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Funcionário do Senado advogou para Sarney
Lotado no gabinete de aliado do peemedebista, advogado atuou em Macapá na reeleição do presidente da Casa, em 2006
Assessoria de senador diz que caso já foi julgado pela Justiça Eleitoral e que não há irregularidades; advogado estaria em férias na eleição
RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A MACAPÁ
Por dois meses da campanha
eleitoral que o reelegeu, em
2006, o presidente do Senado,
José Sarney (PMDB-AP), foi
defendido por um advogado do
quadro efetivo do Senado, lotado no gabinete do senador Gilvam Borges (PMDB-AP), afilhado político de Sarney.
O advogado Fernando Aurélio de Azevedo Aquino, funcionário do Senado desde 1992 e
com registro da OAB do Distrito Federal, viajou a Macapá na
campanha. Atuou no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) em
pelo menos 99 reclamações em
favor de Sarney e da coligação
que apoiou o senador e o governador Waldez Góes (PDT).
A maioria das reclamações
girou em torno de notas e comentários postados em blogs e
em colunas da imprensa de Macapá que Sarney julgou ofensivas à sua honra. Obteve inúmeras condenações. Dois jornalistas disseram à Folha dever R$ 1
milhão em multas ao TRE.
A assessoria do senador Gilvam disse que o advogado estava em férias e, assim, poderia
advogar em nome da coligação
do Amapá. Disse que não houve irregularidade na atuação e
que a Justiça Eleitoral já reconheceu a licitude do trabalho.
As férias foram concedidas
pela direção do Senado por 50
dias, de 14 de agosto a 2 de outubro de 2006, o que coincide
com o período eleitoral.
Uma pesquisa feita pela oposição em Macapá, contudo, revelou que o advogado havia feito representações e uma sustentação oral, no TRE do Amapá, antes de 14 de agosto.
Em resposta, o suplente de
Gilvam, seu irmão Geovani
(PMDB-AP), assinou declaração segundo a qual o advogado
estava a seu serviço em Macapá
entre 10 e 11 de agosto, e que
sua atuação no TRE ocorreu
"após o expediente". Segundo
Geovani, Azevedo entrava às
7h no "escritório parlamentar"
do senador, de onde saía às 15h.
De lá, seguia para o TRE.
Conforme a declaração assinada por Geovani, a função de
Azevedo em Macapá foi a seguinte: "Aperfeiçoar a estruturação [do escritório], a fim de
que a comunicação, transferência de informações, dados e
notícias, entre meu gabinete e
o aludido escritório parlamentar pudessem ser realizadas de
maneira a proporcionar uma
melhor prestação de contas de
minhas atividades parlamentares" aos eleitores do Amapá.
O assunto rendeu uma reclamação da coligação derrotada,
liderada por João Capiberibe
(PSB), que sofreu um revés no
TRE e chegou ao Tribunal Superior Eleitoral. O caso foi arquivado no TSE no último dia
2, por deficiências no recurso.
Em nota enviada à Folha, a
assessoria de Sarney afirmou:
"[O advogado] estava de licença e foi contratado pelo PMDB
do Amapá, não pela candidatura de José Sarney. Este caso já
foi julgado favoravelmente pelo TRE do Amapá e pelo TSE".
A campanha de Sarney nada
pagou ao advogado. A Folha
também não localizou no TSE
pagamento feito pela coligação.
Três anos depois, pelo menos quatro jornalistas do Amapá ainda enfrentam problemas
na Justiça Eleitoral. A blogueira Alcinéa Maria Cavalcante
Costa disse que o valor das
multas às quais foi condenada
no TRE atinge R$ 1 milhão.
Alcinéa afirmou que as condenações ocorreram por conta
de comentários postados por
internautas em seu blog. Para a
defesa do senador, os comentários configuraram "propaganda eleitoral". A blogueira disse
que em 2006 Sarney lhe procurou, por meio de Gilvam Borges, para propor um acordo.
Ela deveria parar de criticar o
senador; em troca, Sarney retiraria todos os processos. Ela
disse não ter aceitado o acordo.
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