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Erenice pode ser "sacrificada" se PF concluir que Casa Civil fez dossiê
VALDO CRUZ
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apreensivo com o desfecho
das investigações da Polícia Federal sobre o dossiê com gastos
do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso, o governo
cogita em última hipótese atribuir ao braço direito da ministra Dilma Rousseff, a secretária-executiva da Casa Civil,
Erenice Guerra, a responsabilidade pelo viés político na coleta
e organização dos dados.
Essa possibilidade não conta
com a simpatia da ministra,
mas é avaliada por assessores
do governo como inevitável caso a PF aponte, ao final do inquérito, que o dossiê foi elaborado naquele formato dentro
da Casa Civil, diferentemente
da última versão apresentada
por Dilma, segundo a qual o documento teria sido montado a
partir de dados do Planalto.
As investigações fugiram ao
controle do Planalto e, até a
conclusão dos trabalhos da Polícia Federal, a estratégia do governo é manter Dilma o mais
distante possível da crise do
dossiê. A ministra fica no exterior até o final do mês.
No Planalto, há quem avalie
como erro o governo não ter
admitido que o dossiê havia sido elaborado por funcionários
da Casa Civil como instrumento de defesa na luta política, na
busca de comparar gastos do
tucano com os de Lula.
Fora o temor com o desfecho
das investigações, assessores
do presidente crêem que, passado o desgaste pessoal, Dilma
poderia obter dividendos numa
eventual corrida à sucessão de
2010 por se tornar mais conhecida e se apresentar como vítima no episódio.
A crise estaria ainda impondo uma revisão no comportamento de Dilma -considerado
arrogante e explosivo, incompatível com uma campanha.
Dilma Rousseff está calada
sobre o dossiê há mais de duas
semanas e pretende manter esse silêncio até o início de maio.
Em entrevista de 4 de abril, a
chefe da Casa Civil reconheceu
que anotações com viés político
lançadas na planilha não seriam compatíveis com um trabalho burocrático de organização das prestações de contas de
FHC. Mas ela insistiu na versão
de que as planilhas teriam sido
"montadas" a partir de dados
organizados por sua equipe.
Naquela altura, a Casa Civil
acreditava que manteria as investigações restritas a uma comissão de sindicância interna e
ao ITI (Instituto Nacional de
Tecnologia da Informação),
ambos subordinados a Dilma.
A PF entrou no caso na semana seguinte, e a escolha do delegado Sérgio Menezes frustrou a
intenção da cúpula política do
governo de limitar o objetivo
do inquérito a apontar o autor
do vazamento do dossiê.
Há risco de a perícia nos
computadores apreendidos na
Casa Civil desmontar as versões de "montagem" e de que a
equipe da ministra Dilma
Rousseff teria lançado informações do governo tucano em
uma base de dados paralela e
num formato diferente do sistema oficial de controle de suprimento de fundos, o Suprim,
por problemas tecnológicos.
Caso isso ocorra, alguém teria de ser sacrificado. Essa pessoa pode ser Erenice Guerra,
que assumiu a responsabilidade por montar a base de dados
sobre os gastos de FHC.
Assessores da ministra chegaram a levantar suspeita de
que o vazamento poderia ser
obra de alguém da equipe de
Aparecido Nunes Pires, secretário de Controle Interno da
Casa Civil. A amigos, ele disse
que temia ser o bode expiatório
da crise. Ele nega qualquer envolvimento no vazamento.
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