São Paulo, terça-feira, 22 de dezembro de 2009

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Lula afaga PMDB e ironiza chapa puro-sangue tucana

Sobre Battisti, presidente diz não ter dado "palpite" ao STF e que, agora, a decisão é dele

Em café com jornalistas no CCBB, ele também afirma que o PT paulista precisa mudar política de alianças se quiser ganhar no Estado


Fotos Alan Marques/Folha Imagem
O presidente Lula em café da manhã com jornalistas no CCBB

MARIA CLARA CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ironizou ontem a eventual formação de uma chapa puro-sangue do PSDB para as eleições de 2010, com José Serra (SP) tendo Aécio Neves (MG) como vice, afagou o melindrado PMDB e disse que pode pedir a Ciro Gomes (PSB) para que desista de se lançar candidato a presidente.
A desistência de Aécio da pré-candidatura ao Planalto, anunciada na semana passada, é vista com desconfiança pelo presidente, que também diz que não sabe "se daria certo" a dupla Serra-Aécio -temida pelos governistas como a mais perigosa para as pretensões de Dilma Rousseff (Casa Civil) de suceder o chefe.
Em café da manhã com jornalistas no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), sede provisória do governo federal, Lula não falou mais em lista tríplice de peemedebistas para escolher o vice de Dilma.
O presidente fez duras críticas ao PT paulista, dizendo que o partido precisa mudar sua política de alianças se quiser ganhar eleição no Estado.

 



LISTA TRÍPLICE
Depois de um mal-entendido com caciques peemedebistas, Lula afirmou que a relação com o partido está tranquila. Atendeu a cobrança de lideranças da legenda, afirmando aos jornalistas que, "como o maior partido da base aliada, o PMDB tem todo o direito de indicar o vice na chapa". Lula diz que é Dilma quem tem de escolher o vice. Além de tentar colocar panos quentes na discussão, elogiou o presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP), nome mais cotado para a vaga a vice da ministra, e disse não acreditar que o PMDB migre para uma aliança com o PSDB.

PURO-SANGUE
Sobre o PSDB em 2010, afirmou não estar certo do sucesso de uma chapa composta por dois tucanos -Serra e Aécio. "Tenho dúvidas se Tostão-Tostão, Coutinho-Coutinho e Dirceu Lopes-Dirceu Lopes no mesmo time é a melhor coisa. Não sei se daria certo", disse, referindo-se à dupla do Cruzeiro Tostão e Dirceu Lopes, e a Coutinho, considerado o melhor parceiro de Pelé no Santos.
Lula afirmou ainda não saber se a desistência de Aécio é definitiva e se foi "uma forma de pressão ou uma coisa de dentro para fora". Diz que irá conversar com o mineiro. Para ele, a saída de Aécio "não muda nada" na campanha de Dilma.
Sobre o outro concorrente da ministra, Ciro Gomes, o presidente afirmou que pode pedir, mais para frente, que ele recue da candidatura à sua sucessão. "Se eu perceber que o jogo político não comporta mais de uma candidatura da base, tenho que ser leal e discutir com ele."
Comentou ainda as críticas feitas por Ciro à aliança entre PT e PMDB. "Temos que saber que temos que fazer alianças com partidos que existem, não podemos fazer com partidos extraterrestres."

PESQUISAS
Um dia depois da divulgação da pesquisa Datafolha -que mostrou Serra como líder isolado com 37% e Dilma em segundo com 23%, num cenário com Ciro- Lula tentou desqualificar a preferência do adversário. "Desde que começou o meu segundo mandato, o Serra está na frente das pesquisas. Pesquisa é igual campeonato [de futebol]. O Palmeiras estava na frente, aí apareceu o Flamengo [e foi campeão brasileiro]", disse. O tucano é torcedor do Palmeiras. Para Lula, a rejeição da ministra, de 21%, segundo o último Datafolha, não é preocupante. Segundo ele, Dilma continuará lançando obras até o limite legal, mas afirmou que a transferência de voto para a ministra é "complicada" -só teria funcionado com Leonel Brizola e Mario Covas.

PT-SP
Ainda sobre 2010, Lula disse acreditar que o PT em São Paulo esteja pecando, principalmente na formação de alianças. No começo, disse que o partido paulista tinha muitos caciques e que por isso ele não iria se meter nas eleições ao governo. Depois, em tom crítico, disse que eles sempre fazem alianças com a esquerda. "É a soma do 0 com o 0. Nunca agrega um segmento novo. O PT de lá precisa procurar um Zé Alencar, não sei se só um partido, se um empresário ou uma personalidade. A palavra é aliança política."
Ele lembrou que o partido nunca repetiu um candidato ao governo paulista e que isso, na sua avaliação, não é bom. "Se tem alguém com 5% dos votos, ele vai para 30% no decorrer da campanha. Em vez de partir daí [na próxima eleição], ele lança outro que tem 5%. 30% só ganhava a eleição quando não tinha segundo turno."

MENSALÃO DO DEM
Para o presidente, as denúncias de pagamento de propina envolvendo o governador do Distrito Federal José Arruda (ex-DEM) não colocam os partidos em pé de igualdade para as eleições de 2010. "Ética nunca foi secundária nem em campanha nem no cotidiano. O povo vai saber combinar comportamento ético dos candidatos e avaliar se a vida dele está melhorando ou não." Também disse que a "liturgia do cargo" não lhe permite fazer julgamento e que é preciso aguardar o fim das investigações.

BATTISTI
Ao ser questionado sobre o que faria com o caso do terrorista italiano Cesare Battisti, Lula respondeu irritado não se importar com o que diz o Supremo Tribunal Federal sobre o assunto. "Ele [o tribunal] teve a chance de fazer e eu não dei palpite. A decisão é minha e até lá não tenho mais comentários a fazer. Vou tomar a decisão que for melhor para o Brasil", disse, sem dar dicas se optará por mandar Battisti de volta à Itália ou não. Na semana passada, o STF tomou uma decisão que praticamente amarra à decisão de Lula ao tratado de extradição que o Brasil tem com a Itália, que prevê a entrega do terrorista; antes, o tribunal havia decidido que ele deveria ser extraditado, mas que a palavra final era do presidente.

BRASIL X EUA
Para o presidente, a relação com os Estados Unidos é "excepcional". Disse que ainda tem expectativa muito grande com o governo Obama e que é de esperar que o governo tenha problemas com o Congresso. "Continuo com uma expectativa muito grande com o governo Obama. Ele ainda vai ser uma surpresa muito grande."

IMPRENSA
Para o presidente, a liberdade de imprensa no país está sendo exercida como jamais foi antes, ressaltando a importância da Confecom (Conferência Nacional de Comunicação), realizada na semana passada em Brasília. A conferência, no entanto, aprovou várias sugestões que propõem controle da mídia -no seu programa de rádio, Lula as elogiou.


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