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CASO CC-5
Gustavo Franco diz, ao depor na CPI do Banestado, que teve respaldo legal para autorizar bancos a operar contas
Ex-presidente do BC depõe e rebate acusação
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ex-presidente do BC (Banco
Central) Gustavo Franco disse
ontem, em depoimento à CPI do
Banestado, ter respaldo legal para
autorizar cinco bancos de Foz do
Iguaçu, entre eles a instituição paranaense, a operar contas CC-5
(para não-residentes) sob regras
especiais -receber depósitos em
espécie superiores a R$ 10 mil, a
regra para todo o mercado.
Em um depoimento de dez horas, Franco rebateu deputados e
senadores que o acusaram de ter
gerado prejuízos para o país, já
que, com as exceções, houve evasão de divisas em movimentações
cuja soma, entre 1996 e 1999, pode
chegar a US$ 30 bilhões somente
por intermédio do Banestado.
Então diretor da área internacional do BC, Franco exibiu o documento que lhe teria dado a base
legal: um voto, que apresentou
em reunião de diretoria em abril
de 1996, no qual ficaria facultado
ao Departamento de Câmbio do
BC, com sua autorização, conceder regras especiais para operações via CC-5.
Auditoria do TCU (Tribunal de
Contas da União) sobre o caso
acusa Franco de ter tomado sozinho uma medida decisiva para
operações que levaram à evasão
de divisas. Multado em R$ 20.500,
Franco recorreu da decisão.
Da mesma forma que técnicos
do BC haviam feito há duas semanas, Franco justificou a concessão
de regras especiais como uma
medida para deter a pressão sobre
o câmbio gerada pela demanda de
dólares, em Foz do Iguaçu, por sacoleiras que atravessam a fronteira para comprar em Ciudad del
Este (Paraguai).
Trajeto do dinheiro
Tais exceções permitiram que
bancos paraguaios depositassem,
em Foz do Iguaçu, os reais que recebiam de comerciantes em Ciudad del Este. O dinheiro era depositado em contas CC-5, de onde
poderia ser remetido em dólares
para outros países -e acabou,
em boa parte, depositado na
agência do Banestado de Nova
York, de onde migrou para paraísos fiscais.
"É importante deixar claro que
não é o BC que está no banco dos
réus. Tínhamos um problema
muito difícil para resolver. Não
havia solução mágica. Fizemos o
melhor que pudemos", declarou.
Nas regras excepcionais estabelecidas por Franco, caberia à Receita Federal fiscalizar se o dinheiro depositado no Brasil realmente
vinha do Paraguai. Essa fiscalização, segundo a própria Receita,
nunca aconteceu. E o BC foi notificado disso. Deve haver uma acareação entre os dois órgãos.
"A explicação técnica [de Gustavo Franco] não convenceu. Está
constatado que o sistema é precário, inconsistente e que não houve
fiscalização", declarou o relator
da CPI, deputado federal José
Mentor (PT-SP).
Perícia
O deputado Moroni Torgan
(PFL-CE) requisitará perícia no
documento utilizado por Franco
para sustentar à CPI a legalidade
das regras especiais.
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), elogiou o depoimento de Franco, que esteve à
frente do BC até janeiro de 1999.
Virgílio apresentou requerimento convocando para depoimento o presidente do Bank Boston, Geraldo Carbone. "Tenho recebido denúncias de que o banco,
que já foi chefiado pelo atual presidente do BC [Henrique Meirelles, até outubro de 1996], estaria
envolvido em operações de lavagem", declarou.
Por meio de sua assessoria de
imprensa, o Bank Boston informou que, no início da noite de ontem, ainda não tinha nenhuma informação oficial sobre o requerimento de Virgílio.
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