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No Piauí, CEF pede explicações a pai de caseiro
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TERESINA
O empresário Eurípedes Soares da Silva foi chamado na manhã de anteontem pela gerência da CEF (Caixa Econômica
Federal) onde tem conta, em
Teresina, para explicar os depósitos feitos para Francenildo
dos Santos Costa, o Nildo, o caseiro que teve o sigilo bancário
violado após contradizer o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho.
Segundo o advogado de Soares, Francisco de Sales Palha
Dias, o empresário foi questionado sobre o valor dos depósitos feitos ao caseiro porque, de
sua conta bancária, só havia
duas transferências para a conta de Francenildo, uma de R$
10 mil e outra de R$ 5.000.
"Como já foi confirmado por
ele mesmo e pelo caseiro que o
valor total dos depósitos foi de
R$ 25 mil, quiseram saber de
onde saíram os outros R$ 10
mil que não aparecem no extrato", disse o advogado.
A Superintendência da CEF
no Piauí não sabia da cobrança
de explicações feita a Soares,
segundo a assessoria de imprensa do banco. O gerente-geral da agência onde o empresário tem conta negou que tenha
havido ordem superior para o
questionamento.
"Foi uma consulta informal,
já que ele é nosso cliente antigo.
Como temos uma relação muito próxima com os nossos correntistas, decidimos chamá-lo
para conversar e ver se está tudo bem", disse o gerente.
Segundo o próprio gerente, o
empresário não tinha obrigação de dar explicações. "O dinheiro é dele e ele pode usá-lo
como quiser, mas, quando percebemos algo diferente, procuramos nossos clientes, até para
dar algum apoio."
Ao banco, o empresário afirmou que os primeiros R$ 10
mil pagos ao caseiro foram entregues em dinheiro e tiveram
como origem um velho amigo,
Antônio Alves Filho.
O dinheiro, na ocasião, foi
entregue ao próprio Francenildo, como confirmou sua mãe,
Benta Maria dos Santos Costa,
e ele mesmo fez o depósito em
sua conta, numa agência da
Caixa em Brasília. As outras
parcelas foram pagas por meio
de transferências bancárias.
Ainda de acordo com Palha
Dias, Soares decidiu dar os R$
25 mil ao caseiro para evitar
que ele dissesse à sua família
que era seu filho bastardo. O
empresário nega, contudo, a
paternidade. O advogado afirma que ele só vai fazer um exame de DNA, como quer o caseiro, se a Justiça determinar.
"Não há nenhum tipo de envolvimento político, nem direto nem indireto. Tudo foi pago
com dinheiro próprio, por uma
questão de família", disse.
Ônibus
Eurípedes Soares da Silva, 72,
começou a operar sua empresa, Viação E. Soares, no Piauí,
há cerca de trinta anos. No início eram poucos ônibus, seis
no máximo, e ele mesmo dirigia e consertava os veículos.
A frota hoje tem pouco mais
de 20 ônibus, com trajetos intermunicipais fixos, de Teresina a áreas rurais de cidades da
região metropolitana. Não há
ônibus novos. A maioria deles
está sucateada. O primeiro que
Soares comprou ainda faz parte da frota.
Entre os destinos está Nazária (a 20 km da capital), cidade
natal do caseiro Francenildo
dos Santos Costa, e onde vive
até hoje a família dele.
Foi numa dessas viagens à cidade que Soares conheceu a
mãe do caseiro, Benta Maria,
como ela mesma conta. Benta
Maria afirma que foi para afastá-lo da idéia de procurar o pai
biológico que decidiu levar Nildo para Brasília, em 1995.
O primeiro contato entre eles
aconteceu no final do ano passado, quando o caseiro ameaçou dizer à família do empresário que era seu filho. Em troca
do silêncio, Soares ofereceu R$
25 mil a ele, segundo o advogado do empresário.
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