São Paulo, quinta-feira, 23 de junho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/O ALIADO

Presidente do partido diz que o custo foi de uns "R$ 300 mil, R$ 400 mil", e incluiu desde a esteira ergométrica ao chinelo

PL bancou mobília da casa de Valdemar

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Da esteira ergométrica ao armário de R$ 4.000, o Partido Liberal bancou a montagem da casa de seu presidente, o deputado federal Valdemar Costa Neto (SP), em Brasília. Segundo admite o próprio Valdemar, o custo foi de uns "R$ 300 mil, R$ 400 mil", e incluiu peças de porcelana, faqueiro, roupão, cabide e até chinelo.
"Não só a esteira ergométrica. A bicicleta estática também. Tudo com dinheiro da conta de doações ao partido", confirmou Valdemar, questionado sobre gastos de R$ 9.200,00 com a esteira.
Segundo Valdemar, o uso das doações dos parlamentares e do vice-presidente, José Alencar, na decoração de sua casa é legal, "não envolve recursos públicos" e "foi declarado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE)". O gasto -que contempla o aluguel do imóvel- se justifica, segundo ele, pelas atividades que desempenha. "Recebo cem pessoas para almoçar em casa", alega o deputado.
Ao falar das despesas com a casa, ele só reconhece uma falha: o de gravar suas iniciais nos cabides. "Aí, está errado. Mas não fui eu. Foi ela que mandou gravar", argumentou o presidente do PL.
Valdemar se refere à ex-mulher Maria Christina Mendes Caldeira, com que protagoniza um ruidoso processo de separação. Segundo ela costuma contar, foram gastos R$ 3.000 em cabides. Foi Maria Christina quem decorou a casa.

Leilão
Em novembro de 2003, gastou mais de R$ 19 mil em compras na Casa Amarela, especializada em leilões. Lá, arrematou, por exemplo, um par de postiches (vasos de porcelana) a R$ 300,00 para que servissem de base para abajur. Três telas somaram R$ 1.800,00.
Maria Christina também comprou uma mesa de jantar no estilo inglês. Como a casa funciona como um leilão informal (os interessados fazem propostas para peças em exposição permanente), Maria Christna avisou à leloeira Silvia de Souza que ela seria procurada para o pagamento das despesas. "Recebi um telefonema do partido, pedindo que as notas fossem emitidas em nome do PL", lembra Silvia, acrescentando que o pagamento foi feito em três vezes sem juros. "Ela [Maria Christina] disse que o marido fazia muitas recepções", conta a leiloeira.
Um caminhão alugado pelo partido levou às peças dos Jardins à capital federal. O próprio Valdemar usou as notas fiscais para sustentar uma queixa-crime contra Maria Christina, a quem acusa de ter levado "70% dos móveis da casa", na separação. Para justificar o pedido de busca e apreensão, Valdemar apresentou as notas fiscais em nome do partido acompanhadas de fotografias.
No auge da crise, Maria Christina reagiu, alegando que Valdemar usou fotos de peças que eram suas antes do casamento -como de pratarias- para comprovar notas apresentadas ao Tribunal Superior Eleitoral.
Nesse caso, ele teria usado as notas para justificar gastos inexistentes.Valdemar chama a ex de mentirosa. "Tudo mentira. As poucas coisas que eram dela ela levou. E mais o patrimônio do partido. Por isso, entrei com pedido de busca e apreensão", diz ele, referindo-se à origem do processo em curso. Procurada pela Folha, Maria Christina -acusada por Valdemar Costa Neto de tentativa de extorsão de R$ 900 mil- não quis se manifestar, limitando-se a dizer "que cumpriu seu papel de cidadã" e que só se manifestou para não acharem que ela compactuou com "isso tudo que está acontecendo".
Valdemar, por sua vez, frisou que o dinheiro não saiu do fundo partidário, mas da contribuição dos parlamentares. Cada um destina 10% do salário ao partido. São R$ 60 mil por mês. "Nunca errei com verba pública. Se eu errar, tenho que renunciar."


Texto Anterior: Petebista é de novo chamado para acareação
Próximo Texto: Polícia suspeita que agressão a equipe de TV foi realizada por sindicalistas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.