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São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 2003

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BAHIAGATE

Presidente avalia que pefelista será cassado se insistir em enfrentar acusações de ser mandante de grampo ilegal

Lula articula queda rápida de ACM para evitar crise no Senado

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia que o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) deve renunciar ao mandato e vai, discretamente, articular essa saída para evitar que o Bahiagate contamine sua base congressual.
A Folha apurou que Lula acha que, se ACM insistir em enfrentar as acusações do Bahiagate até o fim, será cassado, mas deixará uma série de problemas para o Congresso e o governo.
O presidente deseja que ACM renuncie logo para evitar nova crise no Senado, o que poderia dificultar a tramitação das reformas e dos projetos que lhe interessam. Em 2001, a disputa entre ACM e Jader Barbalho (PMDB-PA), que se elegeu presidente do Senado, levou os dois à renúncia e causou séria crise política.
Nos bastidores, Lula e um emissário, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, deverão ter conversas com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AC), para incentivar a renúncia de ACM. Publicamente, o governo continuará com o discurso de que investigação política é assunto do Congresso e de que está fazendo a sua parte com a investigação da PF (Polícia Federal).
Segundo a Folha apurou, na noite de anteontem, sexta-feira, logo após o término do primeiro de reunião do presidente com os 27 governadores, Lula soube que as revistas "IstoÉ" e "Época" trariam reportagens muito negativas para ACM, ligando-o ao megagrampo ilegal na Bahia.
A "IstoÉ" revela na edição desta semana que ACM teria dito a um repórter da revista que mandara grampear o deputado federal Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), seu adversário político.
A "Época" trouxe reportagem sobre um depoimento da ex-namorada de ACM Adriana Barreto a procuradores dando conta de que o pefelista lhe mostrara trechos da escuta clandestina.
Informações da PF dadas a Lula também reforçaram a avaliação de que ACM está perdido. "É o fim da linha para ele [ACM]", disse Lula, segundo um auxiliar.
Nos bastidores, Sarney tem sido até agora o maior defensor de ACM e, por isso, é o canal para a articulação da renúncia. O agravamento da situação de ACM, porém, deverá levar Sarney a lavar as mãos, exatamente o que o governo fez semana passada, como revelou a Folha.
Na reabertura dos trabalhos do Congresso, no dia 17, José Dirceu foi ao Senado para uma conversa de 15 minutos com Sarney. Ironicamente, eles queriam evitar o telefone por temer grampo.
Dirceu disse a Sarney que o governo não defenderia ACM e que não poderia bancar um acordo para elegê-lo presidente de uma das mais poderosas comissões do Senado. Horas depois, ACM abandonou a candidatura à presidência da comissão.
Antes disso, Lula já orientara auxiliares a se descolar de ACM, avaliando que a situação ganhara "dinâmica própria" e que, nem que quisesse, poderia salvá-lo.
A articulação Lula-Sarney deverá ser rápida, a fim de tentar dissipar o clima para a instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito). Para o governo, uma CPI atrapalharia a tramitação das reformas.
A renúncia de ACM também evitaria desgastante investigação no Conselho de Ética do Senado. O PT, semana passada, barrou uma investigação propriamente dita do conselho e patrocinou a criação de uma comissão para acompanhar o inquérito da PF.
Resta saber se ACM, que tem dito publicamente que não renunciará, aceitará essa saída. A cúpula do PFL acredita que é a única.


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