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STF foi submisso e Estado de Direito corre risco, diz bispo
Para d. Luiz, Lula foi "muito insensível" e decisão do Supremo, "desanimadora"
Marco Aurélio Mello nega subserviência do tribunal ao governo; "cada ministro se manifestou de acordo com o seu convencimento", disse
Edson Ruiz - 20.dez.2007/Folha Imagem
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A ex-senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) é recebida pelas irmãs de d. Luiz Cappio, em visita ao bispo no hospital de Petrolina (PE)
LUIZ FRANCISCO
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PETROLINA
Menos de 24 horas após encerrar um jejum de quase 23
dias contra o projeto de transposição de águas do rio São
Francisco, o bispo de Barra
(BA), dom Luiz Flávio Cappio,
61, fez ontem duras críticas ao
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva e ao STF (Supremo Tribunal Federal). Disse que a atitude do presidente durante seu
jejum foi "muito insensível" e
que o STF foi "subserviente" ao
Executivo ao liberar as obras.
Anteontem, Lula disse que o
Estado acabaria se cedesse à
greve de fome do bispo contra o
projeto, orçado em mais de R$
5 bilhões e considerado prioridade do governo. Na quarta-feira, o STF negou recurso solicitando a paralisação das obras e
cassou liminar que havia suspendido o projeto. No mesmo
dia, o bispo desmaiou após saber da decisão e foi internado.
"A decisão tomada pelo STF
é claramente subserviente porque, embora seja leigo nas causas jurídicas, as pessoas que entendem do assunto diziam que
os processos eram claríssimos,
não tinha como [o STF] não
olhar e dar um parecer favorável para que esta luta tivesse
um reforço do Judiciário para
ser levada adiante."
Internado em um hospital de
Petrolina (PE) para se recuperar dos problemas causados pela falta de alimentação, o bispo
respondeu a perguntas feitas
pela Folha no final da manhã
de ontem, por intermédio de
um sobrinho dele, que gravou
as respostas.
Dom Luiz classificou o resultado do julgamento do STF como "desanimador e decepcionante", e sugeriu que o governo
domina os outros Poderes. "Isso me deixa muito preocupado
porque quando um governo
tem o domínio do Legislativo
na mão direita e do Judiciário
na mão esquerda isso coloca
em xeque o Estado de Direito.
Será que estamos vivendo uma
nova ditadura?", questionou.
D. Luiz disse que encerrou o
jejum após ser persuadido por
seu médico, familiares e assessores. Afirmou ter sido convencido de que seu recado contra o
projeto estava dado.
O religioso, que já havia entrado em greve de fome pelo
mesmo motivo em 2005, descartou repetir a estratégia. Disse também não acreditar mais
na Justiça para paralisar as
obras. "Já foi confirmado que
as vias jurídicas no Brasil, infelizmente, são inócuas."
Sobre a campanha contra a
transposição, o bispo disse que
irá haver um "novo esquema de
combate". "A luta continua, essa foi apenas uma etapa. Novas
frentes de luta estão sendo
pensadas e vão surgir."
Ele afirmou que não teve
medo de morrer durante o jejum -"Depois de tanto tempo,
a gente fica espiritualmente
forte e nem mesmo a morte
causa medo"- e negou que o
fim do protesto represente
uma vitória do governo. "Nesta
luta não estamos procurando
derrotados ou vitoriosos."
O ministro do STF Marco
Aurélio Mello defendeu ontem
os colegas que votaram contra
a suspensão das obras de transposição. "Cada qual se manifestou de acordo com o seu convencimento." Ele lamentou o
resultado do julgamento, mas
negou que o tribunal tenha sido "subserviente" ao governo.
As obras foram liberadas por 6
votos contra 3. Ele deu um dos
votos favoráveis à paralisação.
"A prova [de que não há subserviência] está no recebimento da denúncia criminal do
mensalão, atingindo vários petistas", declarou Marco Aurélio
Mello.
A Folha procurou ouvir a
presidente do STF, ministra
Ellen Gracie, mas ela não respondeu.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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