuro governo. Mas fala que isso não acontece porque os dois têm missões diferentes.
Se um comanda a área econômica e o outro, a área política, caberá ao próprio presidente eleito o comando da área social. Essa tarefa, segundo Palocci, Lula não transfere a ninguém.
O futuro ministro revela que, ao aceitar a Fazenda, colocou-se fora da eventual disputa pelo governo de São Paulo em 2006.
Médico sanitarista por formação, ele conta que usou óculos seis anos sem precisar. Com dificuldade de ler, voltou a usar. Comprou um novo par, do mesmo oculista de FHC e Lula.
Os óculos novos não mudaram a percepção da importância do contraditório. Para Palocci, a esquerda petista, frequentemente crítica da guinada social-democrata do partido, faz a riqueza do pensamento da sigla.
Apesar disso, esse ex-trotskista que conquistou boa interlocução com o empresariado devido à moderação e à cintura política diz que a senadora Heloisa Helena (PT-AL) "às vezes polemiza mais do que seria necessário". Ela criticou a indicação do ex-banqueiro Henrique Meirelles para a presidência do Banco Central.
 

Folha - Fala-se muito de conflitos entre o sr. e José Dirceu.
Antonio Palocci Filho -
Conheço muito o Zé Dirceu, e ele me conhece muito. Seria facílimo brigar com o Zé Dirceu. É só nós dois fazermos as mesmas coisas. A gente brigaria muito. Então, tenho uma convivência excelente porque temos um trabalho muito combinado: cuido de umas coisas, e ele, de outras. E nós nos entendemos, não houve nenhuma briga. Cada um é um estilo, cada um fala de uma forma, cada um tem a sua área.

Folha - Sobre a posição da senadora Heloísa Helena, a posição dos dois não é a mesma.
Palocci -
Não critico a Heloisa Helena [que não concordou com a indicação de Meirelles para o BC]. Ela às vezes polemiza mais do que seria necessário.

Folha - Como ex-trotskista, o sr. julga necessária a crítica da esquerda petista?
Palocci -
Acho bom para o partido. Nunca fez mal ao PT ter posturas mais à esquerda em determinados momentos. Isso fez a riqueza do pensamento do PT, construiu a democracia do PT. Sempre digo para os prefeitos do PT: se na sua cidade não tiver oposição, cuidado, pode também não ter governo.
O contraditório é fundamental. Só precisamos zelar para que as contradições ocorram num ambiente solidário.

Folha - O Dirceu comanda a área política. O sr., a econômica. Quem comandará a área social?
Palocci -
O capitão do governo da área social é o presidente Lula. Ele não transfere a questão social pra ninguém.

Folha - O sr. sempre é citado como pré-candidato ao governo de São Paulo em 2006. Nessa fila também estão Aloizio Mercadante, José Genoino, José Dirceu, Marta Suplicy. Quem é o primeiro da fila?
Palocci -
Quando o presidente definiu que eu devia ir para a Fazenda, imediatamente disse a ele que estou fora de qualquer processo eleitoral, pelo menos a médio prazo.
É incompatível ter preocupações nesse campo e preparar qualquer candidatura. Terei a maior satisfação de apoiar qualquer um deles. É cedo para dizer o nome, as coisas são dinâmicas.

Folha - É a primeira vez que o sr. usa óculos?
Palocci -
Após os 40 anos, uma porcentagem muito pequena da população dispensa os óculos. Usei quando era jovem e, depois de um seis anos, fui renovar a receita. Aí, oculista disse que não precisava. Usei óculos à toa durante seis anos. Agora eu preciso, mais para leitura.


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