São Paulo, Domingo, 23 de Maio de 1999
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SISTEMA FINANCEIRO
Queda da inflação provocou onda de quebradeira desde julho de 1995, quando o plano foi lançado
BC intervém em 191 instituições no Real

da Sucursal de Brasília

As quebras de instituições financeiras se intensificaram após a implantação do Plano Real, em julho de 1994. O Banco Central promoveu 191 intervenções em menos de cinco anos, o que significa, em média, uma a cada dez dias.
Com 51 intervenções, os bancos foram os mais atingidos pela onda de quebradeira provocada pela queda da inflação, aperto monetário e crises internacionais.
O Plano Real deu o primeiro aperto no sistema logo na sua implantação, em 1º de julho de 1994, quando obrigou os bancos a recolher ao BC, sem receber nenhuma remuneração, 100% dos novos depósitos à vista (em contas correntes). Antes, o depósito compulsório estava fixado em 48%.
Foi uma medida preventiva para evitar a explosão do crédito e consumo. A equipe econômica temia que, com o fim da inflação, aumentassem os depósitos à vista, e os bancos dirigissem esse dinheiro para financiar o consumo.
O aperto monetário foi relativamente eficaz para restringir o crédito, mas também feriu mortalmente pequenos bancos -os primeiros a cair depois do Real, com sete intervenções no segundo semestre de 1994.
Em dezembro daquele ano, a equipe econômica promoveu o primeiro afrouxamento no compulsório sobre os depósitos à vista, procurando evitar novas quebras.
A segunda leva de intervenções foi em 30 de dezembro de 1994, com três bancos estaduais: Banespa, Banerj e Banco de Desenvolvimento do Rio Grande do Norte.
De forma geral, as quebras de bancos estaduais decorriam de financiamentos concedidos a Estados, bem antes do Plano Real. Mas os problemas só começaram a aparecer mais claramente com o início da queda da inflação.

Ganhos fáceis
A inflação alta proporcionava ganhos relativamente fáceis para os bancos, pois corroía o valor dos depósitos à vista e promovia a transferência de recursos de clientes para instituições financeiras. Outros quatro bancos estaduais sofreram intervenções no primeiro semestre de 1995.
A crise do sistema financeiro começou a assumir proporções alarmantes em 11 de agosto de 1995, com a liquidação do Banco Econômico -o primeiro grande banco a cair depois do Plano Real.
Três meses depois, foi a vez do Nacional. Juntos, esses dois bancos tinham R$ 17,981 bilhões em passivos (depósitos de clientes e empréstimos tomados).
A quebra de bancos de grande porte motivou a criação do Proer (programa de socorro aos bancos), em novembro de 1995.
Após o Proer injetar R$ 21 bilhões no socorro de sete bancos, o número de intervenções diminuiu. Em 1997, o Bamerindus foi o último grande banco a quebrar, com um passivo de R$ 12,625 bilhões.
O número de intervenções teve seu pico no Plano Real, em 1995, quando 54 instituições fecharam suas portas. No ano seguinte, 1996, quebraram 23 bancos. O número subiu para 45 em 1997, mas somente porque a CPI dos Precatórios provocou o fechamento de 24 instituições. No ano passado o número de intervenções caiu para 18.


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