|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SISTEMA FINANCEIRO
Luiz Bragança é irmão de ex-sócio do ex-presidente do BC
Amigo de Lopes negociou
ajuda ao Marka, diz Cacciola
MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília
Luiz Bragança,
amigo de Francisco Lopes e irmão de seu ex-sócio na empresa de consultoria Macrométrica, intercedeu
junto do ex-presidente do Banco
Central em favor do Banco Marka.
O contato ocorreu no dia em que o
BC socorreu a instituição.
A informação aparece no depoimento que o dono do Marka, Salvatore Cacciola, deu à comissão de
sindicância do Banco Central na
última terça-feira. Segundo o relato de Cacciola, Luiz Bragança foi à
casa de Lopes às 8h do dia 14 de janeiro. Na ocasião, teria feito uma
exposição ""a respeito da situação
aflitiva do Banco Marka".
Bragança viajou a Brasília num
jatinho fretado pelo Marka na empresa Líder Taxi Aéreo. A empresa
confirma a viagem.
No vôo, além de Luiz Bragança
(irmão de Sérgio Bragança, sócio
da Macrométrica), estavam Cacciola e o consultor Rubem Novaes.
Este último é apontado como intermediário num suposto esquema de informações privilegiadas.
Foi ele quem apresentou Luiz Bragança a Cacciola em 97.
As investigações em curso no BC,
no Ministério Público, na Polícia
Federal e na CPI do Senado apuram a participação dos irmãos
Bragança e de Rubem Novaes nesse suposto esquema de vazamento
de informações.
O depoimento de Cacciola, em
que ele relata o encontro entre Bragança e Lopes, contraria declarações do ex-presidente do BC segundo as quais ele não teria participado das negociações para o socorro ao Marka.
Ao relatar que Rubem Novaes
veio a Brasília no mesmo vôo, Cacciola também contraria nota divulgada pelo consultor negando vínculos com a operação ou contatos
recentes com diretores do Marka.
Amizade útil
A presença de Luiz Bragança na
missão foi atribuída, pelo próprio
Cacciola, à amizade que ele mantinha com Lopes: ""...Sabia que o senhor Bragança mantinha relações
pessoais de amizade com o senhor
Francisco Lopes (seriam amigos
de infância) e isso poderia ser útil
no desenrolar das negociações".
""Diante da angústia em que se
encontrava no dia 13 de janeiro, o
declarante (Cacciola), necessitando de algum tipo de apoio ou assessoria, telefonou para o senhor
Rubem Novaes e para o senhor
Luiz Augusto Bragança, para que
estes o acompanhassem em sua
viagem para Brasília", registra o
termo de declaração do dono do
Marka ao BC.
Salvatore Cacciola relata que, na
conversa com Bragança na manhã
do dia 14 de janeiro, Lopes afirmara ""não vislumbrar uma solução
para o caso".
Ocorre que, no decorrer desse
mesmo dia, a diretoria do Banco
Central aprovou operações de venda de dólar futuro da Bolsa de Mercadorias & Futuros para socorrer
instituições em dificuldades. O socorro beneficiou o Marka e o Fonte
Cindam e custou R$ 1,5 bilhão ao
Banco Central.
Cacciola tomou a iniciativa de dizer à sindicância do BC que o
""apoio" prestado por Novaes e
Bragança não fora remunerado,
saíra de graça, ""até porque entende que não houve prestação de nenhum serviço".
Antes de Bragança procurar pessoalmente Lopes, o próprio Cacciola teria tentado, sem sucesso,
um contato pessoal com o ex-presidente do BC no dia da substituição do comando do banco e da
mudança da política cambial.
Depois da intervenção de Bragança, Cacciola teria voltado ao
BC, já no dia 15, ""para tratar das
formalizações finais a respeito da
solução adotada para o Banco
Marka". Nessa altura, Bragança
voltou ao Rio de Janeiro.
Os interlocutores de Cacciola no
BC teriam sido o assessor da presidência Alexandre Pundek e dois
funcionários do departamento de
Fiscalização (senhora Teresa e senhor Aguiar, não identificados). A
lista não inclui diretores do BC.
Numa das idas do presidente do
Marka ao BC, ele escreveu um bilhete para Lopes, encontrado na
busca realizada em sua casa, pedindo condições melhores do BC.
No texto, aparece grifada a expressão ""esquecer tudo". À comissão,
Cacciola insistiu em que ""a expressão não significava esquecer nenhum fato desabonador em relação a Francisco Lopes".
Durante o seu primeiro depoimento ao BC, que durou sete horas
e 20 minutos, o dono do Marka negou conhecer esquema de vazamento de informações privilegiadas do BC ou ter acesso a ele.
""Na verdade, o que foi colocado é
que o mercado e algumas consultorias esperavam que, se fosse haver alguma alteração na política
cambial, ela só ocorreria a partir de
fevereiro", declarou o dono do
Marka, tentando justificar por que
apostara contra a desvalorização
do real.
Encarregado pelo presidente
Fernando Henrique Cardoso de
preparar a desvalorização da moeda, Francisco Lopes trabalhava
com um cronograma inicial de
mudança da política cambial apenas em fevereiro.
Em relatório entregue ao BC,
Cacciola atribui a arriscada aposta
no câmbio a previsões da Tendências Consultoria Integrada, segundo as quais o acordo do Brasil com
o FMI afastaria os rumores de desvalorização.
Antes da viagem a Brasília, Novaes trabalhou como diretor do
Marka no início da década. O consultor voltou a prestar serviços remunerados ao Marka depois da
moratória da Rússia, ocasião em
que teria apresentado Bragança a
Cacciola.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: BC é cliente da Macrométrica Índice
|