São Paulo, sábado, 23 de agosto de 1997.



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QUESTÃO INDÍGENA
Corubos são chamados de 'caceteiros' e considerados agressivos
Índios matam funcionário da Funai a pauladas no AM

ESTANISLAU MARIA
da Agência Folha, em Belém

O funcionário da Funai Raimundo Batista Magalhães, 42, foi morto na manhã de ontem a pauladas pelos índios corubos dentro da reserva indígena em Atalaia do Norte, no oeste do Amazonas, próximo à fronteira com o Peru.
O primeiro contato da Funai (Fundação Nacional do Índio) com os corubos, grupo isolado muito agressivo, foi feito no ano passado. Esses índios não usam arco e flecha. Por atacar com uma espécie de porrete, são conhecidos por índios "caceteiros".
No ano passado, a Funai manteve alguns contatos com os corubos, sem incidentes, mas teve relatos da morte de madeireiros em confronto com os índios.
Magalhães era auxiliar de sertanista no posto avançado da Funai de Tabatinga (1.100 km a oeste de Manaus) e, segundo funcionários do posto, participava de uma equipe que levava objetos, miçangas e frutas para os índios.
O chefe da Divisão de Apoio em Tabatinga, Valdez Marinho Lima, disse que três funcionários chegaram de barco à aldeia pela manhã.
"Há dez pessoas que trabalham com os índios isolados (que têm pouco ou nenhum contato com o homem branco). Não temos detalhes, mas estamos investigando."

Ataque
Segundo Lima, os índios atacaram quando os funcionários desciam do barco, que havia acabado de chegar à aldeia. Magalhães foi o primeiro a descer e não conseguiu escapar dos golpes de porrete.
Os outros funcionários fugiram e conseguiram sair com o barco. O nome deles não foi divulgado. O chefe da divisão disse que a Funai desconhece os motivos do ataque.
O corpo de Magalhães, resgatado pela Funai, foi levado para Tabatinga. O posto avançado da cidade é responsável pelo contato com os índios isolados na região. A aldeia dos corubos fica a 140 km da cidade. O acesso é por barco, e a viagem dura cerca de quatro horas.
Segundo a Funai, também na Amazônia, existem ianomâmis que usam instrumentos de pedra, como machados.
Os grupos isolados costumam resistir à aproximação e se defendem com violência. O contato com esses grupos segue o modelo clássico da troca de presentes. A retribuição da oferta é sinal de que o contato é desejado. Era isso que os funcionários faziam ontem.
O contato é considerado estabelecido depois que os sertanistas são convidados a conhecer o local onde moram os índios. Segundo sertanistas, o primeiro contato é tenso e podem ocorrer ataques.
O presidente da Funai, Sulivan Silvestre, que assumiu o cargo anteontem, afirmou que foi pego de surpresa pela notícia. Ele disse que Sidney Possuelo, responsável pela Coordenadoria de Índios Isolados, viajou para Atalaia do Norte para investigar o crime.
Um avião da Funai foi deslocado para a cidade para fazer o traslado do corpo. A família de Magalhães já foi avisada pela Funai.


Colaborou a Sucursal de Brasília


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