São Paulo, Sexta-feira, 23 de Abril de 1999
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MISTÉRIO EM ALAGOAS
Novos responsáveis pelo inquérito da morte de PC e da namorada não acreditam que ela tenha se matado
Delegados descartam a tese de suicídio

ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió


Os delegados Antônio Carlos Azevedo Lessa e Alcides Andrade de Alencar, responsáveis pelas novas investigações sobre a morte de Paulo César Farias e de sua namorada afirmaram ontem que "descartam totalmente" a hipótese do laudo oficial de que Suzana Marcolino suicidou-se.
Eles chegaram a essa conclusão após estudarem sete dias os dez volumes do inquérito sobre as mortes, ocorridas em 23 de junho de 96, na casa da praia de Guaxuma (litoral norte de Maceió) do ex-tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor.
"É ponto pacífico que Suzana foi executada. Agora estamos procurando provas para saber quem devemos indiciar pela morte dela", afirmou o delegado Alencar à Agência Folha, em uma reunião com o colega Antônio Lessa, na manhã de ontem na delegacia do 3º Distrito Policial de Maceió (AL).
Segundo o relato dos dois delegados, são duas as hipóteses a serem investigadas nos próximos dias:
1) Suzana matou PC e depois foi assassinada pelos seguranças da casa. "Hipótese que traz consigo a exigência de um mandante", afirma Antônio Lessa;
2) tanto PC quanto Suzana foram assassinados como parte de uma trama da qual os delegados ainda não possuem pistas nem há indícios nos autos.
Alencar e Lessa explicam que descartam a tese de homicídio seguido de suicídio pelos erros já confirmados na perícia coordenada pelo legista Fortunato Badan Palhares. Segundo eles, as fotos publicadas pela Folha deixam claro que Suzana era mais baixa que PC, portanto todo o trabalho de Badan Palhares tentando confirmar o suicídio fica "invalidado".
Os delegados citam também outros motivos para excluírem a possibilidade de suicídio de Suzana. Entre eles estão o sumiço do telefone celular que Suzana usou para fazer ligações na madrugada dos crimes para o dentista paulista Fernando Colleoni e a afirmação dos seguranças, do vigia e do casal de caseiros de que não ouviram os tiros. "As duas perícias afirmam que os tiros teriam que ser ouvidos. Então tem alguém escondendo alguma coisa no caso", afirmou Antônio Lessa.
Ainda segundo os delegados, no primeiro telefonema dado por Suzana para o dentista, ouve-se, segundo laudo de Ricardo Molina, na época Diretor do Departamento de Fonética Forense da Unicamp, uma voz masculina, que não foi identificada como sendo a de PC, e que diz: "Te arruma... Tamos esperando".
Na análise dos delegados, a voz não poderia ser de PC, até pela forma inculta das expressões. "Mesmo que o PC falasse errado, ele não diria "tamos esperando". Faria uma colocação no singular. Por isso estamos convictos de que teria alguém mais no quarto além deles dois", afirmou Andrade.
Para tentar esclarecer o caso, os delegados começam a interrogar na próxima segunda-feira todas as pessoas que passaram pela casa no dia anterior e no dia do crime.


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