São Paulo, Sexta-feira, 23 de Abril de 1999
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NO AR
Fadiga de guerra

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

Nos EUA, as redes abertas vêm perdendo feio dos canais de notícias, na guerra da Iugoslávia.
A maior derrotada é a CBS, cujo telejornal viu a audiência cair 15% desde o início do conflito. A CNN, um canal de cabo, cresceu 30%.
A CBS reagiu. Uma afiliada entrevistou Milosevic, em inglês. O líder iugoslavo atacou menos a Otan e mais a CNN. Disse que era a chance de contar a verdade à "audiência americana":
- São duas guerras contra a Iugoslávia. Uma é militar, a outra é a guerra de mídia, de propaganda... Nós vemos a CNN. Todos podem assistir a CNN o tempo todo. A CNN é paga para mentir.
E concluiu:
- Eu acredito que hoje a mídia é uma arma ainda mais perigosa do que as bombas e mísseis.

Nada mal, para o que também era, obviamente, parte da mais recente batalha na "guerra da mídia".
A batalha começou terça, quando a CNN, segundo o "New York Times", foi avisada pela Otan e saiu às pressas do prédio das emissoras de TV de Belgrado, a capital.
A Otan atacou horas depois. Tirou do ar três emissoras privadas iugoslavas, Pink, Wind e BK, e destruiu mais de cem episódios de "Os Simpsons", sem contar episódios inéditos de "Friends".
A réplica iugoslava foi a entrevista de Milosevic à CBS. A tréplica da Otan foi um ataque à residência, ou melhor, ao quarto de dormir de Milosevic, que rendeu imagens e manchetes até para os telejornais brasileiros.
No fim da tarde de ontem, Milosevic respondeu uma vez mais, com o anúncio por um enviado da Rússia, noticiado com má vontade pela CNN, de que a Iugoslávia aceitou uma força da ONU em Kosovo. Da ONU, não da Otan.

Essa interminável guerra de mídia começa a cansar a própria televisão.
A revista "Variety" já fala em "fadiga de guerra", menciona o massacre na escola de Denver e diz que CNN, CBS e demais estão todas em busca de outro assunto, qualquer um, para a vaga.
Depois de um mês, é uma chance para a paz.

E-mail: nelsonsa@folhasp.com.br


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