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São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 2003

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PT X PT

Direção do partido espera, com a decisão, deslocar discussão dos problemas da legenda para o mérito da reforma

PT adia início do julgamento de radicais

DO PAINEL
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Direção Nacional do PT decidiu ontem adiar a primeira audiência da Comissão de Ética do partido que analisa processo disciplinar movido contra a senadora Heloísa Helena (AL) e contra os deputados federais Luciana Genro (RS) e João Batista Oliveira de Araújo, o Babá (PA).
Inicialmente marcada para este domingo, a reunião foi transferida para os dias 28 e 29 de junho. Ofício que divulgava o adiamento foi enviado por e-mail no final da tarde de ontem aos acusados.
Embora oficialmente o motivo da troca de datas seja o acúmulo de provas coletadas e a grande quantidade de testemunhas -até 36, se todos os envolvidos convocassem o número permitido de depoentes-, o objetivo real da alteração foi deslocar o foco do debate dos problemas da sigla para o mérito da reforma previdenciária.
O adiamento resultou de uma articulação entre o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), e o presidente nacional do PT, José Genoino. Mas a idéia, discutida ontem pela manhã em Brasília, foi oficializada à tarde, em São Paulo, depois de encontros de Genoino e de Sílvio Pereira, autor da representação contra os três parlamentares, com Danilo Camargo, presidente da Comissão de Ética.
O acordo foi respaldado pela cúpula do PT, inclusive pelo ministro José Dirceu (Casa Civil).
A avaliação na legenda era a de que a reunião geraria noticiário negativo em excesso para a sigla e para o governo no fim de semana.
Isso porque entre hoje e amanhã o PT promove um amplo seminário sobre a reforma da Previdência na Fundação Perseu Abramo, ligada à legenda.
Além disso, o fato de Luciana Genro e de João Fontes (SE) já terem sido punidos com o afastamento da bancada foi considerado um aviso para os demais do que poderia vir a seguir. A expectativa agora é a de que seja possível "baixar a poeira do caso", nos termos de um dirigente petista.
João Paulo Cunha se comprometeu a convencer os radicais a se manterem afastados de polêmicas na mídia. Segundo a Folha apurou, Babá já teria concordado com um tom mais moderado. Luciana Genro também será abordada por João Paulo.
Também vinha causando constrangimento à legenda o fato de figuras públicas como o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), o advogado Dalmo Dallari e o sociólogo Francisco de Oliveira terem se comprometido a testemunhar em defesa dos acusados.
Após as críticas duras de anteontem, ontem, em um claro sinal de distensão, Genoino voltou a afirmar que o partido está disposto a fazer um acordo.
"Ainda estamos abertos. Não faltará à executiva paciência para um acordo, desde que eles assumam o compromisso público de votar com o partido. A base do acordo é: podem fazer o que quiserem, mas votam conosco. E não podem xingar ministro."
Também em tom conciliador, Heloísa Helena disse ontem que aceitaria e compreenderia ser suspensa por seu partido por votar contrariamente à proposta de reforma previdenciária.
"Caso o PT feche questão por esta reforma, o que não está ainda garantido, porque tenho ainda esperança de mudar a posição do partido, o caminho normal e previsível seria a minha suspensão", afirmou a senadora. "Mas isso só depois de eu votar, não apenas em razão de minhas opiniões."
A senadora argumenta que o seu caso é análogo ao do ex-deputado federal Eduardo Jorge (SP), que, em 1996, desrespeitou determinação da bancada e votou a favor da criação da CPMF.
Ainda assim, ela reafirmou que não votará a favor da reforma. A senadora esteve ontem com Eduardo Suplicy, que recomendou a ela moderação nas críticas.
Apesar do adiamento da audiência, foi mantido para hoje o prazo final para a entrega da defesa escrita dos acusados.
A previsão, por enquanto, é que Sílvio Pereira, os três parlamentares e as testemunhas de acusação sejam ouvidos no dia 28. As testemunhas de defesa, mais numerosas, deverão depor no dia 29.


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