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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DA IMPUNIDADE
Parecer pró-cassação de Wanderval Santos (PL) tem 15 votos a menos que o necessário
Deputados absolvem sexto envolvido no "mensalão"
FÁBIO ZANINI
CYNTHIA GARDA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O quórum baixo salvou ontem o
mandato do deputado Wanderval dos Santos (PL-SP), que se tornou assim o sexto a ser absolvido
em conexão com o escândalo do
"mensalão". Em uma situação
inédita na atual crise, mais deputados votaram pela cassação do
que contra, mas aquém do mínimo necessário de 257 votos
(maioria absoluta).
Faltaram 15 votos: foram 242
pela perda de mandato e 179 contra. Houve 20 abstenções e 3 votos
em branco. Não compareceram à
sessão 68 deputados -destes, 12
chegaram a marcar presença na
portaria da Câmara, mas não votaram no plenário.
Mais um parlamentar, o petista
João Magno (MG), era julgado
pelo plenário às 23h de ontem,
também com forte tendência de
se salvar. O quórum era ainda menor: apenas 390 presentes, o que
levou PFL e PSDB a tentar adiar a
votação, mas sem sucesso. O julgamento ainda não havia sido encerrado até o fechamento desta
edição. Tanto Magno como Wanderval tiveram a cassação pedida
pelo Conselho de Ética.
O desinteresse de vários parlamentares durante toda a sessão
contribuiu para a absolvição.
Apenas 12 deputados ouviram o
discurso do relator, Chico Alencar (PSOL-RJ). No final, votaram
444 deputados, 40 a menos do que
é considerado uma margem segura. Como comparação, na cassação de José Dirceu (PT-SP) estiveram presentes 495 parlamentares.
Wanderval acabou beneficiado
pela baixa mobilização em partidos governistas e de oposição. No
PFL, deixaram de votar 10 deputados, 15,8% da bancada. No
PSDB, foram 6 ausentes (11,1%),
enquanto no PT, 8 parlamentares
não apareceram para votar
(9,75%). O PMDB foi um dos
mais presentes: apenas 4 deputados (4,8%) não votaram.
O placar do "mensalão" registra
até agora apenas três cassações:
de Dirceu, Roberto Jefferson
(PTB-RJ) e Pedro Corrêa (PP-PE). Quatro outros renunciaram
e cinco ainda precisam ser julgados pelo plenário.
Terceirização
A principal acusação contra
Wanderval, formulada por Chico
Alencar, foi a de ele ter "terceirizado" seu mandato para a Igreja
Universal do Reino de Deus, do
qual era bispo até o início do escândalo. No decorrer das investigações, o deputado acabou tendo
de sair da igreja.
Investigação da CPI dos Correios comprovou o saque de R$
150 mil do valerioduto. Um de
seus assessores, Célio Marques Siqueira, retirou a quantia de uma
conta no Banco Rural por autorização escrita de Simone Vasconcelos, diretora financeira da agência SMPB, do publicitário Marcos
Valério de Souza.
A princípio, Wanderval negou o
saque e depois o atribuiu ao assessor, que agiria a mando do ex-deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ).
Rodrigues, outro ex-bispo da
Universal, renunciou no ano passado. Ele era o coordenador político da igreja e tinha ascendência
sobre os demais parlamentares,
segundo admitiu Wanderval.
Veio daí a acusação do relator
de que o deputado subordinou
seu mandato ao de outro parlamentar, em regime de "comodato". "O deputado Wanderval Santos reiterou que sua igreja tinha
uma estrutura hierárquica. Chegou a nos dizer que só foi candidato porque a igreja, detentora do
seu mandato, segundo ele, assim
o decidiu", afirmou Alencar.
O relator considerou frágil a argumentação do deputado do PL.
Disse que Wanderval tinha uma
relação de "parceria e sociedade"
com Rodrigues e que por isso tinha de assumir responsabilidade
pelos atos de seu assessor.
Covardia
Wanderval, em sua defesa, repetiu que não sabia do saque nem a
quem era destinado. "A verdade é
que eu não sabia, não autorizei,
não recebi e nem permiti que se
recebesse qualquer valor do sr.
Marcos Valério", afirmou.
Chorando em vários momentos
de seu discurso, Wanderval negou que seu mandato se subordinasse ao de Rodrigues ou seguisse
as orientações da Universal. Disse
que sofria perseguição em razão
de seus "postulados de fé" e, numa manobra que surpreendeu alguns deputados, jogou toda a responsabilidade sobre Rodrigues,
seu ex-aliado político.
"Quem deveria estar aqui respondendo é o ex-deputado Carlos
Rodrigues, mas a covardia o levou
a renunciar", declarou.
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