São Paulo, segunda-feira, 23 de fevereiro de 2004

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PERFIL

Articulador da prefeita, Falcão quer vice de olho em 2006

Tuca Vieira - 29.ago.02/Folha Imagem
O secretário de Governo da Prefeitura de São Paulo, Rui Falcão


JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL

JOÃO CARLOS BOTELHO
DA REDAÇÃO

Um sujeito pouco conhecido dos paulistanos, formado na burocracia do PT, tem atuado nos bastidores da gestão Marta Suplicy com o objetivo de assumir o comando de São Paulo em 2006 sem precisar obter um único voto em seu nome para prefeito.
O principal trunfo de Rui Falcão é o fato de ter o apoio de Marta para ser o candidato a vice-prefeito na chapa de reeleição, além do aval do Planalto e de cerca de 80% do diretório do PT na cidade.
Caso vença em outubro, Marta passará a ser forte candidata ao governo do Estado em 2006. Porém, se quiser o Palácio dos Bandeirantes, terá de renunciar ao cargo no segundo ano do eventual novo mandato, o que abre caminho para Rui Falcão assumir.
A estratégia é de longo prazo, mas não inquieta Falcão, de 60 anos, um militante disciplinado e organizado, que foi guerrilheiro da VAR-Palmares no regime militar e permaneceu três anos como preso político na década de 70.
Tradicional quadro do PT -foi seu presidente em 94-, Falcão é hoje secretário municipal de Governo. É o responsável pela articulação política da prefeita, atuação que resultou na formação de uma ampla maioria na Câmara Municipal e na aprovação de todos os projetos de interesse de Marta. Na costura, entraram vereadores do PL, do PMDB e até do PP, do ex-prefeito Paulo Maluf.
Passou também pela mão de Falcão a distribuição aos aliados de cargos nas subprefeituras. Seu estilo ficou conhecido nos bastidores como "rolo compressor".
No ano passado, Falcão deixou suas digitais em duas substituições no secretariado de Marta. O petista bombardeou publicamente o então responsável pela pasta da Saúde, Eduardo Jorge, diante da resistência do secretário em alterar políticas públicas. À época, Jorge deixou o governo alegando ser contrário a nomeações políticas para cargos na sua pasta.
O então secretário de Finanças, João Sayad, entrou em conflito com Falcão ao resistir à liberação de verbas, o que causaria o sangramento dos cofres municipais. Para o grupo de Falcão, do qual faz parte o secretário do Abastecimento, Valdemir Garreta, a prefeita deveria entrar em ano eleitoral com obras pela cidade.
Ao deixar o cargo, Sayad disse que a motivação era pessoal. Procurado pela Folha para falar da relação com o secretário de Governo, foi lacônico: "Estou fora".

A vaga de vice
Mineiro de Pitangui, Falcão é duro na negociação. Seu estilo é quase o oposto do do atual vice, Hélio Bicudo (PT), chamado por petistas de "rainha da Inglaterra" -tem o posto, mas não o poder. A Folha apurou que Bicudo ficou insatisfeito por ter sido preterido.
O ex-governador Orestes Quércia (PMDB) é o maior entrave na indicação de Falcão para a vice. Ele ameaça não apoiar Marta se não indicar o segundo nome da chapa. Marta e Falcão, no entanto, tentam convencer Quércia prometendo mais espaço para o partido na futura administração.
O presidente do PT, José Genoino, foi o primeiro a ser sondado para compor a chapa, logo que perdeu a eleição para o governo estadual em 2002. Ele recusou.
Falcão, advogado e jornalista, é uma espécie de "José Dirceu da Marta", na comparação de aliados com o ministro da Casa Civil do presidente Lula. Sua atuação, no entanto, não avança para o gerenciamento do governo. Não chega, por exemplo, a despachar com os secretários nem cobrá-los, como faz Dirceu em Brasília.
"O Rui não é tão forte como o Dirceu. O [Luis] Favre não deixa", disse um petista próximo da prefeita referindo-se ao marido dela.
Em 2001, começo da gestão, Falcão e Favre tiveram uma disputa tácita por espaço na prefeitura.
Favre achava que o secretário de Governo e Garreta, então titular da Comunicação, estavam muito fortalecidos na administração. Atuou para reforçar a posição de outros grupos políticos a fim de diluir o poder de Falcão. A família Tatto, da qual faz parte o presidente da Câmara, Arselino Tatto, foi uma das beneficiadas.
A queda-de-braço levou à transferência de Garreta para o Abastecimento, mas o trabalho de Falcão como articulador político e o estilo discreto o credenciaram cada vez mais com a prefeita.
Tanto que Marta chegou a ir a uma reunião de apoiadores da candidatura Falcão a deputado federal em 2002 para pedir sua permanência no secretariado. Alegou dever a ele tudo o que o governo havia feito até o momento.

Experiência eleitoral
Sem contar as suplências, Falcão só se elegeu deputado estadual em 94. Em 90 e 98, conseguiu a condição de suplente na Assembléia paulista e na Câmara dos Deputados, respectivamente. A experiência em campanhas, no entanto, é antiga. Em 1978, atuou na de Fernando Henrique Cardoso ao Senado, pelo então MDB.
Em 1993, tornou-se vice-presidente nacional do PT, como representante da tendência de esquerda "Hora da Verdade", após um racha com a moderada "Articulação", de Lula e Dirceu.
Quando Lula se licenciou do comando do partido para a eleição presidencial de 1994, Falcão assumiu o posto e, como um dos coordenadores da campanha, dificultou a formação de alianças.
Dos embates que travou, Falcão guarda a relação conturbada com a ex-prefeita petista de São Paulo Luiza Erundina (1989-1992), hoje no PSB. Como presidente do diretório municipal, foi um dos maiores opositores internos da gestão da então colega, que deve disputar a prefeitura em outubro.
Falcão chegou a diretor de Redação da revista "Exame", cargo que deixou em 1988. Mantém uma mania desse tempo: com uma caneta na mão, corrige o português de todos os ofícios.
O secretário de Governo é casado pela segunda vez e tem três filhos. Bebe apenas socialmente, não fuma e, para amigos, gosta mesmo é dos bastidores do poder.


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