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REFORMA SOB PRESSÃO
Temendo impasse, ministro da Casa Civil defende maior atenção a reivindicações de governadores
Reunião expõe divisão entre Dirceu e Palocci
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os ministros José Dirceu (Casa
Civil) e Antonio Palocci Filho (Fazenda) têm visões diferentes sobre a negociação das reformas em
tramitação no Congresso. É o que
ficou evidente para o grupo de governadores que esteve ontem no
Palácio do Planalto para discutir
mudanças na reforma tributária.
Dirceu, segundo os governadores, foi bem mais flexível com os
interesses dos Estados do que seu
colega da Fazenda. O chefe da Casa Civil, segundo presentes, teme
que um eventual impasse na negociação contamine a votação das
reformas como um todo.
Palocci, por seu turno, escudou-se, segundo os governadores, na
"discussão técnica" e deixou claro
que teme a reação dos mercados a
um eventual novo recuo do governo na negociação das reformas, como ocorreu com a reforma da Previdência.
A diferença na posição dos dois
ministros foi detectada já na negociação da reforma previdenciária: Dirceu estimulou concessões
que foram condenadas por Palocci. E ficaram mais evidentes na
pressão atualmente exercida pelos governadores por maior participação nas receitas da União. Os
governadores reivindicam parte
da arrecadação da Cide -contribuição sobre a venda de combustíveis- e da CPMF -sobre movimentação financeira.
Em uma reunião no Planalto,
segundo fontes ouvidas pela Folha, Palocci queixou-se de que toda vez que participa de reunião
com governadores a União perde
receita. Dirceu teria reclamado
ostensivamente da postura do ministro da Fazenda.
Coordenador político do governo, o chefe da Casa Civil estaria
avaliando ser melhor ceder alguma coisa agora do que deixar o
governo correr o risco de perder
alguma votação. Risco que governadores disseram a ele ser real.
Dirceu também estaria convencido de que os governadores tentarão diretamente no Congresso
arrancar as concessões que o Planalto não fizer, o que poderia levar a votação da reforma tributária ao mesmo jogo de soma zero
das vezes anteriores em que foi
discutida no Congresso.
Para a Casa Civil, a falta de um
acordo também poderia comprometer o pacto firmado entre o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os governadores para a aprovação das reformas.
Na reunião, o presidente disse
que pretende manter o pacto, mas
não causou muito entusiasmo. Os
governadores reclamam que o
Planalto os procura quando precisa aprovar medidas impopulares na reforma da Previdência,
mas os deixa à míngua quando se
trata de discutir os interesses dos
governos estaduais.
Na reunião realizada só com
Dirceu e os governadores, Palocci
foi mais inflexível com as reivindicações dos Estados. À tarde, na
presença do presidente, procurou
oferecer elementos para a arbitragem de Lula.
Os governadores deixaram o
Planalto convencidos de que ganharam em Dirceu um aliado para sua causa.
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