São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 2003 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GOVERNO X GOVERNO Presidente reclama das críticas de seu vice à decisão do BC de manter a taxa anual de juros em 26,5% Lula quer isolar Alencar do centro do poder
KENNEDY ALENCAR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá isolar cada vez mais o seu número 2, José Alencar, do centro das decisões do governo, especialmente das que se referirem à área do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho. A Folha apurou que Lula reclamou ontem ao ler nos jornais um novo ataque do vice ao BC (Banco Central). Alencar criticou a manutenção da taxa básica de juros em 26,5% ao ano, decisão tomada anteontem em meio a pressões de membros do próprio governo para que ela fosse diminuída. O ministro da Casa Civil, José Dirceu, também tem crticado Alencar nos bastidores. O tom de Dirceu é mais duro do que o de Lula, que, apesar das rusgas, gosta pessoalmente de Alencar, o que nunca escondeu. A Folha apurou que Dirceu disse a interlocutores que o vice foi quem mais pressionou o governo nos últimos dias e quem mais desgastou a política econômica, porque é uma voz cara a Lula. Ou seja, deu a impressão de enviar recados do presidente, quando não tinha tal atribuição. Segundo interlocutores, Lula disse que ele era o primeiro a querer a queda dos juros, mas que não podia pressionar Palocci e o Banco Central mais do que já vem fazendo. O presidente tem a promessa da área econômica de que em junho ou em julho haverá espaço para a queda dos juros. Apesar da negativa de Alencar, ele foi advertido anteontem por Lula, que lhe disse que suas críticas serviam ao "outro lado" (políticos, da oposição ao PT, e especuladores do mercado financeiro). Essa advertência foi feita com jeito porque Lula gosta do vice e deu-lhe liberdade para manifestar discordâncias. A manutenção das críticas mesmo após essa advertência, que um auxiliar diz ter sido feita com "carinho" pelo presidente, chateou Lula. No Planalto, diz-se que Alencar está se comportando como empresário, e não como político. Apesar da contrariedade, Lula não quis dar ares de crise ao comportamento de Alencar. O presidente avalia que a decisão do Copom (Conselho de Política Monetária) sobre os juros deixou claro que Palocci e Henrique Meirelles, presidente do BC, estão prestigiados. Ou seja, Alencar não tem peso nessa área. Apesar de ser chamado para diversos encontros com empresários e políticos, o vice não participa das reuniões do chamado "núcleo duro" do governo. Esse "núcleo duro" é composto exclusivamente por ministros e auxiliares petistas ligados a Lula. Funciona como uma espécie de comitê central que traça as grandes diretrizes do governo. Esse grupo está fechado com Palocci, que saiu fortalecido mais uma vez do bombardeio. Palocci x Alencar Anteontem, numa reunião com Lula, Alencar e pesos-pesados da indústria, Palocci virou-se para o presidente e disse, brincando: "Presidente, peça para o Zé Alencar parar de me bater!". Alencar respondeu: "Eu só falo bem de você!". E Palocci emendou: "Mas fale bem também da política econômica". Todos sorriram. Foi nessa reunião que Dirceu aparteou o vice-presidente, quando ele disse aos empresários, ao final do encontro, que era a favor da queda dos juros. "Os juros cairão no momento adequado", arrematou o ministro da Casa Civil, na frente de Lula, Alencar, Palocci e dos empresários. Texto Anterior: Risco-Nanquim Próximo Texto: Pela 1ª vez desde a posse, Lula não discursa em ato Índice |
|