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São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 2003

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CONSENSO MÍNIMO

Presidente admite que algumas pessoas serão prejudicadas

Lula cita Jesus para justificar "sacrifícios" com as reformas

Fábio Vicentini/"Gazeta de Vitória"
O presidente Lula, de sunga, caminha em praia de Vitória (ES)


DA ENVIADA A VITÓRIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recorreu a Jesus Cristo para defender a necessidade das reformas tributária e previdenciária para o país. Em seu discurso, reconheceu que pontos das reformas podem prejudicar algumas pessoas -como a cobrança dos inativos-, mas afirmou que a sociedade precisa pensar no todo.
"Alguém vai perder? Vai. Alguém vai pagar mais? Vai. Mas é assim a vida. Jesus Cristo foi crucificado para salvar a humanidade. Por que cada um de nós não coloca o seu sacrifício para salvar esse imenso Brasil que tanto precisa de nós?", perguntou o presidente durante evento para políticos do Espírito Santo.
Lula, que vem recebendo críticas principalmente dos aliados petistas, que censuram a reforma previdenciária com um teto único para servidor público e funcionário de iniciativa privada, afirmou que comprou a briga porque foi eleito para mudar o país. "Não sou como os outros presidentes. Tenho uma história. Para mim seria muito mais cômodo fazer os outros fizeram, ir empurrando com a barriga. Afinal, porque vou me desgastar com os meus companheiros que me elegeram?"
E em seguida respondeu: "Porque tenho um filho de 18 anos, e, daqui a 30 ou 40 anos, ele tem de ter direitos. E, se os Estados brasileiros continuarem do jeito que estão, ninguém terá direito neste país porque não haverá dinheiro para pagar [as aposentadorias]."
Segundo ele, as reformas irão continuar, independentemente das posições pessoais.
Para explicar a necessidade das reformas, Lula recorreu novamente a uma metáfora sobre futebol. "Tudo começa com as reformas que vamos fazer. Vamos precisar de compreensão, porque em toda mudança tem gente que chora, tem gente que critica, tem gente que gosta. Você já viu algum jogador de futebol gostar de ser substituído? Reforma também tem problemas. Ou nós fazemos a reforma tributária ou este país não será competitivo", afirmou.
Disse que suas viagens serão constantes para conhecer de perto os problemas do Brasil. "Outro presidente que viajou o país foi JK [Juscelino Kubitschek]. A elite inteligente brasileira gosta mais de Paris e de Roma." O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ao deixar o governo, passou três meses de férias em Paris.

Aposentadoria adiada
O governo decidiu incluir na reforma da Previdência um dispositivo para estimular servidores públicos que já podem se aposentar a permanecer na atividade.
A proposta de emenda constitucional dará a isenção da contribuição previdenciária até 70 anos para funcionários que continuarem trabalhando. O artigo 3º da Emenda 20 (reforma previdenciária do governo FHC) prevê a isenção de contribuição para servidores que, apesar de já poderem se aposentar, permanecem na ativa até os 60 anos. O Ministério da Previdência propôs a elevação da idade para 70 anos.
Ainda nesta semana, a Previdência enviará um comunicado a todos os servidores para tentar conter uma corrida às aposentadorias por causa da reforma.
(LILIAN CHRISTOFOLETTI)

Colaborou JULIANNA SOFIA, da Sucursal de Brasília


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