São Paulo, quinta-feira, 23 de março de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DA IMPUNIDADE

Parecer pró-cassação de Wanderval Santos (PL) tem 15 votos a menos que o necessário

Deputados absolvem sexto envolvido no "mensalão"

FÁBIO ZANINI
CYNTHIA GARDA

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O quórum baixo salvou ontem o mandato do deputado Wanderval dos Santos (PL-SP), que se tornou assim o sexto a ser absolvido em conexão com o escândalo do "mensalão". Em uma situação inédita na atual crise, mais deputados votaram pela cassação do que contra, mas aquém do mínimo necessário de 257 votos (maioria absoluta).
Faltaram 15 votos: foram 242 pela perda de mandato e 179 contra. Houve 20 abstenções e 3 votos em branco. Não compareceram à sessão 68 deputados -destes, 12 chegaram a marcar presença na portaria da Câmara, mas não votaram no plenário.
Mais um parlamentar, o petista João Magno (MG), era julgado pelo plenário às 23h de ontem, também com forte tendência de se salvar. O quórum era ainda menor: apenas 390 presentes, o que levou PFL e PSDB a tentar adiar a votação, mas sem sucesso. O julgamento ainda não havia sido encerrado até o fechamento desta edição. Tanto Magno como Wanderval tiveram a cassação pedida pelo Conselho de Ética.
O desinteresse de vários parlamentares durante toda a sessão contribuiu para a absolvição. Apenas 12 deputados ouviram o discurso do relator, Chico Alencar (PSOL-RJ). No final, votaram 444 deputados, 40 a menos do que é considerado uma margem segura. Como comparação, na cassação de José Dirceu (PT-SP) estiveram presentes 495 parlamentares.
Wanderval acabou beneficiado pela baixa mobilização em partidos governistas e de oposição. No PFL, deixaram de votar 10 deputados, 15,8% da bancada. No PSDB, foram 6 ausentes (11,1%), enquanto no PT, 8 parlamentares não apareceram para votar (9,75%). O PMDB foi um dos mais presentes: apenas 4 deputados (4,8%) não votaram.
O placar do "mensalão" registra até agora apenas três cassações: de Dirceu, Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Pedro Corrêa (PP-PE). Quatro outros renunciaram e cinco ainda precisam ser julgados pelo plenário.

Terceirização
A principal acusação contra Wanderval, formulada por Chico Alencar, foi a de ele ter "terceirizado" seu mandato para a Igreja Universal do Reino de Deus, do qual era bispo até o início do escândalo. No decorrer das investigações, o deputado acabou tendo de sair da igreja.
Investigação da CPI dos Correios comprovou o saque de R$ 150 mil do valerioduto. Um de seus assessores, Célio Marques Siqueira, retirou a quantia de uma conta no Banco Rural por autorização escrita de Simone Vasconcelos, diretora financeira da agência SMPB, do publicitário Marcos Valério de Souza.
A princípio, Wanderval negou o saque e depois o atribuiu ao assessor, que agiria a mando do ex-deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ).
Rodrigues, outro ex-bispo da Universal, renunciou no ano passado. Ele era o coordenador político da igreja e tinha ascendência sobre os demais parlamentares, segundo admitiu Wanderval.
Veio daí a acusação do relator de que o deputado subordinou seu mandato ao de outro parlamentar, em regime de "comodato". "O deputado Wanderval Santos reiterou que sua igreja tinha uma estrutura hierárquica. Chegou a nos dizer que só foi candidato porque a igreja, detentora do seu mandato, segundo ele, assim o decidiu", afirmou Alencar.
O relator considerou frágil a argumentação do deputado do PL. Disse que Wanderval tinha uma relação de "parceria e sociedade" com Rodrigues e que por isso tinha de assumir responsabilidade pelos atos de seu assessor.

Covardia
Wanderval, em sua defesa, repetiu que não sabia do saque nem a quem era destinado. "A verdade é que eu não sabia, não autorizei, não recebi e nem permiti que se recebesse qualquer valor do sr. Marcos Valério", afirmou.
Chorando em vários momentos de seu discurso, Wanderval negou que seu mandato se subordinasse ao de Rodrigues ou seguisse as orientações da Universal. Disse que sofria perseguição em razão de seus "postulados de fé" e, numa manobra que surpreendeu alguns deputados, jogou toda a responsabilidade sobre Rodrigues, seu ex-aliado político.
"Quem deveria estar aqui respondendo é o ex-deputado Carlos Rodrigues, mas a covardia o levou a renunciar", declarou.


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