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HERANÇA MILITAR
Anúncio da liberação de documentos foi feito pela ministra Dilma Rousseff, perseguida pelo regime
Ex-guerrilheira "abre" arquivos da ditadura
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Coube a uma ex-guerrilheira, a
hoje ministra-chefe da Casa Civil,
Dilma Rousseff, anunciar ontem
o fim de um capítulo da ditadura
militar. Centenas de milhares de
documentos dos órgãos de investigação do regime foram transferidos ontem da sede da Agência
Brasileira de Inteligência para o
Arquivo Nacional de Brasília.
De acordo com Dilma e com integrantes do governo ligados à
transferência dos arquivos, todos
os documentos anteriores a 1975
-justamente o período mais duro do regime militar- estão liberados, porque não houve, em nenhum momento deste governo
ou do anterior, a renovação do sigilo sobre os papéis ultra-secretos, que têm prazo de 30 anos.
A ministra não quis dar certeza
de que todos os documentos foram transferidos de fato. "Não tenho a menor condição de afirmar
o que aconteceu nos anos anteriores, se estão intactos ou não."
Na prática o acesso a esses documentos ainda deve ser limitado, especialmente no começo.
Eles estão organizados, em grande parte, como fichas pessoais, e,
para não haver violação de direitos individuais, somente poderão
ser estudados com autorização
dos investigados.
"Tudo que se refere à intimidade, à vida privada, à honra e à
imagem das pessoas, há garantia
de acesso restrito ao diretamente
interessado, ao cônjuge, aos ascendentes ou descendentes. Aos
demais, as informações relativas a
terceiros estão protegidas, você
pode consultar desde que o nome
seja preservado, a não ser com a
expressa autorização", afirmou
Dilma ontem de manhã.
No entanto, segundo um integrante do governo responsável
pela transferência dos arquivos, a
intenção é que, agora que estão
sob cuidado de historiadores, os
documentos sejam classificados
por assuntos também. Assim, seria mais fácil seu estudo por pesquisadores e jornalistas, apenas
com a omissão dos nomes dos envolvidos nos episódios. Os arquivos devem estar abertos para consulta a partir de janeiro.
A medida dá um acesso mais
amplo aos arquivos. Antes, quem
quisesse saber o que havia sobre si
próprio, recebia um resumo da
Abin com as informações. Agora,
terá o número do documento, sua
origem e o teor, entre aspas.
Perseguida pelo regime militar,
a ministra estava emocionada.
Com fama de ser muito dura nas
negociações e com seus auxiliares,
ontem soltava frases sem terminá-las, embargava a voz e chegou
a ficar com os olhos marejados.
"Fico emocionada obviamente",
admitiu. "É muito importante um
país se redemocratizar, eu sou
fruto desse momento", complementou a ministra.
Depois de cerimônia para empossar o novo secretário especial
de Direitos Humanos, Paulo de
Tarso Vannuchi, 55, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva comentou a medida: "Só poderia ser
aberto quando a gente estivesse
preparado, a Dilma fez no momento certo, o Zé Dirceu [antecessor no cargo] já tinha trabalhado nisso...".
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