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São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 2003

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NOVOS TEMPOS

Hotéis tiveram seu pior janeiro em anos, e aeroporto perdeu passageiros neste ano

Apesar de "romaria" para ver Lula, turismo agoniza em Brasília

Alan Marques/Folha Imagem
Vista geral da Ponte JK, no Lago Sul, em Brasília, um dos principais pontos turísticos da capital federal, em foto tirada à noite


RICARDO WESTIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Desde sua posse, há oito semanas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se tornou uma espécie de atração turística em Brasília. Diariamente, várias pessoas fazem plantão na saída ou chegada de Lula em sua residência oficial, o Palácio da Alvorada. Mas o aparente boom não se refletiu ainda na indústria de turismo.
Os hotéis da capital federal tiveram seu pior janeiro em anos. Incluindo o Réveillon, a taxa de ocupação foi de apenas 25%, de acordo com o Sindicato de Bares e Hotéis. No ano passado, em igual período, a ocupação foi de 37%. No aeroporto internacional, a movimentação de passageiros caiu 2,5% em comparação com janeiro do ano passado. Na rodoviária também houve queda, ainda que pequena, de 0,7%.
"O nosso presidente é a maior atração turística deste país", sustenta a ex-embaixatriz Lúcia Flecha de Lima, agora secretária de Turismo do Distrito Federal.
Uma explicação possível para a falta de impacto no setor hoteleiro é o perfil desse turista da era Lula. Sem muito dinheiro, boa parte dos visitantes que acompanharam a posse veio em caravanas e dormiu nos próprios ônibus ou em campings. Quem veio de carro ficou na casa de amigos. Ainda que isso não seja mensurável, há casos que sustentam a tese de que o padrão se manteve.
Um exemplo é o garçom Ariovaldo Mota Batista, 21. Ele diz que viajou 23 dias a pé entre a pequena Cariri do Tocantins e Brasília com o objetivo de conseguir o apoio de Lula para criar uma entidade social em sua cidade. Foram cinco dias de plantão no Alvorada, dormindo numa sala para a imprensa ao lado da portaria, até conseguir entregar seu projeto ao presidente.
Nos dias de espera, ele conheceu a arquitetura do palácio criado por Oscar Niemeyer, assistiu ao hasteamento da bandeira, acompanhou a troca de guarda dos Dragões da Independência e jogou moeda no espelho d'água.
A técnica em hotelaria Alicia Zambrana, 36, que levou dois amigos de Fortaleza para conhecer, de longe, a casa do presidente, diz: "É como jogar uma moedinha na Fontana di Trevi, em Roma, e assistir à troca da guarda da rainha no Palácio de Buckingham, em Londres. É estar na Europa sem sair do Brasil".
Comparações discutíveis à parte, existe um roteiro turístico "chapa-branca" em Brasília. É possível visitar o gabinete de Lula e outras dependências do Palácio do Planalto, que tem visitas guiadas aos domingos. Apropriadas para o bolso desses novos turistas, essas visitas não custam nada, assim como passeios a outros cenários da capital federal.
"Nem sabia que podia entrar nesses prédios", diz a advogada carioca Cristina Mendonça, 30, que foi conhecer o STF (Supremo Tribunal Federal), que tem visitas guiadas nos fins de semana e feriados. No museu do STF está um dos cinco exemplares originais da Constituição de 88.
Próximos ao Planalto e ao STF, na praça dos Três Poderes, a Câmara dos Deputados e o Senado recebem visitantes diariamente.
O maior hall de entrada sem colunas de sustentação da América Latina fica em Brasília. No Palácio do Itamaraty, casa da diplomacia brasileira, o guia mostra aos visitantes o salão de 2.200 mē, onde fica um jardim aquático de Burle Marx. No andar de cima, está a mesa onde a princesa Isabel assinou a abolição da escravidão, em 1888.

Ponte JK
Apesar de não ser obra de Niemeyer, a ponte JK acompanha o padrão monumental de Brasília e desde a inauguração, em dezembro, virou ponto de encontro de brasilienses e turistas. Sobre o lago Paranoá, liga o Plano Piloto ao bairro nobre do Lago Sul.
"Tem passageiro que sai do hotel para o aeroporto e, apesar de aumentar o caminho, pede para passar por aqui só para conhecer a ponte", conta o taxista José Fernandes, 43, que mora na cidade-satélite de São Sebastião e aproveita os fins de semana para caminhar com a família pela ponte, que custou R$ 160 milhões aos cofres públicos -além dos R$ 40 milhões previstos inicialmente pelo governo do Distrito Federal, o que gerou denúncias de superfaturamento.
A ponte foi projetada pelo arquiteto carioca Alexandre Chan, 60, e tem 1.200 metros de comprimento. Seus arcos, de longe, lembram o percurso de uma pedra quicando sobre a água.


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