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MEMÓRIA
No domingo, o ex-governador ainda negociava aliança nacional do partido com o PMDB para as eleições municipais deste ano
Sem Brizola, PDT pode voltar a apoiar Lula
DA SUCURSAL DO RIO
A morte de Leonel Brizola, que
até anteontem ainda era o presidente nacional do PDT, pode levar a maior parte da bancada federal do partido de volta à base de
apoio do governo Luiz Inácio Lula
da Silva e causar o esfacelamento
do poder interno em uma legenda
identificada com o caudilhismo.
Por pressão do ex-governador
do Rio e do Rio Grande do Sul, a
Executiva Nacional do PDT aprovou em dezembro de 2003 o rompimento com o presidente petista.
A bancada pedetista havia votado
a favor do governo no início das
reformas previdenciária e tributária e assim pretendia continuar.
A decisão de Brizola obrigou a
saída do então ministro das Comunicações, Miro Teixeira, representante do partido no governo federal. Descontente, Miro
desfiliou-se da legenda. O então
líder da bancada do PDT na Câmara dos Deputados, Neiva Moreira (MA), leu documento em
que mostrava contrariedade em
votar contra as propostas de Lula
e atribuía a decisão a Brizola.
Nos últimos meses, o ex-governador havia se aproximado do
presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), e do
presidente do PSDB, o ex-ministro José Serra. Estiveram reunidos
para articular a oposição a Lula.
Ontem, no velório, Bornhausen
abraçou Carlos Luppi, vice-presidente nacional do PDT e provável
sucessor de Brizola no comando
do partido, e afirmou: "Espero
que continuemos juntos". Recebeu um aceno positivo de Luppi.
No último domingo à noite, Brizola havia se reunido por três horas com a governadora do Rio,
Rosinha Matheus (PMDB), e o secretário de Segurança Pública do
Estado, Anthony Garotinho, no
apartamento do pedetista em Copacabana, na zona sul do Rio.
Segundo o relato de Garotinho,
eles trataram de uma aliança nacional que permitisse que o PDT e
o PMDB formassem uma força alternativa às do PT e do PSDB.
Esse acordo passaria por alianças entre os candidatos a prefeito
dos dois partidos no Rio, em São
Paulo, em Porto Alegre e em Salvador, já nas eleições deste ano.
No Rio e em Salvador, os pedetistas encabeçariam a chapa da
aliança PDT-PMDB, com Brizola
e João Henrique Carneiro, respectivamente. Em São Paulo e em
Porto Alegre, as cabeças de chapa
ficariam com os peemedebistas
Michel Temer e José Fogaça.
Segundo Garotinho, a discussão
envolvia não apenas uma aliança
para ao pleito municipal, mas
também com vistas à próxima
eleição presidencial, em 2006.
O presidente nacional do
PMDB, deputado Michel Temer
(SP), disse ontem que Garotinho
lhe telefonou pedindo que ligasse
para Brizola, o que ele fez anteontem. Mas o pedetista já havia saído para o hospital, e, por isso, os
dois não chegaram a conversar.
Temer afirmou que a morte de
Brizola ""dificulta bastante" a articulação dos dois partidos para as
eleições municipais de outubro.
O sindicalista Paulo Pereira da
Silva, o Paulinho, pré-candidato
do PDT em São Paulo, já descartava ontem a possibilidade de que a
aliança venha a se concretizar.
"Estamos numa boa relação
com o PMDB, mas não para fazermos uma aliança nesta eleição.
Devem acontecer alguns entendimentos locais, mas a discussão
para uma aliança nacional é para
depois", declarou o sindicalista.
"Uma das condições para a aliança nacional era o apoio do PMDB
à candidatura de Brizola no Rio.
Com a morte dele, essa discussão
não existe mais", acrescentou.
Esse é um exemplo da fragmentação do poder no PDT gerada
pela morte do ex-governador. Caciques regionais devem ocupar o
espaço deixado por seu maior líder, até internamente apelidado
de "caudilho", que é uma palavra
de origem espanhola utilizada para designar o chefe militar de forças dispersas que lhe são fiéis.
Controlador, Brizola foi padrinho e depois adversário de uma
geração de políticos do Rio que
começou no PDT e, mais tarde,
divergiu do líder. Entre eles estão
Roberto Saturnino Braga, os ex-governadores do Estado Marcello
Alencar e Garotinho e o prefeito
da capital, Cesar Maia (PFL).
Na avaliação do vice-presidente
nacional do PDT, dos 111 fundadores originais do partido -que
completou 25 anos em 17 de junho-, no máximo 25 acompanharam Brizola até a sua morte.
(PLÍNIO FRAGA E ELVIRA LOBATO)
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