São Paulo, quinta-feira, 23 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/O PUBLICITÁRIO

Fernanda Somaggio diz que os dois usavam o avião do banco quando "precisavam"

Ex-secretária volta a ligar Delúbio ao Rural e Valério

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

A ex-secretária de Marcos Valério Fernandes de Souza na SMPB Comunicação Fernanda Karina Ramos Somaggio, 32, disse ontem que era ela quem fazia as ligações para a secretária de José Augusto Dumont, então vice-presidente do Banco Rural e já morto, sempre que o seu ex-patrão precisava usar o avião daquela instituição financeira.
Somaggio, que trabalhou na agência de abril de 2003 a janeiro de 2004 e é processada por Valério por tentativa de extorsão, disse ontem em entrevista não se lembrar do nome da secretária com a qual falava, mas afirmou que era por meio delas que o contato entre Valério e Dumont era estabelecido. "Na época, eu conversava com a secretária do doutor Dumont."
Ela afirmou que foram "várias as vezes" em que Valério usou o avião do Rural, e disse que Delúbio Soares, o tesoureiro do PT, também já usou a aeronave junto com Valério. "O Banco Rural sempre disponibilizava o avião para quando eles precisassem."
Era por meio do Banco Rural, principalmente, de acordo com Somaggio, que saíam "malas de dinheiro" para "políticos em Brasília". Ela disse que os acertos para saques no Rural eram feitos pela gerência financeira da SMP&B e também por Valério. Disse que isso não passava por ela. "Várias vezes, quando [Valério] precisava de dinheiro, falava diretamente com a diretoria do banco."
Somaggio não fala mais em valores, como fizera na entrevista para a "IstoÉ Dinheiro", quando chegou a citar um saque de R$ 1 milhão. "Eu estava muito nervosa, sob pressão muito grande [ao falar com a revista]. Eu sei que existia [dinheiro na mala], mas não sei os valores."
Sobre as idas dos "boys e motoqueiros" ao Banco Rural e Banco do Brasil para buscar dinheiro, ela afirmou: "As pessoas do departamento financeiro [da SMP&B] falavam que na mala tinha dinheiro. Não falavam o valor".
Ela disse que era Valério "quem levava o dinheiro para Brasília". "Era para político, porque [Valério] sempre estava conversando com político", disse, acrescentando que ele sempre ia ao Congresso e "sempre conversava com senadores e deputados".
Somaggio afirmou também que Delúbio era o principal interlocutor dele. "Eles conversavam sempre, quase todos os dias da semana." Sobre contatos com o então ministro José Dirceu (Casa Civil), ela disse: "A secretária do Delúbio ligava e pedia para avisar ao Marcos para ligar para o Delúbio que ele tem recado do José Dirceu".
Depois, citou conversas via celular entre Dirceu e Valério. "Conversavam sempre em Brasília, nunca os vi juntos. O ministro ligava para o celular do Marcos", disse. Ela falou em contatos com Sílvio Pereira, secretário-geral do PT, e com o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT).
Somaggio afirma que a SMP&B já sabia que venceria a licitação para fazer a publicidade dos Correios, e que, "no final de 2003 foi feita uma festa" na agência para comemorar a vitória antes de o resultado ser divulgado.
Anteontem, ela voltou à Polícia Federal para novo depoimento. Na semana passada, ela negou na PF tudo isso, pois alegou ter sido ameaçada por um "motoqueiro". Após contratar um novo advogado, o criminalista Rui Pimenta, decidiu confirmar.
Sobre a suposta "extorsão", ela negou a denúncia. Seu advogado tenta agora o "trancamento da ação", pois alega que a denúncia ocorreu por "suposições". Sommagio pediu proteção à PF.


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