|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NO AR
Fadiga de guerra
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
Nos EUA, as redes abertas
vêm perdendo feio dos canais
de notícias, na guerra da Iugoslávia.
A maior derrotada é a CBS,
cujo telejornal viu a audiência
cair 15% desde o início do conflito. A CNN, um canal de cabo, cresceu 30%.
A CBS reagiu. Uma afiliada
entrevistou Milosevic, em inglês. O líder iugoslavo atacou
menos a Otan e mais a CNN.
Disse que era a chance de contar a verdade à "audiência
americana":
- São duas guerras contra a
Iugoslávia. Uma é militar, a
outra é a guerra de mídia, de
propaganda... Nós vemos a
CNN. Todos podem assistir a
CNN o tempo todo. A CNN é
paga para mentir.
E concluiu:
- Eu acredito que hoje a mídia é uma arma ainda mais
perigosa do que as bombas e
mísseis.
Nada mal, para o que também era, obviamente, parte da
mais recente batalha na
"guerra da mídia".
A batalha começou terça,
quando a CNN, segundo o
"New York Times", foi avisada
pela Otan e saiu às pressas do
prédio das emissoras de TV de
Belgrado, a capital.
A Otan atacou horas depois.
Tirou do ar três emissoras privadas iugoslavas, Pink, Wind
e BK, e destruiu mais de cem
episódios de "Os Simpsons",
sem contar episódios inéditos
de "Friends".
A réplica iugoslava foi a entrevista de Milosevic à CBS. A
tréplica da Otan foi um ataque
à residência, ou melhor, ao
quarto de dormir de Milosevic,
que rendeu imagens e manchetes até para os telejornais
brasileiros.
No fim da tarde de ontem,
Milosevic respondeu uma vez
mais, com o anúncio por um
enviado da Rússia, noticiado
com má vontade pela CNN, de
que a Iugoslávia aceitou uma
força da ONU em Kosovo. Da
ONU, não da Otan.
Essa interminável guerra de
mídia começa a cansar a própria televisão.
A revista "Variety" já fala
em "fadiga de guerra", menciona o massacre na escola de
Denver e diz que CNN, CBS e
demais estão todas em busca
de outro assunto, qualquer
um, para a vaga.
Depois de um mês, é uma
chance para a paz.
E-mail: nelsonsa@folhasp.com.br
Texto Anterior: Filhos serão ouvidos em AL Próximo Texto: Protesto foi tedioso, diz presidente Índice
|