São Paulo, domingo, 23 de junho de 2002

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Lula culpa governo FHC pela crise financeira

DA REPORTAGEM LOCAL

Em discurso na tentativa de acalmar o nervosismo do mercado financeiro, o pré-candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou ontem que a saída da crise econômica "não poderá ser produto de decisões unilaterais do governo" e pregou uma transição "lúcida e criteriosa".
Durante a abertura de encontro que discutiu o programa de governo petista em São Paulo, Lula foi duro nas críticas à gestão econômica da administração de Fernando Henrique Cardoso.
"Por mais que o governo insista, o nervosismo do mercado e a especulação dos últimos dias não nascem das eleições. Nascem, sim, das graves vulnerabilidades estruturais da economia apresentadas pelo governo, de modo totalitário, como o único caminho possível para o Brasil", disse Lula, durante leitura do que chamou de "Carta ao Povo Brasileiro".
O texto de três páginas e meia foi confeccionado na tentativa de reafirmar o compromisso do petista com o cumprimento dos contratos se eleito. Ou seja, rejeitou a hipótese de calote, temida pelo mercado.
"Poderemos recuperar a capacidade de investimento público tão importante para alavancar o crescimento econômico. Esse é o melhor caminho para que os contratos sejam honrados e o país recupere a liberdade de sua política econômica, orientada para o desenvolvimento sustentável."
O petista tentou em seu pronunciamento rebater as principais acusações contra sua candidatura vindas de membros do governo tucano. "Ninguém precisa me ensinar a importância do controle da inflação. Iniciei minha vida sindical indignado com o processo de corrosão do poder de compra dos salários."
Lula acusou o BC de "acumular um conjunto de equívocos" na condução da política econômica. "Investidores não-especulativos, que precisam de horizontes claros, ficaram intranquilos. E os especuladores saíram à luz do dia para pescar em águas turvas."
"O atual governo estabeleceu um equilíbrio fiscal precário no país, criando dificuldades para a retomada do crescimento. Com a política de sobrevalorização artificial da moeda no primeiro mandato e com a ausência de políticas industriais de estímulo à capacidade produtiva, o governo não trabalhou como podia para aumentar a competitividade da economia", acusou.

Atraso
Lula iniciou seu discurso com quase três horas de atraso. Passou a manhã dando os últimos retoques em sua fala, assistida pelos principais economistas e dirigentes do partido.
A informação de que o secretário do Tesouro dos EUA, Paul O'neill, havia recuado de suas afirmações de anteontem, quando declarou que os norte-americanos não concordam em conceder novos empréstimos ao Brasil por meio do FMI, tornaram desnecessária qualquer reação direta do petista.
"Nossa política externa deve ser orientada para esse imenso desafio de promover nossos interesses comercias e remover grandes obstáculos impostos pelos países mais ricos às nações em desenvolvimento", afirmou o petista, em forma de um recado indireto ao governo de George Bush.
Antes de ler a carta, Lula brincou com os óculos que pegara do deputado Aloizio Mercadante.



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