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São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 2003

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JANIO DE FREITAS

A verdade que falta

A explicação que Luiz Inácio Lula da Silva vem repetindo, para contestar que a política econômica do seu governo seja a continuidade da praticada pelo governo anterior, não tem fundamento e, de certo modo, até serve como confirmação do que pretende negar.
Dizer que a Carta ao Povo Brasileiro, lançada como peça da campanha eleitoral, fazia referência a um período de transição, é dizer uma verdade, mas exatamente a verdade que falta à política econômica do governo. Transição é o fim da permanência, é mudança de lugar, de forma ou de modo, é não estar mais na situação anterior sem chegar ainda à nova.
Desde a escolha do presidente do Banco Central até o recente e segundo aumento de juros, tudo o que foi feito ou dito em política econômica reproduziu, sem mudança alguma de concepção e de método, as práticas e os argumentos da política econômica do governo anterior. Ou seja, ainda não houve nem sequer o início de ação que sugira mudança, ou, nos termos adotados para a Carta, início de transição da política econômica ortodoxa e pró-"mercado" para alguma outra.
É evidente que Lula, os que executam a política econômica e o PT conhecem muito bem a relação indispensável entre transição e movimento de mudança, mesmo que só incipiente. Tanto que, na Carta, falaram em começar pelo período de transição e, na TV, Lula prometia que "a mudança de política econômica é tarefa para o primeiro dia" de seu governo. Transição e mudança eram conceitos devidamente associados.
Tal como a Carta, a promessa ficou impressa. Também indissociáveis, para que uma não se preste a distorções e escapismos contrários à outra - e à autenticidade dos fatos e das palavras.

Os grampos
As gravações de telefones na Bahia constituem um caso de alta gravidade.
Apesar de certas preferências por tratá-lo como assunto de conversa de comadres, na fofoquice das intimidades, o que está em questão neste caso, à espera da apuração de veracidades e responsabilidades, é o uso abusivo do poder de polícia, é a autoridade do Judiciário, são os direitos individuais fixados pela Constituição, são crimes eleitorais, é grossa corrupção envolvendo parlamentares, administração pública e empresas privadas.
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, moveu prontamente a Polícia Federal para investigar e identificar executores e mandantes das gravações. Mas a omissão do Congresso, diante dos indícios já conhecidos contra integrantes seus, é antidemocrática e, também ela, transgressora de princípios fixados pela Constituição.


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