São Paulo, quarta-feira, 23 de fevereiro de 2005

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Fogoió identifica trecho da Bíblia lido

DA AGÊNCIA FOLHA, EM ALTAMIRA

"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos". Com a Bíblia na mão, Dorothy Stang leu a seus matadores o trecho -e mais dois outros- antes de receber seis tiros na manhã do sábado dia 12.
Ela escolheu o Evangelho segundo Mateus, capítulo 5. Ao versículo 6, sobre fome e sede de justiça, ela somou o 3 -"Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus"- e o versículo 9: "Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus".
Os trechos lidos por Dorothy foram identificados pelo delegado Marcelo Luz, da Polícia Civil de Altamira (PA), ao tomar o depoimento de Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, acusado de ser um dos assassinos. Ele confessou ter participado do crime.
Quando viu que Fogoió apontava uma arma para ela, Dorothy tirou a bíblia da bolsa, "sua única arma". Leu os três versículos. Fogoió se afastou e iniciou os disparos contra ela.
O relato da cena do crime à Folha foi feito por uma testemunha ocular: Dorothy foi abordada por dois homens em uma estrada no PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável) Esperança, em Anapu. Houve discussão.
A freira pediu a eles que não plantassem capim na área do PDS, pois atrapalhava a roça dos assentados. Um deles -que seria Clodoaldo Carlos Batista, o Eduardo- disse que, se ela arrancasse o capim plantado por eles, colocaria muitas vidas em risco. Fogoió então se afastou e apontou uma arma para a freira.

Disque-denúncia
O serviço de disque-denúncia colocado em funcionamento anteontem pelas Forças Armadas para auxiliar as investigações do caso Dorothy recebeu 27 ligações até ontem.
Denúncias sobre conflitos agrários e desmatamento também são recebidos pelo número (0800-916 444), que funciona gratuitamente. A maior parte das denúncias recebidas, segundo o Exército, se referiam ao assassinato da freira.
A operação Pacajá, ação das Forças Armadas para controlar os focos de tensão no Pará, está patrulhando 18 localidades no Pará. Há 2.077 homens na ação, agindo direta ou indiretamente. (KB)


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