Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Se combinou, tem de entregar", diz Walfrido
Articulador político do governo, que toma posse hoje, afirma que irá aperfeiçoar liberação de emendas parlamentares
Ministro prevê que governo de coalizão deve ter muitos candidatos nas eleições de 2010 por falta de "um líder, como o Lula, que nos una"
Gustavo Miranda/Agência O Globo
|
Walfrido e Marta durante encontro no gabinete do Ministério do Turismo, futura sala da petista |
VALDO CRUZ
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Novo ministro das Relações
Institucionais, Walfrido Mares
Guia, 64, diz que, "se você combinou, tem de entregar", ao
prometer aperfeiçoar o sistema
de liberação de emendas parlamentares para melhorar o relacionamento com a base aliada.
Walfrido prevê que, em 2010,
o governo de coalizão "provavelmente vai ter muitos candidatos". Segundo ele, PT, PMDB
e PSB podem lançar nomes para suceder o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Motivo:
"Não temos um líder, como o
Lula, que nos una".
Novo coordenador político
do governo, ele toma posse hoje
apontando como suas prioridades votar o PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento), o
PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação) e as reformas política e tributária.
FOLHA - Como não-petista, o sr.
não teme sofrer boicote do PT, como
aconteceu com Aldo Rebelo?
WALFRIDO MARES GUIA - Não. Começa um novo mandato, um
governo de coalizão. O primeiro mandato foi um governo
mais do PT. Agora o presidente
se elegeu numa coalizão enorme. E a formação de um governo de coalizão não implica que
essa ou aquela pasta tenha de
ser desse ou daquele partido.
FOLHA - O PAC completa dois meses sem uma medida provisória votada, as reformas tributária e política não caminharam. A demora da
reforma ministerial não prejudica a
estratégia legislativa do governo?
Lula não está errando?
WALFRIDO - Não. O governo foi
reeleito há cinco meses, mas
começou o segundo mandato
em janeiro. O Congresso só tomou posse em fevereiro. O PAC
foi apresentado muito recentemente, menos de 60 dias.
FOLHA - Indefinição de líderes e ministros estimulou mais de cem deputados da base a assinar a requerimento da CPI do Apagão aéreo.
WALFRIDO - Não concordo.
Aquelas assinaturas não foram
por presença ou por ausência
de novos ministros. E muitos
quiseram tirar depois.
FOLHA - Por que o sr. é contra a
criação da CPI do Apagão Aéreo?
WALFRIDO - Se é só política, prejudica o país. Todas as informações em relação à Anac [Agência Nacional de Aviação Civil] e
aos controladores de vôo estão
lá no Congresso.
FOLHA - Há chance de o STF mandar instalar a CPI.
WALFRIDO - Se mandar, instalamos. Aprende-se em lições primárias sobre democracia que
decisão de tribunal se acata. Se
não gostou, recorra.
FOLHA - A decisão de barrar a CPI
não é resultado da crise que Lula viveu com a CPI sobre o escândalo do
mensalão, atingindo o governo?
WALFRIDO - O presidente não
tem medo da crítica, porque
tem lisura na conduta pessoal.
FOLHA - No primeiro mandato, a
base congressual reclamou da não
liberação de emendas.
WALFRIDO - Parto da premissa
de que as relações têm de ter
respeito, apoio e confiança.
Tem de ouvir as vozes no Congresso. No primeiro mandato,
nossa coalizão não tinha estrutura tão formal como agora.
FOLHA - No primeiro mandato, Lula não teve base sólida no Congresso
e até gerou o mensalão. Como evitar isso?
WALFRIDO - Gerou mensalão está nas suas palavras. Mensalão
é outra história. Quero deixar
claro que a base tem de ser
atendida não só com liberação
de emendas mas também alimentada com informações.
Vamos fazer um aperfeiçoamento. As emendas individuais
são feitas de acordo com a
Constituição. Os deputados sabem o que falta nos Estados.
A emenda é um instrumento
de enorme eficácia. Temos que
fazê-lo funcionar. Criar critérios de mútuo respeito, se você
combinou, tem de entregar.
FOLHA - O presidente diz que o sr.
vende geladeira no pólo Norte. O sr.
será o primeiro ministro a conseguir
entregar emendas aos deputados?
WALFRIDO - Se tiver a colaboração dos meus companheiros,
vamos fazer para o resto da Esplanada o que fizemos no Turismo. Dá trabalho? Dá.
Mas dá mais trabalho ir ao
Congresso consertar um ambiente de insatisfação porque
um ou outro não deu a atenção
devida ao Congresso. Tem de
cumprir. Ou então dizer que
para tal área nós não temos
condições de atender emendas.
FOLHA - Como será sua relação
com a oposição?
WALFRIDO - Converso com a
oposição todo dia. Se não conversar, fica parecendo que o governo tem de ter um Exército
armado aqui para votar tudo
sem tomar conhecimento do
outro pedaço da população que
não apóia o governo. A idéia de
tratorar a oposição é péssima.
FOLHA - Quais são as prioridades?
WALFRIDO - Votar o PAC, o Plano de Desenvolvimento de
Educação e a agenda de reformas, política e tributária, tudo
isso conectado com o conselho
político, com os governadores e
articulado com o Congresso.
FOLHA - Na reforma política, quais
pontos o sr. defende?
WALFRIDO - Fidelidade, voto
distrital misto, financiamento
público de campanha ao menos
para cargos majoritários. Cláusula de barreira que dê aos partidos chance de se reaglutinar.
FOLHA - Quem o sr. pode apoiar na
disputa em 2010? O sr. apoiou o deputado Ciro Gomes em 2002?
WALFRIDO - Sou amigo do Ciro,
um dos maiores quadros que o
país tem, mas é absolutamente
prematuro discutir 2010.
FOLHA - Do governo de coalizão
pode sair mais de um candidato?
WALFRIDO - Pode. Em 2010, pelo fato de Lula não ser candidato, provavelmente teremos
muitos candidatos. Somos
muitos partidos e não temos
um líder, como o Lula, que nos
una. E a oposição também não
terá um candidato só.
Texto Anterior: Franklin Martins vai chefiar pasta de comunicação Próximo Texto: Perfil: Ministro já apoiou tucanos e Ciro Gomes Índice
|