São Paulo, sábado, 22 de dezembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

STF foi submisso e Estado de Direito corre risco, diz bispo

Para d. Luiz, Lula foi "muito insensível" e decisão do Supremo, "desanimadora"

Marco Aurélio Mello nega subserviência do tribunal ao governo; "cada ministro se manifestou de acordo com o seu convencimento", disse

Edson Ruiz - 20.dez.2007/Folha Imagem
A ex-senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) é recebida pelas irmãs de d. Luiz Cappio, em visita ao bispo no hospital de Petrolina (PE)

LUIZ FRANCISCO
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PETROLINA

Menos de 24 horas após encerrar um jejum de quase 23 dias contra o projeto de transposição de águas do rio São Francisco, o bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, 61, fez ontem duras críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao STF (Supremo Tribunal Federal). Disse que a atitude do presidente durante seu jejum foi "muito insensível" e que o STF foi "subserviente" ao Executivo ao liberar as obras.
Anteontem, Lula disse que o Estado acabaria se cedesse à greve de fome do bispo contra o projeto, orçado em mais de R$ 5 bilhões e considerado prioridade do governo. Na quarta-feira, o STF negou recurso solicitando a paralisação das obras e cassou liminar que havia suspendido o projeto. No mesmo dia, o bispo desmaiou após saber da decisão e foi internado.
"A decisão tomada pelo STF é claramente subserviente porque, embora seja leigo nas causas jurídicas, as pessoas que entendem do assunto diziam que os processos eram claríssimos, não tinha como [o STF] não olhar e dar um parecer favorável para que esta luta tivesse um reforço do Judiciário para ser levada adiante."
Internado em um hospital de Petrolina (PE) para se recuperar dos problemas causados pela falta de alimentação, o bispo respondeu a perguntas feitas pela Folha no final da manhã de ontem, por intermédio de um sobrinho dele, que gravou as respostas.
Dom Luiz classificou o resultado do julgamento do STF como "desanimador e decepcionante", e sugeriu que o governo domina os outros Poderes. "Isso me deixa muito preocupado porque quando um governo tem o domínio do Legislativo na mão direita e do Judiciário na mão esquerda isso coloca em xeque o Estado de Direito. Será que estamos vivendo uma nova ditadura?", questionou.
D. Luiz disse que encerrou o jejum após ser persuadido por seu médico, familiares e assessores. Afirmou ter sido convencido de que seu recado contra o projeto estava dado.
O religioso, que já havia entrado em greve de fome pelo mesmo motivo em 2005, descartou repetir a estratégia. Disse também não acreditar mais na Justiça para paralisar as obras. "Já foi confirmado que as vias jurídicas no Brasil, infelizmente, são inócuas."
Sobre a campanha contra a transposição, o bispo disse que irá haver um "novo esquema de combate". "A luta continua, essa foi apenas uma etapa. Novas frentes de luta estão sendo pensadas e vão surgir."
Ele afirmou que não teve medo de morrer durante o jejum -"Depois de tanto tempo, a gente fica espiritualmente forte e nem mesmo a morte causa medo"- e negou que o fim do protesto represente uma vitória do governo. "Nesta luta não estamos procurando derrotados ou vitoriosos."
O ministro do STF Marco Aurélio Mello defendeu ontem os colegas que votaram contra a suspensão das obras de transposição. "Cada qual se manifestou de acordo com o seu convencimento." Ele lamentou o resultado do julgamento, mas negou que o tribunal tenha sido "subserviente" ao governo. As obras foram liberadas por 6 votos contra 3. Ele deu um dos votos favoráveis à paralisação.
"A prova [de que não há subserviência] está no recebimento da denúncia criminal do mensalão, atingindo vários petistas", declarou Marco Aurélio Mello.
A Folha procurou ouvir a presidente do STF, ministra Ellen Gracie, mas ela não respondeu.


Colaborou a Sucursal de Brasília


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: D. Luiz come mamão e toma sopa de legumes
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.